terça-feira, 2 de maio de 2017

                          


                          É FATO



É fato que se pode amar, doar-se, 
fazer de tudo para que as coisas deem certo, 
e às vezes nem assim funcionem. 

É fato que erros e imperfeições, inerentes a cada um, 
acabam por sabotar os esforços, 
e até mesmo se sobrepor a tudo de bom
que tenha acontecido, que se tenha feito. 

É fato que quando o todo é tomado por um episódio 
isolado,
nem sempre é possível contornar, 
impedir que as coisas desandem.

É fato que, quando o conjunto da obra é comprometido
por um acorde fora de tom, 
antecedentes manchados por algum tropeço esporádico, 
os resquícios de desconfiança e dúvidas 
sempre acabam vindo à tona, falando mais alto.

Pode-se eventualmente até desculpar, relevar, 
mas esquecer, jamais. 
E o que parecia uma fortaleza indevassável, 
de repente não passa de um frágil castelo de areia.
De fato, é fato. 






    

segunda-feira, 1 de maio de 2017





                          EXISTO, LOGO PENSO
                       
                         





Existo, logo penso na trágica sina de sofrimento, morte e destruição que a humanidade se auto-inflige.

Existo, logo penso nos conflitos seculares, hegemônicos, étnico-raciais que persistem, sem qualquer sinal de apaziguamento.

Existo, logo penso nas milhares de pessoas que tombam nas guerrilhas urbanas, ensejadas pelo flagelo das drogas, e cujo combate tem sido inútil, em função da crescente demanda.

Existo, logo penso no eterno drama dos excluídos, exilados, discriminados, perseguidos e abandonados de toda natureza.

Existo, logo penso na miséria e desamparo que predomina em quase todos os cantos do mundo, ao mesmo tempo em que bilhões são roubados, desviados, sonegados por governantes inescrupulosos e desonestos. 

Existo, logo penso nos injustiçados pelas capciosas leis dos homens, invariavelmente norteadas pelo famigerado princípio de dois pesos e duas medidas.
Existo, logo penso nos doentes, nos inválidos, e deficientes físicos, em sua luta desigual e titânica pelos direitos mais elementares.

Existo, logo penso nos genocídios ignominiosos, nos povos expulsos à força de suas terras, sem direito a nada, relegados à própria sorte.
Existo, logo penso nas crianças que nascem e crescem em meio a lares destroçados, ao martírio das bombas, execuções sumárias e à rotina de imolações promovidos por ditadores sanguinários e assassinos da pior espécie, que distorcem os cânones religiosos para justificar seus dantescos propósitos.

Existo, logo penso na destruição sistemática e inexorável imposta ao planeta, por insensibilidade, ignorância, e principalmente, ganância e descaso com as evidentes alterações climáticas, evidente no colapso de eco-sistemas vitais da natureza. 

Existo, logo penso no futuro desse mundo em que o belo e o insano se confundem e convivem aos trancos e barrancos.

Existo, logo penso que não obstante o dom da inteligência, a humanidade continua ignorando os prenúncios e avisos de estar cavando seu próprio fim. 

Penso, logo existo. Mas de entender tanta insânia, desisto. 



          






               imanência
                   



Nada é o que parece. 
Nada em que se possa confiar. 
Nada é duradouro. 
Nada que não possa mudar 
num piscar de olhos.

Nada é o que aparenta.
Relações, sentimentos, compromissos,
laços de amor e amizade.
Nada que qualquer deslize ou o próprio tempo,
não acabem por macular, ou destruir.

Ninguém é o que pensamos ser. 
Muito menos o que idealizamos.
Na vida, como nos relacionamentos, não há 
porto seguro, 
salvo- conduto, bilhete de loteria premiado.
Ninguém está livre de deslizes. Infortúnios. 
Os quais, quando não são os outros, você 
mesmo se inflige.
E que são os piores. 

