segunda-feira, 27 de junho de 2022

                          

                               simbiose perfeita






Sempre que me perdi, 

tive a sorte de me reencontrar.

E para cada coisa que perdi,

veio outra em seu lugar.


           Meninas novinhas, novinhas,

           quase peladas,

           se exibem on line,

           como se não existisse pecado.

           Aliás, existe ?


De tanto esperar por dias melhores,

esquecemos de aproveitar os piores.

Que são os que mais ensinam.


            Amor com humor : simbiose perfeita.

            Amor com dor: ó, vida maledetta. 

            Amor com suor : ninguém inventou coisa melhor. 

            

            

 

 

domingo, 26 de junho de 2022




                      não custa sonhar





A chuva, o rio,

ruas, sombras, muros, 

trabalho, prazeres, 

memórias que esplendem em luzes trêmulas. 

Passos erradios depõem lares, palácios.

Altas torres de ódio e perdão se impõem.

Na vida que é um lamento só,meu canto é meu unguento.

Num sopro, num gemido, tudo se vai,

tudo se perde.

Tempestades dispersam as angústias e as chagas.


Lembranças fustigam, me impedem de ser feliz.

Tornam tudo um arremedo do que foi.

A tudo desmerecem e falsificam.

Quereria acreditar, mas nada é confiável. 

Muito menos o amor. 

Convém não pagar para ver.

Convém aderir a mentalidade reinante.

Converter-se a liturgia do mais valia.

Sob os auspícios da nova e frívola era global.


Chove. Ainda bem.

Cai a noite. Ainda bem.

Virar a página é preciso.

Amanhã é outro dia. O mundo não é bom,

mas sempre há compensações.

O sol brilhará outra vez,ah, mas eu amo a chuva...

Chuva que lava a vida.

Para que volte a ficar brilhante e mágica.

Não custa sonhar.








 


                          salto sem paraquedas




                                    

Ah, "o terrible frisson des amours" (Rimbaud).

Auge dos sentidos,  salto sem paraquedas, medida 

perfeita e reinventada de prazer.

Força avassaladora sob um céu de tempestades e bonanças.

Que todas as formas de querer engloba.

Não obstante a realidade espinhosa, andar sempre em brasas,

inocente e maldito, 

sobrevive em meio a guerras surdas, aberto a todas possibilidades.

Em lassidão se desintegrando.

No sexo mecânico se decompondo.

Com a memória se digladiando.

Onde os grandes momentos ? Onde o frisson, a magia ?

Tudo tem um prazo, requer condições.

O amor não é exceção. 

Dura enquanto o coração fala mais alto que a razão.








                    não perca tempo





Não perca tempo querendo se passar pelo quê não é.

Mais vale tentar ser melhor do que é.


Não perca tempo tentando mudar as pessoas.

Mais vale dar o exemplo. Ou afastar-se.


Não perca tempo lutando contra o tempo,

quando o mais sensato é dar tempo ao tempo.


Não perca tempo esperando reconhecimento, gratidão.

Faça a sua parte, dê o seu melhor, e durma tranquilo.


Não perca tempo com quem não vale o seu tempo, 

sua atenção, o seu amor. 

Se a recíproca não for verdadeira, não se detenha. 

 







 


          a vida não tem porto seguro





O céu passeia no jardim sem flores.

Dias extraviados no espaço-tempo, 

disfarçados de realidade,

imitam o vento.


Tão longe, tão perto, 

a dona do meu coração vai e vem,

vem e vai.

A vida vai e vem. Vem e vai.


Inútil arguir os poderes do mundo.

Assim nos encontramos, aleatoriamente dispostos

em nossas jaulas e prisões. 

Investidos de sentimentos contraditórios, buscando

encontrar uma mão estendida, um ninho.


O tempo é o alimento que nutre e mata.

Tudo se faz sombra e obituários.

A vida não tem porto seguro.

   

sábado, 25 de junho de 2022


         o que eu ainda quero da vida





A cada dia mais me desconheço.

Indefinidamente, regresso à vida.

Compartilhando a visão perturbadora da inocência

e da maldade.

Guardo comigo o princípio e o fim.

O fruto, a flor, sexo sem nome, o riso dissimulado,

o mistério de corações corroídos de ferrugem.


A vida que eu quis é a vida que eu tenho.

Precedida de submersas paisagens, âncoras de vida,

monopólio da infância que se quebra e se reagrupa.

À causa de encontrar-me tenho vivido.

Provando a terra, vasculhando gavetas, 

despencando de abismos metafóricos,

inúteis como dente do siso.


Que ninguém se atreva a julgar-me !

Sou meu próprio juiz e carrasco.

Sonho o sonho proibido.

Busco prazeres inconclusos.

Cheio e oco por dentro.

O coração repleto de sentimentos complexos.

O que ainda quero da vida ?

A lúdica paciência do pescador.







 

sexta-feira, 24 de junho de 2022


            amor & paixão





 


Na cronologia das paixões, o amor é intruso.

Híbrido. Rouba a cena.

Paixão é carne.

Amor é coração.


Da paixão ao amor, a vida gira ao contrário.

Paixão é o abismo dos sentimentos.

Amor é a fábula que se converte em usura.

Ambos separados pelo tempo, que é âncora e naufrágio.


Como tudo que se faz ausente, 

o desfecho bélico ou melancólico

devora os desejos.








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 Sepultar alguém vivo em nós não é fácil, mas é necessário. Não se trata de desejar o mal a quem foi importante, nem fingir que nunca existi...