sexta-feira, 4 de agosto de 2017

                                          ODE A SOLIDÃO






Quando deliberada ou opcional, a solidão não é necessariamente um mal. Ao contrário, às vezes pode ser até benéfica, terapêutica. 

O inconveniente na solidão é sentir-se sozinho mesmo cercado de gente, ignorado, isolado, sem ninguém notar ou se importar. 

Nada mais solitário do que sentir como se estivesse invisível, vagando em meio a rostos desconhecidos, ou pior ainda : ver-se como um estranho no ninho, entre seus entes queridos.

Ser sozinho não é problema, o problema é o isolamento do descaso, da ingratidão. É ser visto como mero coadjuvante, provedor, alguém de quem tudo se cobra, que corresponda as expectativas mais elevadas, sem as devidas contrapartidas.

A solidão pode ser uma benção ou maldição. Pode trazer paz ou desespero. Pode ser cura ou autoflagelação. 

Ser sozinho por gosto ou imposição é o detalhe que faz toda a diferença. Que nos fortalece ou destrói. Pois da mesma maneira que pode-se gostar de estar só, nada pode ser mais deprimente do que sentir-se excluído, rejeitado.

Ser só sem sentir-se abandonado, largado, um fósforo queimado, eis um desses desafios que a vida nos impõe no árduo caminho do autoconhecimento. Da busca de paz de espírito. 
De uma ainda que racionada, felicidade.  



                        OS DEZ ANTI-MANDAMENTOS





1. Ama a ti mesmo acima de todas as coisas, e Deus sempre que a coisa apertar.

2. Não invocarás o nome de Deus em vão, mesmo porque não adianta.

3. Seja um bom cristão, mas reserve o fim de semana 
para lazer sem dor na consciência, pois ninguém é de ferro.

4. Honrarás teus pais, ainda que se transformarem num estorvo.

5. Não matarás, desde que não queiram matá-lo.

6. Não cometerás adultério, mas há atenuantes.

7. Não roubarás mais do que possas carregar ou esconder.

8. Não levantarás falso testemunho, a menos que seja 
por uma boa causa.

9. Não desejarás a mulher do próximo, a não ser que valha muito a pena.

10. Não cobiçarás nem invejarás os bens alheios, mas como 
quem tem o supérfluo tem o alheio, reivindique sua parte.



sexta-feira, 28 de julho de 2017



                       
                    A BARRA DA VIDA






O que de pior pode acontecer a uma pessoa ? Perder o amor de sua vida ? Perder um ente querido, a família ? Perder a saúde ? As posses materiais ? Sei lá. São tantas as variáveis que evitamos até pensar e especular a respeito.
O fato é que estamos sujeitos e vulneráveis a tantos infortúnios que ao invés das lamentações de praxe, deveríamos ser gratos por esses dias que tendemos a achar tediosos e banais. No fundo, verdadeiras dádivas, pelo simples fato de não termos sofrido nenhuma dessas perdas irreparáveis.
Eis, pois, a grande e intrincada equação que muitas vezes passamos a vida sem conseguir equacionar : saber valorizar as coisas mais simples e corriqueiras. É claro que não há nada de errado em desejar e se empenhar para usufruir de uma vida opulenta e glamorosa, bem ao contrário, não fosse a ambição e a humanidade talvez ainda estivesse na idade da pedra.
O problema é divisar e se amoldar as situações que se apresentam, de modo a extrair o que a vida tem de melhor. O que independe de valores e bem materiais, pois se assim fosse, apenas os abastados, belos e famosos seriam felizes, e não é isso que se vê. Aliás, o que não faltam são casos e exemplos dos malefícios causados pela dependência dos padrões comportamentais e materiais impostos pelo modernismo.
A mensagem é óbvia : dinheiro e beleza são muito apreciados e bem-vindos, mas não são tudo. Na verdade, podem até atrapalhar se não forem adequadamente administrados, encarados como complemento e uma espécie de cortesia dos deuses, do destino, e que por isso mesmo, podem cessar a qualquer momento. 
Já os valores interiores são perenes e irremovíveis, e os únicos que nos permitem enfrentar a barra da vida sem desmoronar. 




quinta-feira, 27 de julho de 2017



                   MEA CULPA


Ser sincero às vezes só complica a vida da gente. Digo isso por experiência própria, pelas tantas vezes que já decepcionei e magoei pessoas de minha estima por falar o que sinto e penso, impulsivamente, sem medir as consequências. Por me deixar levar por razões e motivações nem sempre razoáveis ou justificáveis, na medida que cada cabeça, uma sentença. Ignorar isso é pura idiotice.
Em minha defesa, o atenuante de ser um idiota bem intencionado, por assim dizer. Desagradável, inconveniente, radical, mas nunca leviano, sem motivos que não sejam calcados num aguçado, ouso crer, senso de justiça e auto-crítica. O problema é que ninguém, ou quase ninguém, gosta e aceita, numa boa, ser contrariado, criticado ou cutucado com vara curta. 
Sim, porque ainda tem isso : sou useiro e vezeiro em cutucar onça com vara curta. Em arrumar sarna pra me coçar. Em parte, por força do velho ofício de guerra, o jornalismo que tantas coisas me ensinou; mas sobretudo, por questão de temperamento mesmo.