Nada é como imaginamos.
A vida vivida sempre é diferente da sonhada.
Quando parece pouco, geralmente é muito.
Quando parece muito, geralmente é pouco.
Tudo o que se faz presente demora.
Fiel à imanência dos desastres.


















sábado, 29 de abril de 2017




                            A TRAMA 
            
                 


A vida rouba tudo da gente.
Cobra caro por tudo, concedido ou obtido.
Sonhos e esperanças tolhidos na juventude. 
Saúde e dignidade ceifados na velhice. 
Não obstante, tudo se cumpre em perfeita harmonia
e encadeamento.
Finda a trama, o homem morre sem saber quem é.
Perverso e sem culpa.










quarta-feira, 26 de abril de 2017


RIO JACUÍ, PESCARIAS INESQUECÍVEIS


                                                      PESCARIA


Adorava pescar com meu pai no rio Jacuí, num trecho entre Agudo e Dona Francisca, no interiorzão gaúcho. Ele talvez nem tanto, dizia que de tão tagarela, eu espantava os peixes... Mas troça mesmo ele fazia quando minha linha de pesca embaraçava, fazendo uma maçaroca que mais parecia uma rede. Coisa de principiante, por mais cuidado que eu tomasse, era só acumular um pouco de água no fundo da canoa e me via a desperdiçar um tempo precioso para desfazer o emaranhado que sempre se formava.
O que certa vez levou meu tio Gunter, gozador emérito, a comentar em alemão, idioma que toda família falava, inclusive eu : leute, wollen sie fischernetz ? - "gente, ele está querendo pescar de rede...", ou algo parecido, seguido de uma gostosa gargalhada que ecoou por todo rio. 
Mas nada que me chateasse, mesmo em relação a maldita linha que vivia embaraçando, e que em última caso, na surdina, me levava a apelar para o recurso extremo que o pescador veterano mais abomina : passar a faca na parte embaraçada. O que equivalia a comprometer todo o rolo, devido aos nós que tendiam a romper no caso de algum peixe maior morder a isca. Sem falar que os caroços das emendas costumavam resultar em maçarocas ainda piores . Daí que, como dá para perceber, nunca cheguei a ser um pescador de mão cheia, como meu velho, que tinha a chamada manha e uma técnica que me fascinava.


Sabia só de olhar o fluxo das águas, por exemplo, o lugar exato para poitear. "Pode largar (a poita) aqui, mas devagar para não assustar os peixes", dizia ele, na calma de sempre, cedendo a minha insistência, mesmo rapazola, para lançar a tal poita, que vinha a ser uma pedra enorme, de uns dez quilos pelo menos. Com a canoa devidamente ancorada e estabilizada, era só uma questão de tempo para ele encher os viveiros de pintados, jundiás, e esporádicas piavas e dourados, já então troféus cada vez mais raros. 

Atento à tudo, eu acompanhava, embevecido, sua técnica infalível. A minhoca ainda viva, espetada no anzol de modo a não aparecer nadinha do metal, seguindo do lançamento perfeito, como se fosse uma boleadeira, a 20 ou 30 metros de distância. Movimentos que pareciam simples e descomplicados, mas que não obstante meu esforço para imitá-lo, raramente conseguia. Ou a bosta da linha embaraçava, ou o arremesso não ia além de alguns metros, por falta de força e traquejo. 
Vexame ainda maior era quando, inadvertidamente, pisava na linha, e o anzol, com o sobrepeso da chumbada, ricocheteava a ponto de quase nos atingir. 
Trapalhadas que meu pai não achava nada engraçado, mas que não chegavam a ser motivo de irritação. O máximo que fazia era comentar que da próxima vez eu deveria pescar de caniço, como os meninos de minha idade. 
Pitos que nem de leve me aborreciam ou desanimavam, de tanto que adorava aquelas pescarias das férias de verão. O mais importante para mim era estar na companhia dele, dos tios Gunter e Orlando, e desfrutar de tudo aquilo que normalmente era exclusividade dos adultos. Pescar num rio majestoso como o Jacuí, ouvir e participar da prosa, observá-los em ação, e aos poucos também fisgar os meus peixinhos e até alguns peixões, safo e persistente como eu era. 

Parece mentira mais de meio século tenha transcorrido desde então. E mais incrível ainda, que essas lembrança continuem tão vívidas e fortes em algum lugar de minha mente. Nada épico ou minimamente comparável a aventuras famosas do gênero, como o Velho e o Mar,  de Ernest Hemigway, ou Moby Dick, do também do norte-americano, Herman Melville, ainda que a leitura dessas obras-primas não me sensibilizem tanto quanto as lembranças de pescarias bem mais modestas como aquelas.
Pelo simples e óbvio fato de serem parte de minha história de vida, talvez a mais gratificante, o convívio com entes queridos que já se foram, mas não no meu coração.



