segunda-feira, 16 de setembro de 2019
libertação
De tudo que me era mais caro,
pouco ou quase nada restou.
Perdas, privações, ausências,
da vida que partiu-se ao meio.
E o que agora se impõe,
diante da inexorabilidade das coisas,
é desapegar-me da inútil bagagem, de tudo que pesa
e para mais nada serve.
E assim, os mistérios e falsetas ignorar,
posto que indecifráveis, inevitáveis.
As pequenas conquistas valorizar,
dentro do que hoje me é possível alcançar.
Os infortúnios e decepções aceitar
como um preço à pagar.
Sem lamentar, sem me abater,
em sendo o infalível contraponto
que a vida embute.
Ser o que é possível ser, sem vínculos, expectativas.
Às crenças e sentimentos coercitivos abdicar.
Renunciar ao que não faz bem,
ao que não nos pertence.
No incognocível, conhecer-me.
No declínio, ascender a um novo patamar.
No vazio, a plenitude achar.
E sobretudo, a libertação de tudo que ficou para trás.
Para o futuro, sem futuro, de cabeça erguida enfrentar.
sábado, 14 de setembro de 2019
repulsa
Ah, essa súbita e abençoada resignação.
Na evasão dos anseios e antigos sentimentos.
Por já não ver as coisas como via.
E sim como são.
A inutilidade de compreender, decifrar
O que foi irremediavelmente perdido.
Não, não serei mais motivo de chacota.
O que sinto agora é um horror repentino.
Uma repulsa incontida
das coisas imundas que agora se revelam.
Nojo, aversão daquela
que com seus latos e andrios artifícios,
por tanto tempo
a mais torpe realidade escamoteou.
Resignado, purgo meu castigo.
Perdido o que eu tinha e o que julgava ter,
um pedaço de mim deixo para trás.
Um dia a verdade virá à tona.
O tempo me fará justiça.
Ainda que postumamente.
Posto que a vida, mais vazia,
Com tua ausência mais se abrevia.
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segredos de Polichinelo
Nada é o que parece,
e o que é,
não é confiável.
Daí a denegação sistemática de uma realidade que nos oprime.
Ou não ? De repente, é exatamente o contrário.
Complicados somos nós. Nós é que não vemos
as coisas como realmente são.
Que na verdade, são o que não são.
Em conjecturas mil nos debruçamos,
diante do aleatório, a mente consciente,
consciente de nada.
A vida ardendo a cada momento.
Na metafísica das pocilgas e charcos
em que nos embrenhamos, o depravado mundo
exige que o sacrifício
seja lento e injusto.
Equilibristas na corda bamba da existência,
entre a cruz e a espada nos esgueiramos.
No holograma da vida, o nexo, o sentido
e o pressentido, enrodilhados no tempo.
Cumpre viver o intenso momento.
Apartados do que passou, do que não existe mais.
O que virá,
à Deus ou ao demônio pertence.
Sim, porque em todas as coisas,
há um lado bom e um lado ruim.
Um lado bom e um lado ruim nas pessoas.
Que sorriem e sofrem,
enquanto o tempo destruidor age.
O espírito torturado engendra mecanismos
para tornar a vida suportável.
Abscôndita, a balança pendendo entre o vivido e o inventado.
Nas hospedarias da ilusão refugiada.
Segredos de Polichinelo :
aperceber-se do lado bom nas coisas ruins.
De quando os sentimentos deterioram,
as relações acabam,
poder livrar-se da carga tóxica que agregam.
E depurada as coisas,
superar os traumas e culpas,
a vida torrencial nem à Fausto, nem à Mefisto consagrar.
Não obstante, eis que hoje me vejo compelido
a ser o que não sou.
Os grandes e nobres propósitos em nada me ajudaram.
Para nada se prestaram.
O mundo é para quem não tem escrúpulos,
e não para quem acalenta sonhos impossíveis.
Ante a inutilidade de tudo que aprendi,
ascender à anódina indiferença.
Vencido, porém lúcido.
À conspurcada realidade aderir.
Graças a ti, desci ao fundo do poço.
Não era o que querias ?
Destruir todos os resquícios do amor,
degradando-o ?
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
O QUE REALMENTE IMPORTA
Mais importante do que as coisas que se vê,
são as coisas que não se vê.
Mais importante do que as coisas que se vê,
é a forma de se ver.
Mais importante do que ver, é entender. Porque ver e não entender, é a treva.
Mais importante do que saber, é saber usar o saber. De quê adianta o saber e só fazer merda ?
Mais importante do que ter razão, é ter a humildade de reconhecer quando não tem.
Mais importante do que o amor é o perdão. Amar qualquer um ama, perdoar de coração é para poucos.
Do nada, por nada
Há várias formas de gostar.
De sentir.
De apego.
Há formas e formas de amar.
Dentro do universo de cada um.
De como cada um reage.
Pensa, interage.
Há quem faça tudo por amor.
Há quem não retribua.
Há os que se doam, os reclusos.
De coração frio, embrutecido, egoísta.
Cada um ama de um jeito.
Não adianta cobrar.
Cada um dá o que têm.
Mesmo um filho pode te voltar às costas.
Do nada. Por nada.
Amor imaturo, volúvel.
Um dia se dá conta do que perdeu,
do que sacrificou de bobeira.
Aí pode ser tarde. O estrago está feito,
Perdoa-se,
mas as coisas nunca mais serão as mesmas.
Há várias formas de apego.
Todas sujeitas à desapego.
Às vezes do nada, por nada.
Simplesmente se desgosta.
Quando se perde o interesse.
O encanto.
Quando outros interesses falam mais alto.
Não esperar nada de ninguém é o ideal,
mas quem ama espera ser amado,
reciprocidade,
como fazer ?
O bom professor sabe que há questões
para as quais não há respostas.
Esta é uma delas.
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