A vida é como rapadura.
Doce mas dura.
guardador de memórias
Algo sempre nos falta. Pouco é muito, muito é pouco.
Meus pensamentos levo-os à cortejos de triunfos
à prova de fábulas.
Defendo o meu lado, porém o vício de viver
é danado de bom.
O coração com fundo falso é fértil em expedientes.
Não é culpa minha não ser levado a sério. Ou a sério demais.
Guardador de memórias para as horas difíceis, obedeço
à distração que queima o fogo, extinta a vontade de ser
mais do que posso.
Meu mundo inundado de sonhos desfeitos anula as virtudes,
você sabe, ninguém é confiável.
A verdade sai pelo ladrão. Sem ser cético nem dogmático,
a cabeça funde : Maniqueu, cuida dos meus.
Cada um merece o que não tem.
Quanto mais, pior. Quem supre, os desejos defenestra.
A percepção é a argamassa que engendra
as hipóteses.
Nada justifica abolir o juízo. Senso e contrasenso
anexam-se e se opõem.
Há que encontrar um lugar adequado para o ausente.
Porque no fundo, tudo consiste em minorar
o sofrimento.
cansei de estragar tudo
Eu e essa maldita mania de estragar tudo.
Nada que faço dá certo.
Meu passado me condena, já viram esse filme ? Ou terá
sido uma novela mexicana ?
Alma de polichinelo, zonzo da vida, cansei de tudo.
De enganar e ser enganado.
Despreparado para o entendimento, deponho os equívocos.
Desconfio de eloquentes manifestações de apreço.
Constato que não esclareço nem convenço.
O oposto de mim quem seria ? O alvo ou o arqueiro ?
A carapuça sabe a quem se destina.
Minha mente invadida de elipses, simetrias, desavergonha
as tripas.
Num ditoso dia, o terror girou a manopla
dos signos adversos,
de tanga, de canga,
e o memorial de maravilhas repeliu o espetáculo.
Sigo em frente mas já vou avisando : partes pudentas,
partes in partibus.
Não vi tudo mas é fácil deduzir.
Grandes mistérios, grandes ignorâncias.
Isto e aquilo não se resolvem, no máximo se toleram.
De tanto tropeçar em equívocos, aprendi a me foder
sem reclamar. Lamúrias, só in extremis.
Não era para ter sido assim, mas foi.
O peripatético produzindo mudas, galhos periféricos.
Menos mal.
Breve o conflito acaba.
Até lá, bato continência para o acaso.
tremenda chinfra
As luzes do entendimento são refratárias.
Cabeças demais, lucidez de menos.
Tempos bizarros em que tudo se sabe, e nada se sabe.
Sob os auspícios do Grande Irmão digital.
A humanidade reverencia o todo-poderoso-deus-máquina.
Tremenda chinfra, não empresto meus demônios à ninguém.
Websatã saqueia o mundo, aceita um de justis belli causis na veia ?
O futuro saberá o que fazer. Ou não. Pausa para "leros, leros e
boleros."
Os corredores se multiplicam, labirintos são águas passadas
sem Borges a guiar-nos.
No que me diz respeito, vivo de álibis.
Minhas parcas virtudes dei-às à guiza de ludibrir
a memória.
Sendo o que fui até não poder mais.
Um Fenix rendido em clitóris, garras afiadas,
ninhos de marimbondos.
Penso no bicho que sou e me vejo com penas, escamas,
chifres. Verme.
Carunchando a madeira
Comendo carne podre.
Parasitando as entranhas da vida.
Meu pacto com o mundo é feito de hipóteses,
truques e máscaras.
A justa razão sempre se desintegra.
O vício de sobreviver tramitando na Navalha de Occan.
Nada substitui o ceticismo.
Um cara ou coroa, talvez.
Acostumemo-nos com adredes e Mitrídates.
Entre quadrúpedes e salafrários, cumpra-se o propósito.
O lobo pastoreia as ovelhas, e tudo bem.
Os antigos diriam, o labor de pensar onera e não compensa.
Sejamos tangidos, pois !
Mimeses, arquétipos, protótipos.
Todos os danos do saber humano mendigando bom senso,
comendo pelas beiradas.
Cagando apoteoses, panaceias, incunábulos,
enquanto as bibliotecas queimam,
e os livros servem de banquete as traças.
Lanterna à mão, a luz do entendimento bruxuleia
entre o egoísmo e a apatia.
Transige entre o messianismo e o pelangianismo.
A plateia ignora as evidências, mentes fechadas feito ostras.
Só os sábios sabem calar dizendo tudo.
Mas os velhos mestres envelheceram.
Mudaram as coisas, depravaram as palavras.
A nova realeza é o visgo, o vício, a latrina da humanidade.
Meninas prenhes de nibelungos que buscam o apostolado infame.
Pensando bem, tudo não é muito.
Pode até ser pouco.
Quando se vive só para constar.
O cômputo das ruínas é o catarro das heresias expectantes.
Emboscadas ? Ninguém mais me engana.
Saber não basta, é preciso desfazer, corromper
a ordem reinante.
Não é preciso perder os dedos para manter os anéis.
Não no Brasil.
Risus teneatis, certo Horácio ?
Eleger um notório rufião para voltar ao Poder,
qual o problema ?
O que vale é tudo que se possa desdizer.
Apedrejar e fugir.
O jeito é descabelar o palhaço.
Enxotar a xota.
Bem-aventurado é o silêncio quando falta assunto.
A gangrena estanca a hemorragia, mas mutila.
O entendimento esbarra no quiprocó.
Consensus omnium aqui cheira a embuste - toda unanimidade
é burra, como se sabe.
Dialética, sim !
Abaixo a retórica, o álibi ubíquo, a farsa
que transforma a culpa em curare.
O conluio em lautas pilantragens e quejandos.
Senão, vejamos : como é possível que isso
esteja acontecendo ?
E a pensar que poderia ter sido tudo diferente,
se os holandeses não tivessem sido expulsos.
Foi quando a cobra comeu o próprio rabo.
a cura
Quando a solidão chega,
todo mundo vai embora.
amor incondicional
começa bem e acaba mal.
Nem alegre, nem triste.
Nem começo, nem fim.
Não é a primeira vez
que mentem pra mim.
Mal chegou e logo partiu.
Esqueci de passar a tranca
e o amor fugiu.
Sol e ventania.
Adeus calmaria.
Não há cura
sem uma dose
de loucura.
ser ou não ser
Me deparei com a morte algumas vezes.
Não me pareceu assim tão tenebrosa.
Devo dizer que me foi até amistosa.
Da última vez, me olhou na cara, piscou o olho
e foi embora.
Só faltou dizer, velho, fica frio,
volto outra hora.
Toda dança tem seu ritmo
Todo rio tem seu curso
Todo povo tem o governo que merece.
Ser de esquerda, sabendo-se, sobejamente,
que a esquerda não presta,
é próprio de quem, sendo intelectualmente inepto,
jumenta-se.
Muita parafernália e pouco tutano.
Ases nos games, asnos na vida.
Estúpidos, desarticulados,
fumam seus baseados
não largam dos celulares
não tem opinião sobre nada
nada além do que falam os youtubbers
que ganham fortunas para tutelar
essa geração que vive sem viver
emparedados entre dois mundos
entre ser ou não ser.
à margem de mim Passei a vida à margem de mim mesmo. Desperdicei meus parcos talentos por falta de discernimen...