sexta-feira, 5 de junho de 2020




                         sarna para se coçar



Invejo aqueles
que não se perdem em elucubrações.
Em tergiversações inócuas, useiras
e vezeiras teorias conspiratórias,
abundantes nesses tempos de desgoverno.

Admiro aqueles que não se desgastam 
em tentar entender,
não se preocupam em justificar.
Fazem, agem, e pronto.
São o que são.
Brutos, crus, cruéis, 
em suma,
infensos às baboseiras
que alimentam a tragicomédia humana.

Pensar é preciso, pensar demais é maçada, 
mancada.
É arrumar 
sarna para se coçar.
Como esses versos tolos que escrevo,
no afã de decifrar coisas que só à mim importam. 
Melhor é ser pragmático, bem o sei.
Dramatizar as coisas não leva a nada,
a não ser a mais desgaste, conflitos.

Ninguém aguenta a repetição ad nauseam
do mesmo melodrama.
A vida por si só já tende a ser uma merda,
quanto mais se remexe,
mais fede.


































quarta-feira, 3 de junho de 2020


       todas as histórias de amor se parecem







Todas as histórias de amor se parecem.
É quase sempre o mesmo enredo,
com o previsível desfecho. 
Alguém sempre abandona o barco.
Se não de corpo, de alma.
Pois em algum momento, algo se quebra,
grave, profundo, ou banal, 
o tempo faz isso com a gente.
Fode com tudo. 
Amei pra caralho, posso não ter demonstrado,
como devia, mas é 
a mais pura verdade.
Assim como fui amado também,
talvez até mais do que merecia,
e não soube reconhecer. Retribuir.
Tudo muito simples, elementar.

Há casos muito piores, como a gente está
cansado de ver. 
Mas sempre com o mesmo manjado desfecho.
O amor é flor delicada,
às vezes do nada perece, sem  motivo, explicação.
E isso acaba com a gente. Porque a gente quer
uma explicação. Um motivo plausível. 
Para amargar a culpa, 
se matar se for o caso.
Porque o amor que acaba por nada, por mixaria,
caramba ! Nem amor era. 
E o que pode ser pior do que se envolver,
passar anos a fio,
uma vida, 
acreditando em algo que não existia ?

































terça-feira, 2 de junho de 2020










                                            




 









                                                     a versão final








Como uma lei que não foi escrita, 
estou condenado a lembrar
o que tento esquecer. 
Esse sentimento que nem sentimento
mais é,
cujo hábito cultivo à contragosto.

Quem sabe um dia possamos
nos encontrar,
e com o coração menos duro,
fazer de conta que estamos em paz.
Assim, talvez, tudo enfim se encaixe.
Cada um se veja na versão do outro,
para chegar a versão final.
E o que vivemos, finalmente, 
encontre o seu devido lugar
dentro de nós.







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