sinto, logo escrevo
Escrever é meu vício. É o meu jeito de lidar
com as coisas
que não consigo resolver. Inútil e perfunctório
esforço de compreender
o que tecem as moiras. Dar algum sentido
a vida sem sentido.
Escrevo o que busco entender, ainda que
margeando o desejo que cessa e se expande.
Perscrutando os sonhos desfeitos, lúcidos, severos,
que ainda reverberam.
Escrevo para encontrar outro modo de dizer
aquilo que já disse, em vão, de outro jeito.
Há dias mais calmos em que penso não haver
mais nada a dizer.
Que está tudo resolvido, perdido, à falta de argúcia
resignado.
Mas o desassossego é como uma maldição perseverante,
que os mecanismos de defesa
remetem aos confins da alma.
Como convém a meu melodrama chinfrim.
Gostaria de dizer que é para libertar a fera enjaulada,
exorcizar o que ainda incomoda, decifrar os enigmas
que não se decifram a si próprios.
Mas nem sei que ideia faço de mim mesmo.
Não obstante ser a minha maneira de dizer
que a tristeza não me liquidou.
Que uma parte de mim ainda sofre,
mas a outra pede amor.