o descanso do guerreiro
Segunda-feira talvez eu faça, ainda não sei.
Melhor seria na terça.
Se bem que quarta é o ideal.
No máximo quinta...
De sexta não passa.
Porque sábado e domingo é sagrado,
descanso do guerreiro.
Ninguém é de ferro, né ?
o homem arbitrário
Sofre sem dor
Se acovarda sendo audaz
Celebra a vida, esquecendo-se dos mortos
Entrega-se aos prazeres, desmerecendo o amor
Aprende fazendo loucuras
Descobre-se ateando fogo às vestes
É sempre assim, o homem e a besta que o possui.
O homem e seu dinheiro
O homem e seus segredos
Dividido pelo mundo
No tempo inaudível
No tempo que goteja
Homem cego, mutilado, corrompido
Acende um cigarro, sente naúsea do mundo
Vê nascer dentro de si o coração de pedra
Castigado pelo azul do verão
Crucificado na cama nupcial
De ansiedades vãs sofre
Herói e covarde
Duro e leal, ama os conflitos, atrás da fábula perfeita
Continua, não desiste, não esmorece
Persegue a própria sombra como um cão perdido
O homem-parasita
O homem-latrina
O homem-vampiro
O homem que chora, é gentil, intrépido
De todas as matizes, com seu coração arbitrário
Que, de fato, é bastante e demasiado.
Seu erro foi ter nascido.
mais do mesmo
Falta instrução.
Falta educação.
Falta vergonha na cara.
Falta asseio, indignação, vontade.
Em suma, falta-nos tudo.
O que esperar do futuro, senão mais do mesmo ?
Governantes inescrupulosos, vilipêndio, assalto
aos cofres públicos.
"Cada povo tem o governo que merece".
Josepf-Marie Maistre(1753/1821)
a gema primeva
Em meus passos, nem tão tardios, nem tão lentos,
retrocedo ao que permanece em mim
além do tempo.
Ao que estou sempre a recorrer.
Para me sentir mais digno, conformado
com o que ficou irremediavelmente inconcluso.
Mas que não deixou de ser belo.
Mesmo os erros, as mentiras, e todos aqueles
que compartilharam suas cruzes comigo.
Rostos que pairam acima dos estragos do tempo,
legado inexpugnável num mundo cada vez
mais inabitável, com seus roteiros de pedra e ratos
de laboratório.
No pedestal do tempo, talvez ascenda ao céu
o brilho da gema primeva.
à imagem e semelhança
Vivo de lembrar.
Lembranças perpassadas de luz, desabitadas
paisagens que reverberam em redundante desolação.
Como uma floresta em chamas.
Recolho-me no estio da antiga claridade, preso ao limbo
que convida ao olvido,
mas que sempre renasce e se propaga.
Quando tudo conspira para matar as antigas alianças,
ainda ansioso pela vida,
sinto-me parte de alguma existência.
À imagem e semelhança dos desterrados, dos mortos
sem lágrimas, meus irmãos,
o pó do mundo.
MINHA PÁTRIA
O que eu levo da vida é a magia
dos momentos que pareciam eternos.
A lenta juventude, a falsa impressão de que tudo
se ajustaria.
De que o amor jamais me trairia.
Me sinto como um viajante que se perdeu
ao longo do tempo.
Os sonhos de barro, quebrados.
À espera do que não veio.
Despreparado para as falsetas da vida.
Sou o que restou de mim.
Uma fração do que eu era para ter sido.
Mas de raízes profundas.
Adubadas por um coração generoso
que me permitiu seguir em frente.
Subsistindo na pátria em que nunca
deixei de ser menino.
a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...