sexta-feira, 6 de setembro de 2019
nem Deus nos salva
Pindorama jaz, doente.
Estrebucha, quase inerte.
Seis séculos de usurpação e devastação ininterrupta.
O cenário desolador se alastra.
Florestas ardem.
Garimpos, barragens, mineradoras,
áreas continentais
desmatadas para pastagens, plantio.
O mundo precisa de matéria-prima, comida.
Como conciliar, o eterno dilema.
De veias abertas, a pátria mãe gentil sangra.
A degradação aumenta, mas as autoridades ignoram.
Fotos de satélites mostram, mas as autoridades ignoram.
A fuligem se espalha por milhares de quilômetros,
mas as autoridades ignoram.
Todos os dias, milhares de hectares viram cinzas.
Queimadas propositais, por interesses contrariados,
infâmia, insânia total.
A comunidade internacional protesta, ameaça,
hipocritamente de olho em nossas riquezas.
O corrompido sistema nega o óbvio.
O planeta cada vez mais hostil.
Só os ignaros ignoram.
Nem Deus nos salva.
DICOTOMIA
Não espero que Deus tenha piedade de mim.
Pois teria que fazer por merecer.
Andar sozinho em meio a tantos escombros
me faz pensar, melhor seria
inventar uma maneira diferente de ser.
Que fosse o avesso de mim.
Alguém que não se exponha tanto.
Não escancare os defeitos.
Ou seja, fazer o contrário do que tenho feito.
Ser mais centrado, cauteloso.
Menos crédulo.
Mas, meu Deus, não sei ser de outro jeito.
Pensam que já não tentei ?
Depois de tantos percalços, frustrações ?
Pois à mim também desagrada ser assim.
Nunca ganhei nada crendo, dando a cara à tapa.
Basta ver onde estou.
Onde fui parar.
Mesmo querendo fazer o bem, sempre dá errado.
Porque sou tão atrapalhado ?
Não quero o mal de ninguém.
Nem de meus desafetos, pois a todos sobrevivi,
e aprendi muito com eles.
Talvez eu não me dê conta da dicotomia
entre a ideia que faço de mim
e o que eu realmente sou.
Não há razão para esperar mais nada.
Ser o que não sou.
É tarde para renegar o que eu sou.
Não espero que Deus tenha piedade de mim.
Pois de tanto crer, já não sei em quem creio.
Nem quem sou.
quinta-feira, 5 de setembro de 2019
QUANDO
Quando paramos de crescer.
Quando cessamos de querer.
Começamos a morrer.
Quando esquecemos de viver.
Quando deixamos de sonhar.
Começamos a morrer.
Quando desistimos de tentar.
Quando paramos de lutar.
Começamos a morrer.
Quando perdemos a vontade.
Quando renunciamos ao amor.
Nem nos tocamos, mortos já estamos.
as paredes pensam, as paredes pensam, as paredes
as paredes pensam,
não, as paredes não pensam.
a cama pensa, a cama
a cama pensa
não, a cama não pensa,
o teto pensa, o teto cai, na minha cabeça
a cama pensa
as paredes pensam
as paredes me olham
me espiam
na cama rolo, sonho,
penso, na cama, durmo, acordo, rolo, perco o sono,
está escuro ainda,
as paredes me olham,
pensam que estou louco, mas não estou,
apenas cansado, cansado,
são 3 horas, boa noite amor
FRAGMENTOS
Fragmentada, a vida passa
em momentos que se intercalam, se entrecruzam.
Tudo escoa rapidamente.
O que era, já não é mais.
As peças no tabuleiro se movem, situações,
rostos se sucedem.
Prazeres, amores, relacionamentos, distraem o tempo,
até que a indiferença ou o ódio os traiam.
Da agonia alheia ninguém sabe, nem toma conhecimento.
O que não nos diz respeito, pouco importa.
No máximo um pouco de fingida atenção.
A vida é uma ferida aberta, que nunca cicatriza.
Experiências passadas desencorajam,
ninguém dá valor ao que é de graça.
Cedo ou tarde as pessoas sempre nos decepcionam.
As pessoas se decepcionam com a gente.
O tempo não cura, não trás alívio.
Quando muito aceitação, conformismo.
O futuro está à frente, mas é o passado que comanda.
Lembranças, punhais que perpassam a alma.
O que foi vivido é o legado eterno.
Imagens recorrentes, sempre presentes,
em desterros, vigílias, terrores noturnos.
Na impossível união de duas almas capitulamos.
O ponto de intersecção é o vasto mundo.
Vencedores e vencidos, no mesmo jazigo.
A ação liberta, porém o destino é traiçoeiro.
Tão íntimos quanto irreconhecíveis, os sonhos esfumaçam
como o fumo das queimadas outonais.
Impotentes à laceração do tempo, a excruciante dor não cessa.
Só as perdas são permanentes.
o fim de tudo é uma benção.
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