domingo, 13 de outubro de 2019





                              AS MOIRAS





Não se iluda,
a vida requer um pacote de mentiras básicas
para seguir em frente.
No lar, no trabalho, no convívio social,
tudo é farsa.
Mesmo na aparente vida superbem resolvida
das pessoas supostamente bem-sucedidas,
o véu que esconde a nudez moral é tênue.
Rasga e se rompe ao menor descuido.
A suposição de que a família é garantidora do amor
nada mais é do que a necessidade de fazer parte
de algo.
Pagamos o preço que for para manter as 
aparências.
A hipocrisia é o cimento da vida coletiva.
O que faz alguém ser respeitado, 
a não ser excepcionalmente, quase milagrosamente,
não é a integridade, a ética.
O que prevalece é a habilidade de acomodar afetos,
manipular sentimentos.
O horror da vida só é suportável ao buscarmos
utopias de felicidade.
A felicidade, mesmo efêmera, só é factível mediante 
uma certa cota de infâmia. 
Mas para persuadir as moiras, as virtudes ainda 
falam mais alto.
Sobretudo, coragem e humildade. 
Humildade para reconhecer que nada sabemos.
Coragem para manter-se em pé mesmo sabendo-se
fadado ao fracasso. 
A busca pela felicidade apenas amplia
as portas do inferno.




* (Inspirado em Luiz Felipe Pondé/ Filosofia para Corajosos)









  





  

sábado, 12 de outubro de 2019




                
                      SENTIMENTOS





O que eu sinto é irrelevante, poderia me salvar mas não salva.
O que eu penso é irrelevante, não vale um dia de sol.
O que eu escrevo é irrelevante, nunca fui grande coisa 
em tudo que fiz.
O que eu faço é irrelevante, em meu padrão infantil de comportamento.
O que eu quero é irrelevante, mas eu gosto dos meus pequenos confortos.
O que eu sonho é irrelevante, arde como santos queimados em fogueiras.
O que eu tenho é irrelevante, conquanto não consigo me livrar 
dessa agonia.
O que eu sou é irrelevante, meu mundo está acabando.
O que eu sinto, penso, escrevo,
faço, quero,
sonho,
tenho,
ninguém se importa.
A mentira, o vácuo, o silêncio, é onde me encontro. 
Ninguém se interessa em jazigo de ossos empilhados.
Ninguém é o que eu sou, marcado pelo verme.
Alguém que foi, sob a condição de ser.
Irrelevante a dor, o labor, 
qualquer coisa que eu tenha sido.
A comunhão do EU com o não-eu.
Sem mais lastimar, acordar de noite para chorar.
Em meio ao horror inquestionável.
Me achar devedor disto e daquilo.
Não mesmo !
Fiz o que podia, dei o meu melhor.
Não me ressinto de nada.
São os erros que nos permitem chegar à verdade.
Me sinto mais próximo de um pardal do que de Deus.


sexta-feira, 11 de outubro de 2019



                                    pesadelos








Há um excesso de tudo na vida.
Notadamente o supérfluo,
em detrimento do mais importante.
Honestidade, verdade, empatia, amor...

Há pesadelos em todos os lugares,
em plena luz do dia.
Até mesmo do velho e bom lar, 
um certo cheiro de impostura e podridão exala.
Feliz de quem se livra
desse jugo. 

Entretanto, os insensíveis não são os únicos 
imunes à frivolidade e ao horror dos novos tempos.
O modelo proposto pelo ideal cristão 
nada mais é do que a sua própria denegação.
A fuga das infinitas complexidades 
e variedades das aparências,
nos igual e apequena.  
E os altos moralistas são os mais hipócritas.

Mas eis que,
quando cessa a busca no passado desconhecido,
aceitar que "fazer o bem é mais importante 
que conhecer a verdade" 
pode não ser a melhor coisa à fazer,
mas é o que nos isenta de pecados maiores.
Ainda mais que às vezes, a verdade
é o pior pesadelo.



















  


quinta-feira, 10 de outubro de 2019

terça-feira, 8 de outubro de 2019

A



















  



  







Afinal, é melhor ser amado (respeitado) ou temido (odiado) ?

O próprio Maquiavel responde :

"Responder-se-à que se desejaria ser uma e outra coisa (amado e temido), mas como é difícil reunir ao mesmo tempo as condições para tanto, é muito mais seguro ser temido do que amado. É que as pessoas geralmente são ingratas, volúveis, dissimuladas, covardes e ambiciosas, e, enquanto lhes fores útil, lhes fizerdes bem, todos estão contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos, desde que , como disse acima, tenhas condições de lhes manter os privilégios. Mas quando por algum motivo isso acaba, não tarda para que se voltem contra, e o Príncipe, se confiou e não tomou as devidas precauções, está arruinado. Pois as amizades (e vínculos afetivos, acrescento eu) conquistadas por interesses (ou conveniência, reforço), e não por grandeza e nobreza de caráter, não se pode contar com elas quando a sorte muda. E as pessoas hesitam menos em se voltar contra aos que amam do que aos que se fazem temer (...)





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