sexta-feira, 8 de setembro de 2017





               SÓ SEI QUE NADA SEI


Não sei se volto para casa
Ou se encho a cara
Se sumo do mapa
Ou imploro teu perdão
Se rastejo no chão
Ou mando tudo às favas

Não sei se tenho forças para reagir
E seguir em frente 
Ser paciente e resiliente 
Ou deixo o barco zarpar
Sem olhar para trás

Não sei que rumo tomar
Se espero o vendaval passar
Ou junto os cacos
Enfio a viola no saco
E vou desafinar n´outro lugar.

Não sei, não sei, não sei.

Há tempos que me apraz ficar
Outras de debandar
Há dias em que me sinto nas nuvens
Outros à beira do abismo
Há vezes em que me sinto no paraíso
Outras vezes no quinto dos infernos...















RENÚNCIA

Lamento pelo que não fomos
Sinto falta do que não tivemos
Sofro pela dor que nos causamos
Procuro uma maneira de compensar
A tua perda
A minha renúncia
A nossa desistência

Meados de janeiro /2000

quinta-feira, 7 de setembro de 2017



                                   FIO DE AÇO 



Penso que o Brasil está tão ferrado que nem os generais se animam a botar a casa em ordem. Talvez porque intervenções militares estejam fora de moda; talvez por não terem a mesma têmpera dos generais que botaram ordem na casa em 1964; mas, muito provavelmente, por estarem entre as tais categorias que não tem do que se queixar, em termos de remuneração e regalias.

Sem poder contar com os milicos, o único instrumento que resta ao país para enfrentar o regime de ilicitudes entronizado nos 12 anos de governança petista é o Poder Judiciário, responsável pelo cumprimento das leis e da preservação do estado de Direito.
Não há outro caminho. Todas as demais alternativas inerentes a práxis democrática já se mostraram ineficientes, inócuas, incapazes de reverter o quatro de putrefação político-governamental vigente. Entre as quais, o virtual conto do vigário de um modelo eleitoral viciado, manipulado e, que ninguém duvide, adulterado, a julgar pelos inúmeros indícios já veiculados sobre possíveis fraudes em nosso sistema eletrônico de votação.

Desgraçadamente, porém, tampouco o judiciário brasileiro de um modo geral tem se mostrado à altura de seu papel de guardião da legalidade e moralidade. Muito pelo contrário. O que não tem faltado, em tribunais de todas as comarcas e instâncias, são exemplos de arbitrariedade, arrogância, prepotência e bizarrices jurídicas escandalosas, sem falar da politização explícita de manjadas figuras do STF.

O que esperar de uma Suprema Corte em que pontificam juízes useiros e vezeiros em livrar a cara dos meliantes mais notórios ? Como costumam fazer os sacripantas Marco Aurélio Melo e Gilmar Mendes, que além da peculiar empáfia, mantém estreitas relações com a mais fina flor da bandidagem política. A exemplo de outros não menos manjados colegas de toga, como Dias Tófoli, Ricardo Lewandowski e o próprio Edson Fachin, de sabidas ligações com o petismo.

Já à ala moderada, como a própria ministra Cármen Lúcia, presidente da casa, falta coragem e liderança para tomar frente e agilizar as ações em curso. Não só da Laja-Jato como em relação as inúmeras outras denúncias que tramitam em banho maria contra políticos implicados nos esquemas de corrupção. As dezenas de ações ajuizadas e postergadas contra Renan Calheiros e Romero Jucá pairam como um escárnio ao povo e depõe contra a própria mambembe justiça do país.

Sobra, neste salseiro, as atuações isoladas de alguns juízes honrados como Sérgio Moro e Marcelo Bretas, que juntamente com o MPF, tem servido de inspiração para outros da mesma estirpe e mantido um mínimo de esperança num futuro melhor para o país. Um fio de esperança mas um fio de aço, pois respaldado nos anseios de uma sociedade cansada de espoliação, de ver o mal triunfar.

domingo, 3 de setembro de 2017


                Besta

Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu
Sou
Uma
Besta
Eu
     Sou
           Uma
                  Besta
                  Eu
            Sou
      Uma
Besta

sábado, 2 de setembro de 2017


                CRESCEU, PERDEU



O homem não é o que aparenta.
Só uma criança é o que aparenta.
O homem é um fingidor nato, dissimulado e ingrato.
É o avesso de si mesmo, lobo em pele de cordeiro.
Prisioneiro de idiossincrasias insuspeitas e inconfessáveis.
Aquele sujeito, quem diria, aparentemente tão gente boa,
e no entanto, um energúmeno, um vigarista, um facínora...