         


   

domingo, 23 de abril de 2017



         
UM LEGADO PARA NÃO ESQUECER
(entre um chimarrão e outro)


Meu pai, com cinco dos oito netos.


Dos tempos em que as fotos ainda eram em preto e branco. 


Ainda que a ninguém importe, além de mim, em se tratando de reminiscências de ordem pessoal, que tendem à emotividade e melancolia, é chegada a hora de honrar o pacto que firmei comigo próprio lá trás, no sentido de não deixar perecer - e dentro do possível resgatar - aquilo que sempre tive como meu bem mais precioso, meu tesouro particular : as recordações de uma vida pregressa rica e venturosa, em todos os sentidos possíveis e imagináveis. 
Reminiscências as quais nunca deixei de acalentar, mesmo distante da terra amada há tantos e tantos anos. E nem poderia ser diferente, tal a riqueza de minha agitada infância em recônditos lugarejos gaúchos, de nomes pitorescos como Pertil, Rincão da Porta, Paraíso do Sul, Faxinal do Soturno, Restinga Seca, Agudo, à época quase todas partes do município de minha cidade natal, Cachoeira do Sul, a capital brasileira do arroz. Lembranças que me enchem de nostalgia, e sobretudo, de eterna devoção aos que povoaram aqueles tempos inesquecíveis.
Meus avós, com os seis filhos, na década de 40.

Principalmente, minha avó paterna, a quem chamávamos simplesmente de Mutter - mãe no idioma alemão, predominante em nossa família no passado. E que vinha a ser exatamente isto, uma mãe para filhos, netos, enteados e agregados da numerosa família Berger. Com o falecimento prematuro de meu avô Rudolfo, vítima de um câncer no estômago aos 57 anos, coube a ela não só o papel de chefiar uma família de seis filhos adolescentes - meus tios Arnaldo, Bernardo, Orlando, e as tias Onira e Lolita, além de meu pai, Engelhart -, como garantir o sustento dessa prole que mal havia aprendido a ler e escrever. 
Mas que como todos os jovens à época, disciplinados desde cedo a arcar com suas obrigações e afazeres nos 3 ou 4 hectares da propriedade agrícola da família, deram conta do recado, e de certa forma, nunca foram tão felizes, livres da mão de ferro de meu avô. 
E assim foi até cada um achar a respectiva cara metade, o que não tardou a acontecer, numa época em que era comum casar cedo e começar a vida do zero, em sendo a atividade agrícola e o comércio insipiente o ganha-pão predominante nos idos de pós-guerra, até o incremento da economia lá pela década de 60.



  Minha amantíssima mutter.
Voltando à minha querida e inesquecível avó, nascida Irma Margaretha Laura Losekann, com quem convivi dos 3 aos 5 anos, enquanto meus pais se aventuravam no cultivo de arroz, numa ignota região conhecida como Pertil, atravessada pelo rio Jacuí, às margens do qual se estendiam os arrozais em que meu pai apostara tudo o que tinha e o que não tinha. 
E quando digo que nada tinha, refiro-me ao fato de ter entrado na empreitada praticamente com a cara e a coragem, tendo arrendado as terras, os equipamentos e dinheiro emprestado para as demais despesas, como sementes, fertilizantes, mantimentos para meses a fio de isolamento. Enfim, empenhado até os pentelhos, como enfatizou certa vez, ao relembrar ironicamente as peripécias passadas.

Pois foi nesse fim de mundo que meus pais se embrenharam, tão logo casaram, ele com 23 e minha mãe com 18 anos - já com este que vos fala à tira-colo -, cheios de disposição e esperanças, como só os jovens conseguem ser. Mas como tal, sem saber o quanto a vida pode ser implacável e cruel com nossos sonhos juvenis. Empreitada na qual, na verdade, só não morri porque Deus não quis, e que para meus pais, veio a ser a primeira grande provação - para não dizer falseta - aprontada pelo destino ao longo dos 60 anos e poucos anos em que estiveram juntos. 
Lembranças para mim vagas e difusas, como disse, mas pungentes, marcantes e de modo algum amargas, tristes ou deprimentes, como poderia transparecer das condições precárias em que vivíamos. Um casebre de pau a pique, numa espécie de palafita, por causa do risco de enchentes, sem eletricidade, água encanada, construído numa clareira aberta na mata, com a vizinhança mais próxima a 20 ou 30 quilômetros. E o dobro disso de Cachoeira do Sul, a cidade mais próxima, e onde nasci na madrugada do dia 25 de outubro de 1950.

