quinta-feira, 13 de dezembro de 2018




Há gente tão pequena 
que não vale a pena ajudar. 
Não só porque a ajuda nunca é suficiente,
como passa a ser vista como obrigação. 
São parasitas que te sugam, 
sem dar nada em troca.








                 a ilha


Ninguém é uma ilha, mas, eventualmente, 
optamos por ser.
Acabamos como tal.
Quando nos vemos à deriva,
náufragos na vida.

No naufrágio de nossos sonhos,
na perda de entes queridos.
Para o quê não estamos preparados.
e numa ilha de isolamento 
nos transformam.

Ninguém é uma ilha, 
mas, eventualmente, preferimos ser.
Para não depender de ninguém.
Não mendigar favores.
Estar sempre à prova.

Ninguém é uma ilha,
mas, eventualmente, é melhor ser.
Para não precisar pedir nada à ninguém.
Não esperar nada de ninguém.
Não confiar em ninguém.

Ser apenas uma ilha.
Autônoma, auto-suficiente.
Imune às sacanagens da vida.




quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018



curanderismo







O que é a vida...
Conversando com um amigo de longa data na semana passada, contou-me de sua satisfação por ver a mulher praticamente recuperada de um avançado câncer de mama, e adivinhem só como se deu a miraculosa cura ? Após três sessões com o famoso e até então glorificado médium João de Deus, que pelo visto de santo nada tem, a julgar pela avalanche de denúncias de estupro desencadeado a partir de reportagem de o Globo, seguido por depoimentos de algumas vítimas no programa do Bial, da emissora. 

Como se explica tamanha dicotomia entre a imagem quase santificada formada em torno do trabalho de 40 anos do médium ? Um homem a quem se atribui milhares de curas milagrosas, que atendia cerca de duas mil pessoas diariamente e pôs no mapa a pequena cidade de Abadiânia, no interior goiano, com visitantes de todas as partes do mundo, e repentinamente retratado como um reles e inescrupuloso estuprador. Mais ordinário ainda por se valer de sua fama e da boa fé das pessoas, para delas se aproveitar anos a fio, a julgar pelos inúmeros casos que estão vindo à tona. 

Estupros que alegava às vítimas serem parte do processo de cura, não obstante os atribuísse ao homem comum que dizia ser, quando não possuído pelo guia espiritual que o tornou o natural sucessor de Chico Xavier na hierarquia da crença espírita. O que lança ainda mais dúvidas sobre a seriedade e veracidade de práticas dessa natureza, dando força a crença de que a verdadeira explicação está muito mais na fé das pessoas do que, propriamente, no curanderismo de gente e cultos que se especializam em explorar a boa fé e o desespero dos que já esgotaram os meios convencionais de cura.

Resta esperar que as denúncias sejam devidamente investigadas e comprovadas, ainda que à dano do trabalho meritório desenvolvido pelo médium por quatro décadas, que ajudou e beneficiou tanta gente. Uma lástima, um golpe enorme não só para as pessoas comprovadamente curadas por ele, ou através dele, como para todos que ainda acreditam nas boas intenções e bondade do ser humano. 

Se nem aqueles tidos e havidos como santos prestam, o que dirá os demais...





   



domingo, 9 de dezembro de 2018


meu coração me condena


meus defeitos todos acusam.
ninguém releva, 
ninguém perdoa.
minhas virtudes não reconhecem.
não passam de obrigação ao implacável 
escrutínio alheio.
sirvo apenas para cumprir, ser útil.
aí de mim se não dou conta do recado.
não correspondo às expectativas.

meu coração me condena.
sinto tudo com intensidade desmesurada.
dou tudo, quero tudo.
meio termo não me satisfaz.
não quero nada pela metade.
gostar, amar pela metade não é comigo.
até meu grande amor perdi por isso.
por isso, estou sozinho.
e sozinho provavelmente permanecerei.

porque cobro, sim, reciprocidade.
desde as coisas mais simples,
às coisas que me são peculiares.
atenção, respeito, educação.
para as quais espero a devida contrapartida.
o que nem sempre acontece.

ah, coração marrento,
seja mais indulgente.
seja mais meu amigo.
não me traia, não me condene
a esperar dos outros mais que podem dar.
a ser sempre o errado, por querer,
por amar demais...

















sábado, 8 de dezembro de 2018

            

               A RECEITA





Dos refinados ensinamentos de Aristóteles ao manual de artimanhas elaborado por Maquiavel, a busca pelo poder sempre oscilou entre a força e a persuasão. Na falta de um, o outro entra em ação. Só que, com a crescente rejeição ao autoritarismo e despotismo em geral, fruto da interação de ideias e costumes ensejados pela Internet, e da própria globalização, mais do que nunca a luta hegemônica descambou para campos que transcendem ao da coerção física, monetária e bélica. Beira o burlesco o uso massivo e despudorado de técnicas de convencimento que não deixam pedra sobre pedra em sua escalada persecutória e recalcitrante.

