sexta-feira, 27 de março de 2020
antípoda
Ninguém é de todo mau, e muito menos
cem por cento virtuoso e incorruptível.
Reconhecer as próprias fraquezas
é o primeiro
passo para a sabedoria.
Entender e aceitar as razões de seu semelhante,
ir além da própria empatia,
ir além do conhecimento,
da racionalidade.
Vendo o outro dentro de si.
Ver o que nem o outro vê.
Por que agride
chora
sonha
Margeia outra forma de existir
sem vida.
Um desconhecido, seu antípoda.
Amor é onde tudo se encere.
Onde tudo começa e termina.
quinta-feira, 26 de março de 2020
terça-feira, 24 de março de 2020
Amor é uma palavra
usada com muita facilidade.
No mais das vezes, em vão.
Vivemos em buscar do par
ideal,
mesmo sabendo que o ideal
não existe.
Só muito raramente
a gente encontra alguém
que nos completa.
E nem sempre repara, dá valor.
"Que desperdício aqueles tempos
em que se tinha a força e o desejo,
mas não a habilidade". (Charles Bukowski)
degredo
Eu não seria eu
se não dissesse o que penso.
Se não me expusesse,
não desse a cara à tapa.
Eu não seria eu
se não pagasse de otário
sabendo disso,
e não se importasse,
apegado a crenças tolas,
crendo em lorotas,
em suma,
o autêntico idiota.
Eu não seria eu
se não me desse conta
de todas as besteiras que já fiz.
Se não passasse um dia sequer
sem me lembrar
sem me recriminar
pelos furos que deixei.
Pelas tantas vezes que
meus entes queridos decepcionei.
Aqueles aos quais vergonhosamente traí.
Não, eu não seria eu
se não tivesse consciência de tudo.
E por isso mesmo, tentasse me penitenciar.
E ainda assim, me sentindo
sempre devedor.
Sabedor que de nada sou merecedor,
além da indiferença, do desprezo,
do degredo que ora experimento.
E no qual finalmente
encontro paz.
domingo, 22 de março de 2020
amor ordinário ( à moda Bukowski )
O amor ordinário é
como uma escova de dente gasta.
É como comprar um carro usado
com o motor fundido.
É comprar um bilhete
que já correu.
É pegar o ônibus errado
e não ter grana para voltar.
É cagar na cueca pensando
que é um peido.
O amor ordinário é como um vício.
Você sabe que faz mal
mas não consegue largar.
É uma piada pior que a vida,
no entanto, não há nada melhor.
Não ter certeza de nada, sem nada esperar
a não ser viver o momento.
Sem falsas ilusões, portanto.
Amor ordinário, sem futuro, atrelado ao
passado que sempre volta,
apegar-se,
nem pensar.
Esse é o pacto.
Nada de promessas, cobranças,
compromisso.
Coisa de segunda mão, sem garantia.
O que tenho a oferecer é insuficiente.
O que tens para me dar, agarro com
unhas e dentes. É pouco,
mas não posso querer mais.
O amor ordinário não se submete,
não aceita imposições.
É o que é.
Intangível, postiço.
De tão ordinário,
sujeito a acabar com um simples
bloqueio no wats ap.
sábado, 21 de março de 2020
pandemia
Em cada instante a vida é diferente.
O tempo de saber que somos absolutamente
impotentes sempre chega.
Há sempre imprevistos de força maior.
Sentimentos deterioram, relações desgarram.
Um reles e sorrateiro vírus põe o mundo
de joelhos.
Qualquer tempo é tempo de tudo se subverter.
Dilemas existenciais, desilusões amorosas,
preocupações comezinhas,
de repente perdem o sentido
diante do elementar desafio da subsistência.
Na supressão do básico, saúde, trabalho,
ter o que comer,
todo o resto se torna secundário.
Grandes lições embute a anunciada pandemia.
Sobretudo, que nada nos pertence.
Tudo nos é temporariamente delegado,
e subtraído sem aviso prévio.
Do nada advém a hora amarga.
No querer abraçar as coisas,
a inútil compreensão de quem se sabe
impotente, mutilado pela vida.
No fugaz prazer e no perene abandono,
o desejo de explicar, de entender
a constante fuga.
A existência sem nexo, amada e repelida.
A tardia consciência de que só a compaixão nos salva.
Não nos pode faltar.
Sobretudo, que nada nos pertence.
Tudo nos é temporariamente delegado,
e subtraído sem aviso prévio.
Do nada advém a hora amarga.
No querer abraçar as coisas,
a inútil compreensão de quem se sabe
impotente, mutilado pela vida.
No fugaz prazer e no perene abandono,
o desejo de explicar, de entender
a constante fuga.
A existência sem nexo, amada e repelida.
A tardia consciência de que só a compaixão nos salva.
Não nos pode faltar.
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