Meu lugar não tem lugar
onde gostaria de estar.
Meu lugar, no teu coração,
já está ocupado.
se liga, moça
Não sabe o que quer
Faz tudo errado
E depois culpa os outros.
Não sabe o que quer
E se sabe
Não faz por merecer.
E depois culpa os outros.
Não sabe o que quer
Não sabe amar
Se liga apenas nas coisas materiais
E depois culpa os outros
Por nada obter.
Não sabe o que quer
E tudo quer
Mas sem retribuir
Fica a ver navios.
Por culpa dos outros, é claro.
Moça, se manca, vê se toma jeito.
O tempo passa, as oportunidades desperdiçadas
não voltam.
Desse jeito acaba na roça
ou volta para o puteiro.
a sete chaves
Estrelas estalam
no firmamento abandonado
dos sonhos impossíveis.
Aedos contorcem as formas
que ao sono letárgico conduzem.
Rios seguem seu curso infindável.
Os dias se desmancham em sumidouros
inescrutáveis.
Amor e horror se locupletam alheios
à transitoriedade de tudo.
Vastos elementos misturam-se ao excremento
cum grano salis.
Poetas marginais catam feijão
em searas esbatidas por todos os ventos.
Estações sem flores
Colmeias sem mel
deflagram
sucessivos rascunhos
da vida guardada a sete chaves.
Que cessem os desenganos.
E volto a fazer planos.
Em noites de Perseidas
a exuberância se supera.
Ajudou quem não merece ?
Perdeu, mané !
O sorriso que me cativou,
quanta falsidade escamoteou...
O tempo passou, a idade chegou,
boca sem dentes me abocanhou.
O começo é o fim de trás para frente.
O corpo-memória faz
sua própria história.
a vida é estranha
Eu bebo todo o dia.
Bebo e fumo pra cacete.
Sobrevivo com as coisas que me dão, que acho na rua.
O cardápio da lata de lixo é bem variado.
Tem até recheio com barata e formiga kkkk.
Mas não tenho nojinho não. Quem vive nas ruas não pode
se dar ao luxo dessas frescuras.
Qualquer coisa que sirva para forrar o estômago é bemvida.
Comida nunca foi problema.
Duro é o de sempre, o convívio com o bicho-homem.
Volta e meia tem uns arranca-rabo.
Já levei duas facadas.
Surras, já perdi a conta.
Teve uma vez que quase morri.
Quebrei um punhado de ossos, fui parar no hospital,
na ala vip...dos indigentes kkkkk.
Mas dois dias depois me botaram na rua.
Todo enfaixado, mal podendo andar. Aí foi dureza, véio.
Ninguém liga nem tem consideração por indigente.
Quando muito, dão uns trocados para aliviar a consciência.
Um ou outro mais humano paga uma refeição, dá umas
mudas de roupa.
Mas no geral, até que não é tão ruim.
Se eu não tenho ninguém, família ? Ah, tenho sim, mas não
sei mais nada deles.
Não querem saber de mim, e nem eu deles.
Me voltaram as costas quando mais precisei.
Me crucificaram, sem atenuantes.
Tudo porque perdi tudo. Eu tinha posses, sabe ? Tinha
uma vida boa, confortável, mas confiei demais num sócio,
e acabei falido.
Entrei em desespero, dei de beber, desanimei.
Não demorou para que minha mulher me trocasse por outro.
E sem grana, todo mundo desapareceu. Parentes, amigos...
Fui posto no olho da rua.
Meus filhos nem quiseram me ver.
Paguei os pecados, acho.
Mas hoje vejo as coisas por outro prisma.
Cheguei a conclusão de que não perdi nada.
Era tudo ilusório.
A verdade é que as coisas materiais não me faziam feliz.
E os afetos que eu tanto prezava, não eram reais.
O que eu tenho hoje vale muito mais do que eu tinha.
Durmo todo dia num lugar diferente.
Tenho esses dois cães aí que não me largam e cuidam de mim.
Não tenho mais gastrite, dor de cabeça, preocupação com contas,
em agradar os outros.
Outro dia vi minha ex-mulher passando do outro lado da calçada,
e para minha surpresa, não senti nada. Nem raiva, nem mágoa,
nada. Parecia uma estranha.
A vida é estranha.
A gente tem um vício estranho em transformar sofrimento em mérito. Acreditamos que o amor verdadeiro precisa ser uma batalha épica, uma co...