Por mais que sejamos cuidadosos e criteriosos em nossas escolhas, separar o joio não é uma tarefa fácil no mundo que vivemos. Não há dúvida de que o desenvolvimento tecnológico e a própria globalização facilitaram a vida de um modo geral, os efeitos colaterais é que são duros de engolir. Em tempos em que ninguém fica imune ao liberalismo desenfreado e generalizado catapultado pela Internet, os apelos midiáticos, bem como o excesso de informação, acabam estabelecendo uma espécie de ditadura consumista e hedonista que beira o fanatismo.

Nem mesmo o inalienável direito do livre arbítrio serve de anteparo para o massacre marqueteiro que nos é imposto diuturnamente, 365 dias por ano, com efeitos devastadores não só para o nosso bolso como para a sanidade mental das pessoas. Dentro do velho e sábio princípio de que tudo que é exagerado é prejudicial, a influência dos meios de comunicação, sobretudo as chamadas redes sociais, vão cunhando padrões de comportamento tão vulgares quanto nocivos, a medida em que estabelecem padrões de conduta baseados em valores desprovidos das mais elementares noções de moralidade e ética. 

O que está diretamente vinculado a mentalidade fútil que campeia hoje em dia, com as novas gerações muito mais interessadas no próprio umbigo do que em agregar conhecimento que lhes permita pensar e crescer por conta própria. Sem a tutela de uma ditadura midiática que é o grande flagelo de nossos tempos, com seu mercantilismo exacerbado e o famigerado fake news martelando a cabeça das pessoas. 

Nesse sentido, mais do que nunca, cabe aos pais encontrarem meios de adequar as coisas e fazer a moçada entender que a velha e boa receita do meio termo ainda é a melhor que há. 


                lobos ou cordeiros ?


 


marcham os soldados, 
marcham redondinho, sincronizados, 
feito robôs, réplicas de si mesmo.
serão de verdade esses
soldadinhos chineses, russos, norte-coreanos ?
tudo com a mesma cara ? 

hoje como ontem, exércitos milenares submetidos
a comandantes inescrupulosos e sanguinários,
com seus artefatos de fazer guerra,
em quintais alheios.
cidades, povos dizimados,
no réquiem lúgubre de imolações.
máquinas de matar à serviço 
de tiranos e degenerados.
o que o poder não faz com as pessoas... 
em animais os transforma.
em bestas-humanas cujo prazer é ver o sofrimento
alheio.

a marcha dos soldadinhos encanta.
a multidão aplaude.
o mundo se admira, ante tal demonstração
de poder e obediência.
poder e obediência.
devemos obediência a bestas-humanas ?
a imbecis investidos de autoridade,
que eventualmente assumem o poder ?
a força, por força de dinastias ou ungidos pela própria
população ?

os soldados marcham, seguem ordens.
são obrigados a seguir ordens.
mesmo esdrúxulas, mesmo suicidas.
pelo bem comum, em defesa da pátria.
todos súditos, todos inocentes-uteis. 
milhões morrem para que outros vivam.
morre-se em guerras, morre-se de fome.
há gente demais no mundo.
dementes demais.
ser normal é uma aberração.
os cordeiros de Deus pagam pelos pecados 
do mundo.
um Deus que está pouco se lixando para eles.

Deus não existe, do jeito que se concebe.
Deus está em cada um de nós.
deuses interiores que moldamos
por nossa própria força mental.
acredite piamente numa pedra, 
reze, concentre-se nela, 
e a resposta será a mesma
que encontrará num templo qualquer
erigido por rufiões e oportunistas.

somos o que pensamos 
somos o que queremos ser
senhores de si ou súditos.
Lobos ou cordeiros.





























  

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