Nunca fui de levar desaforo para casa e engolir injustiça calado. O problema é que a essa altura do campeonato, macaco velho que já deu o que tinha que dar, ao invés de sossegar o facho, como se diz na gíria, inventei de criar esse blog para ocupar (e esquentar) a cabeça. 
Blog que acabou se transformando num misto de inventário, confessionário, saco de pancadas, enfim, o fiel depositário da minha bagagem de vida. De lembranças, boas e más, resenhas, pensamentos e outras bobagens, como versos despretensiosos que nem ouso chamar de poesia. 
Nos quais, de qualquer forma, abro temerariamente meu coração para dar vazão a sentimentos passados e presentes, permeados de idiotices que soam a tragédia, quando não passam de pasmaceiras. 
Pois como já decretaram outros poetas mais graduados, amar é se ir morrendo pela vida afora...                
  


Assim como uma infinidade de músicas e livros antológicos, não é raro que grandes filmes não sejam devidamente apreciados e valorizados no circuíto das artes. Caso do excelente Repórteres de Guerra, baseado em fatos vivenciados por quatro jovens repórteres fotográficos que antecederam o fim do apartheid na Africa do Sul. Dois dos quais - Greg Marinovich e Kevin Carter - acabaram ganhando o prêmio Pulitzer, por fotos chocantes que chamaram a atenção do mundo para o cenário de violência e miséria extremas, solenemente ignorado pelo mundo dito civilizado - e que na verdade não mudou muito de lá para cá.

A foto de Kevin Carter, em particular, em que capta uma criança esquálida e curvada sendo observada por um abutre, continua mais atual do que nunca, pairando como um verdadeiro monumento à hipocrisia e desfaçatez humana.

Tanto ontem como hoje, a omissão e o desprezo tem estado presente por trás da milenar saga de discórdia, ódio e beligerância da humanidade. Mesmo num contexto de virtual interação e integração global, proporcionado pela vertiginosa expansão dos meios de comunicação, o descaso e a hipocrisia continuam sendo a tônica nas relações entre os povos. E não só no que diz respeito aos povos mais primitivos e atrasados - mesmo nos países mais avançados as cisões internas continuam se acentuando. 

Inexoravelmente, ao que parece. Ao menos enquanto nos limitarmos a tão somente assistir passivamente os infortúnios e desgraças alheias. Muitas das quais se desenrolam diante de nossos olhos. De nada adiante apenas a solidariedade e compaixão silenciosa, ou apertar a tecla de curtir e compartilhar. 

Mais ou menos como fez Kevin ao dar como missão cumprida o simples registro da estarrecedora cena que lhe deu fama. E o drama de consciência que o levou ao suicídio.

terça-feira, 25 de julho de 2017











A GRANDE LUTA


Discute-se daqui e dali mas poucos se dão conta que a grande luta que se trava hoje no país não é ideológica, de coxinhas versus mortadelas, o cavalinho do Corinthians contra os demais pangarés. Por tudo que aconteceu nas últimas décadas e fez o país retroceder à época sombria que precedeu o golpe militar de 64 - ou talvez pior ainda -,o grande repto que se apresenta ao povo brasileiro é exatamente não perder a fé no Brasil.
Vejo meu filho de 10 anos muito mais esperto e antenado do que eu fui nessa mesma idade - o que não sei se chega a ser uma vantagem -, cheio de curiosidade e perguntas sobre as coisas que ouve e, compreensivelmente, não entende. Sobretudo, sobre as intermináveis arengas políticas expostas à exaustão na televisão e redes sociais, em que políticos, ex-presidentes e o atual presidente aparecem como protagonistas das mais variadas maracutaias e falcatruas. Cujos detalhes minuciosa e recorrentemente expostos na mídia, obviamente chamam a atenção dessa molecada precoce e on line - se bobear, 24 horas por dia. 
Molecada que está crescendo nesse ambiente deletério e insalubre em todos os sentidos, visto que a degradação político-governamental é apenas a ponta do colossal iceberg do descalabro social que toma conta do país. Um país que perdeu os referenciais mais básicos de civilidade e cidadania, mercê da mentalidade delituosa que se enfronhou na sociedade a partir da própria degeneração dos poderes constituídos, solapando a população de seus direitos mais básicos, como educação, segurança, saúde, pilares de qualquer país civilizado.
Olho para meu filho. como disse, nessa idade maravilhosa, na transição entre infância e juventude, e peço a Deus para que me dê a sabedoria necessária para, mais do que educá-lo, poder orientá-lo de modo a enfrentar adequadamente essa dura realidade. Sem perder o rumo, sem se deixar prostituir em meio a tantos exemplos negativos, e sobretudo, sem menosprezar coisas simples mas básicas como os valores e tradições familiares, que são aquelas que verdadeiramente nos preparam e nos permitem sobreviver a tudo na árdua estrada da vida.
Esta é, pois, a grande luta das pessoas de bem que ainda resistem a derrocada e a virtual submissão do país às forças do mal, ou seja, impedir que essa mentalidade delituosa contamine nossos filhos, e nos faça perder definitivamente a fé nos valores pautados na justiça e honestidade.


Postagem em destaque

                              à margem de mim Passei a vida à margem de mim mesmo. Desperdicei meus parcos talentos por falta de discernimen...