domingo, 8 de dezembro de 2019





                            

       dar conta de tudo é uma proeza






E no entanto, é preciso resistir.
Estar acima dessa merda toda que gruda
como chiclete na sola do sapato.
É preciso trabalhar, pagar as contas, 
tomar os remédios direitinho, quando há dinheiro
para comprar.
É preciso tirar o lixo logo cedo, levar o dog para esticar
as pernas,
sem esquecer de limpar o coco na calçada,
normalmente já suja e malcheirosa, afinal, 
você sabe, 
estamos no Brasil, o reino dos porcalhões 
e ratazanas da vida pública.

É preciso estar esperto para não ser
enganado, 
pois alguém está sempre de olho no que é seu.
Marginais, espertalhões, malandros de toda natureza
não faltam. 
Se bem que contra a tunga oficial
nada se pode fazer, 
os impostos, a roubalheira  institucionalizada, 
tributos que você vai pagar até
morrer, e mesmo depois sobra para alguém, 
se não quiser ser enterrado como indigente.
  
É preciso ser forte para aguentar o tranco, 
ter estomago 
para engolir desaforos, sapos, sacanagens, 
injustiças.
E ainda assim não desanimar, ser honrado, correto, 
quando a vontade é mandar tudo à merda,
dar o troco na mesma moeda.
Mas você não consegue, né ?,  
porque você é decente,
tem um nome à zelar, 
como seus velhos lhe ensinaram,
e cá pra nós,
nada como poder olhar os filhos de frente,
não importa se as coisas eventualmente azedam,
nesses tempos difíceis 
dar conta de tudo é uma proeza, 
e a própria família às vezes vai para o espaço.

E no entanto, é preciso resistir, insistir, 
tropeçar e levantar,
amar, desamar, amar de novo, ou ao menos tentar,
dando o seu melhor, 
dando o seu suor,
dando o seu labor,
dando o seu calor,
enfim, 
fazer a sua parte, o que a consciência manda,
mesmo que não lhe deem valor, 
debochem de sua
integridade e honestidade de propósitos.
Pois como diria o velho safado do Bukowski,
o destino só é uma puta se deixarmos que seja. 









    













sábado, 7 de dezembro de 2019



                                                      arapucas








Sim, é inevitável, 
há momentos cruciais
em que a vida dá uma guinada.
Como quando você descobre que não é 
mais importante.
Que deixou de ser o cara. 
Que passou a ser apenas uma figura decorativa,
um simples provedor,
marido distante,
pai ausente.
E de quebra, um farsante, sujo, descartável.

É o que te jogam na cara, numa certa hora fria,
como se a memória estivesse anestesiada.
Como se as coisas tivessem meramente acontecido, 
nebulosas, frágeis, tartamudas,
não deixado nada além de queixas,
mágoas escamoteadas. 
Ressentimentos que de repente vêm à tona,
em função de uma dessas arapucas da vida. 
E eis que você se vê repentinamente
despojado de tudo,
deslocado no tempo, sem nada que possa fazer,
posto que impotente, vencido,
útil apenas para arcar com as obrigações de praxe.

Sim, o momento crucial em que tudo muda, 
um dia chega.
A medida que se envelhece, os sentimentos,
tudo aos poucos desaparece.
Rápido é o sonho,
cruel o despertar.
E o eu que paira sem ser tu,
deslocado na nova realidade com que estoicamente
se defronta,
se entrelaçam para ser alguém
que tece sua própria mortalha.













dos tempos em que eu era
um pai ausente...




 

férias no Vale do Sol 



Breno no Tumiaru, o primeiro time

No Itararé, os primeiros chutes 

meu companheirinho inesquecível 



as coisas quase sempre 
não são
como a gente quer.
    



             mas às vezes são até melhores.







      é tudo passageiro, irmão 






Quem já não se viu sufocando
entre quatro paredes,
se afogando em rios que correm para trás.
Morto em corações de pedra.
Implacáveis, incapazes de perdoar, 
não se olham no espelho para não ver 
onde também erraram. 
Quem já não se viu deslocado no tempo
e no espaço,
a vidraça da vida estilhaçada,
enchendo a cara ou enfiado num quarto escuro,
pensando na melhor forma de suicídio.
E no entanto,
é tudo passageiro, irmão. 
A ilusória felicidade,
a desgraça irremediável.

O coração partido chora
até não haver mais lágrimas.
E de uma forma ou de outra, 
uma nova vida começa. 
Às vezes, 
melhor que a de antes.









terça-feira, 3 de dezembro de 2019




                                                            HOMENS







Um homem sem pretensões é que é um homem feliz.


A desgraça do homem é o próprio homem. Às vezes os outros ajudam um pouco.



Não passam de mentirosos os que falam que aqueles fortões de academias tem o pau pequeno. 
Eles (os paus) apenas são desproporcionais ao resto.



Nenhum homem presta. 
A diferença está meramente na embalagem.


Não é a falta de dinheiro que deixa o homem infeliz. 
É não ter o que o dinheiro compra. 
E o que compra também.


Se o mau-caratismo fosso uma doença mortal, o homem 
seria uma espécie em extinção.


Tudo o que o homem sonha na vida é ouvir três ruídos : o tilintar das moedas, 
o alarido dos aplausos e o gemido das mulheres. 
(Don Rosé de Cavaca)


O homem só é confiável quando dorme. E olhe lá.






segunda-feira, 2 de dezembro de 2019




         entre o Paraíso e o Purgatório







No fim e ao cabo, tudo se esgota no desalento 
que semeia pedras, 
germina troncos rugosos.
Ora, a vida pode ser tudo, menos postiça. 
Passamos a maior parte do tempo tentando discernir 
até onde vai a realidade  e onde começam os embutes.
Ruminando dúvidas hamletianas, o vil repasto 
transpondo as coisas boas de péssimo gosto.
A vida resumida ao hersatz das verdades pré-estabelecidas.

Eis-nos, assim, tentando escapar da existência 
sem nexo, 
às voltas com metáforas obsessivas, 
ora triunfantes e salvadoras, 
ora de desilusão e desengano.
Sob o crivo de um hardware terrestre infernal, 
ode triunfal da felicidade longe de ledíssimo final,
entre o Paraíso e o Purgatório de Dante pairando, 
não parece nenhum pouco atrativa.


























   

Postagem em destaque

                            a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...