Quem, afinal, o homem ?
O que melhor o define ?
Ao mesmo tempo altruísta e embusteiro, 
vítima e algoz.
Lúdico e lúbrico.
Mecenas e trapaceiro.
Ou nenhuma coisa nem outra.
Na superfície uma coisa,
no íntimo, libertino, pedófilo, psicopata...
Ser tantas coisas e nenhuma,
viver escondendo a verdadeira face,
és um homem ou um camaleão ? 

E para quê ? Por que ? 
Para não ser julgado, não ser crucificado
num mundo feito de convenções.
De regras, mordaças, camisas de força.
O mundo é um teatro, em que todos fingem 
ser o que não são.
Querem ser o que não são.
Fazem qualquer coisa para chamar a atenção.
Capricham na indumentária, mutilam o corpo.
Nenhum homem é o que parece ser.
Ninguém tem o direito de julgar ninguém.
Só a criança é o que é.
Até ser contagiada pela maldade
inoculada pelo bicho-homem...
Porque, cresceu, virou adulto, perdeu...







  

sexta-feira, 1 de setembro de 2017


                                   VIDA VADIA





Vai, vida vadia, nada mais espero de ti 
senão as falsetas e ciladas de sempre.
De sonhos e esperanças abjurei.
A armadura e a espada empenhei. 
Lutar com palavras é o que me resta. 
É o que me basta. 
Ainda que em vão. 
Escrevo versos, mas a complexidade do mundo
não cabe nessas estrofes canhestras.
Me faltam palavras para expressar 
o que me atormenta a alma.
A razão desse permanente desassossego. 

Meu pensar é como um navio que passa
ao largo, rumando sabe-se lá para onde.
Levando à bordo sabe-se lá o quê.
Mistérios ? Verdades ? O que importa ?
A vida segue seu curso inexoravelmente,
até sumir no nada.    
Entorpecida pela cota diária de barbáries e sacanagens.







sábado, 26 de agosto de 2017



 
                      concordia discors


                               

Se aventurar por mares nunca dantes navegados,
neles naufragar e se reinventar 
a cada tempestade.

Desbravar caminhos desconhecidos e traiçoeiros 
e ao cabo neles, refazer e repensar 
os malogros da jornada.

Alçar voos por horizontes plausíveis, onde sonho 
e realidade 
enfim se harmonizem.

Mergulhar fundo da alma peregrina, 
e converter-se a beleza obliterada da vida. 

Garimpar a verdade na pedra bruta,
ainda que as mãos sangrem, o chão se abra,
e a desilusão sobrevenha.

Desbravar a morte seca, cavalgando montes e
rios, até galgar o Todo 
em que tudo se completa.


Encarar todo dia a mesma jornada, comer o 
mesmo pó, o pão que o diabo amassou, e ainda
assim não perder a fé.

Pecar sem culpa, sofrer em vão,
quem é o mais infame ?
O pecador ou quem atira a primeira pedra?

Pior é ver a vida passar em cancerosas cosmogonias.
Ver o mundo soçobrar, a miséria recorrente
dos grotões do terceiro mundo, 
enquanto uma minoria privilegiada 
afronta o mundo com sua riqueza.

Desumana e desigual, assim caminha a humanidade.
A insanidade grassa, o juízo final começa nos lindes
da eucaristia.
Posto que a fé que remove montanhas é a mesma
que revolve as entranhas.
Mundo louco em que em nome de Jesus Cristo ou Maomé,
as maiores atrocidades se praticam.

Em que justiça não há, igualdade muito menos.
Em que a esperteza vale mais que o trabalho.
Em que as leis protegem quem rouba e trapaceia.
A espera pelo tempo em que as profecias se cumpram. 













 





  











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