                          AVENTURA ÉPICA

E para onde certo dia me dirigi, ainda mal saído dos cueiros, eu e meus dois fieis escudeiros - o buldogue Calu e o perdigueiro Respeito, verdadeiros anjos da guarda que não saiam de meu lado -, seguindo pela linha férrea que cruzava nossas terras, a qual ouvira falar, ia dar em Cachoeira, onde meu pai estava hospitalizado. 
Aventura épica, da qual mal lembro os detalhes, mas que minha mãe gostava de contar, sempre que lembrávamos desses tempos. Logo cedo, deu por minha falta mas a princípio não se preocupou, acostumada a meus sumiços e crente que eu estaria no galpão situado na parte mais alta da propriedade, onde costumava brincar e azucrinar os empregados de meu pai. 
Mas ao verificar que eu lá não estava, temeu pelo pior, que tivesse me afogado no traiçoeiro rio Jacuí, em cujas margens sempre andava. Após uma busca de horas, e já desesperada, sua única esperança residia no fato de que meus cachorros também haviam sumido, o que sugeria que eu pudesse ter me perdido no cerrado bosque que circundava a propriedade. 
Mas não foi nada disso. Que perdido, que nada. Eu estivera é muito ciente de como e onde queria chegar. Sabedor que aqueles trilhos me levariam a Cachoeira, foi naquela direção que me pus logo cedinho, acompanhado de meus cães, a fim de ver meu pai, preocupado com sua saúde.
Já caía a tarde quando o trem de sempre me trouxe de volta, flagrado, segundo o maquinista, quando já estava perto de Cachoeira. "Mas, ora, é o filho do Berger", contou à minha mãe, dando conta do sufoco que passou para me convencer a subir no trem, com meus cachorros bravos a me ladear.

Foi a primeira das muitas travessuras que marcaram minha movimentada infância, a tal ponto de me levar a dois, como direi, exílios forçados no então pacato vilarejo de Agudo. O primeiro deles, logo depois do evento acima narrado, que serviu para que meus pais se dessem conta dos riscos que eu corria, ao perambular ainda tão criança por uma região assim inóspita e perigosa. Cuja gota d`água, por assim dizer, foi outro susto danado - um profundo corte num caco de vidro, que me perfurou uma das bochechas, quando engatinhava no porão de chão batido da casa. O susto de me ver todo cheio de sangue, estancado com borra de café e sem maiores consequências - e sem eu dar sequer um pio, segundo ela -, foi determinante para que fosse entregue aos cuidados de minha querida grossmutter. 
Avó querida com quem vivi, seguramente, os momentos mais mágicos e ternos de minha existência. Dois anos que nunca esqueci, e nos quais tive o que toda criança sonha e merece ter : amor, fantasia, ludismo, alegria.   

Não que meus pais, a qualquer tempo, tivessem me privado de carinho e atenção, longe disso. Na verdade, as circunstâncias, as privações e a dureza da vida naqueles tempos foi o que os levou a me deixar sob a guarda de minha avó por uns tempos. Assim como não os culpo por terem me despachado novamente à Agudo, entre meus 6 e 7 anos, já então para cursar o primeiro ano primário no internato e colégio Dom Pedro II. Já morando em Cachoeira do Sul, num chalé cedido pelo meu avô Alvino Fritz, depois de perderem tudo na lavoura, e com meu pai passando a maior parte do tempo viajando, como vendedor, minha mãe simplesmente não aguentou o verdadeiro capetinha que eu era. O que eu e meu primo Itamir, o Chico, aprontamos no engenho do meu avô, daria um livro !

                             TELHADO DE ZINCO

Entre minhas lembranças mais vívidas, no entanto, a mais forte é da primeira das duas enchente consecutivas do rio Jacuí, entre 1952 e 53, que invadiu nosso casebre e todo o arrozal que estava prestes a ser colhido, levando tudo de roldão. Desastre que assistimos do galpão em que ficava o maquinário, estrategicamente construído na parte mais alta das terras, e onde permanecemos ilhados por duas semanas até que a água baixasse. Ainda recordo do barulho intermitente da chuva no telhado de zinco, do piado das corujas que me tiravam o sono, mas só bem mais tarde pude avaliar a amargura e desespero que meus pais devem ter sentido por ver tudo ir literalmente por água abaixo. Sentimentos que são um triste privilégio da idade adulta.

Tanto é que em nenhum momento, que eu me lembre, sofri ou passei por qualquer trauma em consequência daqueles infortúnios, muito pelo contrário. Com meu pai trabalhando de sol à sol para recuperar o atraso, e minha mãe às voltas com mais um bebê, minha irmão Ivania, pude desfrutar de uma liberdade simplesmente impensável nos dias de hoje. Um piazito de 3 anos que perambulava o dia todo pelo matagal, pelo arrozal, nadava e pescava no traiçoeiro Jacuí que teimava em nos arruinar, e que afora o chiado mau-agourento das corujas de nosso galpão, nada temia, nada receava. A ponto de certa vez ser flagrado por minha mãe brincando com uma cobra, cuja incidência era comum num lugar infestado de jararacas, cascavéis, e da venenosíssima a urutu-cruzeiro. 
Se dessa temerária travessura não me recordo, por outro lado lembro perfeitamente de certa vez em que um operário foi picado por uma urutu-cruzeiro em meio ao arrozal, a qual meu pai, num pulo, decepou a cabeça num golpe de facão. Recordo que o corpo roliço e grosso ficou ali se contorcendo pra lá e pra cá, sem que ninguém descobrisse onde a cabeça dela fora parar - só mais tarde um outro empregado achou-a no topo do próprio chapéu, imagine o susto. 
Mas o que mais me impressionou : há quilômetros de médico, farmácia ou pronto-socorro qualquer, o sujeito não pensou duas vezes, num golpe certeiro cortou o próprio dedão com o afiadíssimo facão. Urrando de dor, foi levado a nossa casa, onde enrolaram seu pé num pano embebido de óleo diesel de um dos tratores, e dias depois o negro boa praça Batista, homem de confiança de meu pai, lembro bem, já estava na ativa outra vez.

Virando esse capítulo inicial de minha vida, me sinto impelido a pular logo para o epílogo desse breve relato auto-biográfico, no fundo um pretexto para honrar à memória de meus pais. Para que todos que tiveram a paciência de me acompanhar até aqui, saibam o quanto eles amaram e foram amados, e tomem ciência de uma ínfima parte do que fizeram e representaram para nós, filhos e netos. Seja enquanto provedores, como quando já doentes e decrépitos, quando coube a nós, ainda que em meio aos maiores sacrifícios, mormente por parte de minhas irmãs, que os acolheram e cuidaram até o fim, retribuir o muito que nos deram. 

Já velhinho, com minha irmã Ingrid
Ele, meu amado e respeitado pai, que todos chamavam simplesmente de Berger, falecido há oito anos. Ela, dona Dalila, ou Lila para os íntimos, minha enérgica e geniosa mãe, falecida no último dia 08/02/2017. Um casal oriundo das numerosas famílias Berger e Fritz, espalhadas pelo interior do Rio Grande do Sul, que ficou junto 65 anos, teve três filhos, oito netos, e uma história de vida digna e honrada que, resumida e modestamente, tento aqui resgatar. E que, mais do que uma simples homenagem póstuma, tem a pretensão de manter vivo o legado que deixaram. 

                           SONHOS DE VERÃO

Um legado de amor, dedicação e superação, que mesmo em meio a dificuldades e sofrimento, tem aqui meu testemunho de que não foi em vão. De que não cairá no esquecimento. Da mesma forma que jamais esqueci dos encontros fraternais das férias de fim de ano, quando já morávamos em Curitiba, durante quase toda a década de 60, em Agudo. À época, pouco mais que um simples povoado, cercado de morros ( o maior deles, que deu nome a simpática cidade em que se transformou ) em que a família toda se reunia para um mês inteiro de confraternização e divertimento, entremeado de histórias e causos contadas em meio a comida farta e gargalhadas, com direito a piadas contadas em alemão e concurso de peidos - ganhava o mais estrondoso e o mais fedido. 

Tudo na maior harmonia e camaradagem, entre um chimarrão e outro, que aprendi a curtir desde cedo, e a cervejinha gelada que também passei a apreciar, só que mais tarde. 
Em suma, verdadeiros sonhos de verão que eu, em meu íntimo, já pressentia serem únicos  e especiais, daí o choro convulsivo que me acometia, e que a todos contagiava, a cada despedida. Momentos maravilhosos que valeram por uma vida, e cujas lembranças nem o tempo implacável pode apagar.


                                     MEMORIAL

A TODOS QUE DE UMA FORMA OU DE OUTRA, FIZERAM PARTE DESSA HISTÓRIA,
MINHA ETERNA GRATIDÃO.
AS FILHAS E MANAS QUE TANTO SE DOARAM
Primo  Itamir, um verdadeiro filho e irmão.
IVANIA, IRMÃ E FILHA MARAVILHOSA
DANIELI,  NETA CRIADA COMO FILHA

TIA NELDA, IRMÃ SEMPRE PRESENTE
Turma de alunos e internos do Colégio Dom Pedro II de 1957, com o professor Willy Roos e esposa ao alto.  Sou um desses alemãzinhos, nessa incrível foto  publicado pelo  historiador William Werlang, em seu blog. 
Chimarrão amigo, evocando lembranças












  
                    






    










sábado, 22 de abril de 2017


           POR UM FUTEBOL MAIS LIMPO



Ou muito me engano ou a tolerância com os erros de arbitragem está prestes a findar. Aquilo que sempre foi considerado pela própria FIFA como um ingrediente a mais para manter acessa a paixão pelo futebol, parece cada vez mais difícil de ser olimpicamente digerido, em razão da recorrência com que falhas grotescas de arbitragem interferem nos resultados. Falhas tão graves que se não propriamente deliberadas, algo sempre difícil de comprovar, claramente induzidas quando, por exemplo, escala-se árbitros sem o devido preparo para suportar as pressões dos grandes jogos. 
Como o soprador de apito inglês que ferrou com o Bayern de Munique na derrota de 4 a 2 para o Real Madrid, na última terça-feira (18/4), e a própria atuação marota do alemão que ajudou a segurar o Barcelona no empate de 0 a 0 com a Juventus. Que entrou sugestionado a não dar qualquer colher de chá ao time catalão, em represália a força recebida na histórica goleada de 6 a 1 contra o PSG, criticada por meio mundo. Assim imbuído, não só várias faltas nas cercanias da área italiana passaram em branco, como um claro pisão de Daniel Alves em Neymar na meia-lua italiana, e um indiscutível pênalti em toque do lateral brasileiro Alex Sandro, também foram solenemente ignorados pelo juizão. 


Se no caso do Braça a arbitragem ficou em segundo plano, reconhecida a justiça da classificação da Juve, sacramentada nos 3 a 0 de Turim, já a eliminação do Bayern foi o chamado caso de polícia. Mais até que o sempre lembrado gol fantasma com que a Inglaterra eliminou a Alemanha na copa de 1966, pois nesse de agora, além da expulsão absurda de Vidal, dois dos três gols de Cristiano Ronaldo foram marcados em impedimento.
Algo inaceitável em qualquer jogo, convenhamos, e mais ainda em jogos de primeira grandeza, vistos pelo mundo inteiro, e que por isso mesmo, tornam o uso de recursos eletrônicos um medida inadiável, não só para garantir o brilho dos espetáculos, como a lisura das competições. O mundo está cansado de trapaças e trapaceiros, e o futebol, como espelho da sociedade, também clama por uma mudança de atitude e mentalidade. 
O que passa pela conscientização e colaboração nesse sentido de todos os personagens desse grande teatro. Começando por aplaudir e incentivar exemplos como o do zagueiro são-paulino Rodrigo Caio, que alertou o árbitro sobre o cartão amarelo equivocado que havia dado ao corintiano Jô. Gesto paradoxalmente criticado por muitos, e que valeu até censuras internas ao atleta, em função da força da velha cultura da malandragem entranhada não só no futebol, como na sociedade em geral. Cabe a estes adeptos da famigerada lei de Gerson considerar que o próprio aperfeiçoamento das arbitragens depende de uma mudança de atitude dos atletas, pois só assim teremos um futebol mais limpo e digno da importância que desfruta no contexto social e em nossas vidas. 

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