domingo, 4 de fevereiro de 2024



                              o único credo confiável




Abrahão foi um eleito de Deus.

Moisés foi um eleito de Deus.

Rezam as Escrituras que viveram

e morreram sob a proteção divina.

Os demais, sejamos francos, mais penaram

e sofreram do que outra coisa. 

Perseguidos, torturados, mortos, esquartejados,

comidos por leões, quase todos pagaram com a vida

por pregarem a paz e o amor ao próximo.


Ser cristão sempre foi sinônimo de sacrifício e privações.

E tudo pela simples promessa de obter algo tão subjetivo

como a remissão dos pecados e a vida eterna.

Nunca entendi a lógica de sacrificar o próprio filho

por nada, posto que a humanidade continua de mal a pior.

Sem dúvida, é uma bela narrativa.

Pena que sem nenhum sentido e efeito prático.

O homem é mau por natureza, e até os ensinamentos de Cristo

foram e continuam sendo deturpados.

Praticar o bem é o único credo confiável.  
















quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024



                                 o resto é resto





Insinua-se nas manhãs ensolaradas a inquieta alacridade

dos prazeres sem culpa.

A beleza passageira se renova, amorosa e transparente.

É como devia ser, nada de ódio nem insultos.

Olhares viciados em alucinações espiam as mesmices 

convencionais das praias sem nevascas.

O ar fresco rescende a descansos veludosos.

Luz e sombra não se confundem ao meio-dia.

Alegria, afetos, manhãs ensolaradas : sempre haverá

compensações para o desvario compulsório.

Quem canta seu subconsciente que aguente as consequências.

"O passado é lição para se meditar, e não para reproduzir", 

é o que nos convém.  

A turba não perdoa o que não entende.

Cresta-se a vida sem saudade de ter sido, o resto é resto. 

O eu que permanece comigo é o mesmo que dá testemunho

das manhãs adormecidas.

Sonhando com um mundo melhor em pleno dia. 







sexta-feira, 26 de janeiro de 2024



                            a fraude





A compreensão do mundo requer 

muito mais do que o simples conhecimento. 

Inteligência só não basta.

Futilidade e civilização se locupletam.

Malandragem vale mais que sabedoria, até os tolos sabem.

Os velhacos se reconhecem, os vícios viciam-se em sinecuras

sem sacrifício.

No mundo vasto e desfeito, compreender o básico 

desperta vaga-lumes interiores.


Pairam sobre nós 

estigmas susceptíveis aos embustes cotidianos.

Mentiras e traições tecem redes de pesadelos sem fim.

Aprendemos o que nos ensinam manietados por liturgias

e crenças fadadas ao desengano.

Através das coisas insondáveis, as secretas leis eternas

se cumprem.

A compreensão do mundo passa pela aceitação tácita  

das coisas que passam mas não passam.

O delicado tempo modela o duradouro e o perdido.

Para legitimar a grande fraude que nos legam.






sábado, 6 de janeiro de 2024




          dupla realidade





Há uma realidade paralela que nos passa despercebida.

Nela transitam os sentimentos alheios.

Feita das aleivosias que os outros, veladamente,

formulam sobre nós.

Forjando um outro eu que nem suspeitamos.

Do qual desdenha até quem mais amamos.


Pense, não se deixe enganar pela realidade aparente.

Pouco ou quase nada corresponde àquilo que aparenta.

O gesto amigo facilmente se reverte em hostilidade.

Os laços afetivos embutem armadilhas.

Geralmente se desfazem quando contrariados.

A realidade nada mais é que a projeção de nossas

crenças e expectativas.

No encontro de nós mesmos, o descobrimento

retardado pela força de ver é sempre adiado.

Não tarda que todas as batalhas sejam perdidas.

Sucumbem à realidade que não vemos, feita de mentiras, 

traições, maledicências. 


Nas experiências que se multiplicam, os desiludidos

seguem iludidos, os mal-amados seguem amando, 

até que o tempo depure as coisas.

E os olhos já não chorem quando o amor

resultar inútil.

Para renascer, quem sabe, numa vida 

sem mistificações.



sexta-feira, 22 de dezembro de 2023



          nunca foi tão bom viver



O mundo está indo para o caralho, 

é o que se diz.

Mas não parece.

Nunca houve tanta opulência.

Nunca houve tanta riqueza, ostentação.

Nunca se usufruiu de tanta liberdade, com uma 

ou outra exceção.

Nunca se desfrutou de tantos prazeres, 

de comida à lazeres.

Nunca se viveu tão bem, exceto para os mal nascidos

ou que optaram por vegetar, 

por enveredar pelos caminhos tortuosos

das drogas e da criminalidade.

O mundo pode estar indo para o caralho, mas, 

convenhamos,

nunca foi tão bom viver.









 

sábado, 16 de dezembro de 2023



                causas perdidas



Louve-se a perenidade das coisas sem nome.

O labor anônimo, o sacrifício velado às causas perdidas.

O bem que se faz apenas por fazer.

Bendito tudo que encanta, que alegra,

faz alguém sorrir.


Oxalá a vida fosse simples como repartir um pão,

para que cada um tivesse o seu quinhão,

e ao fim de cada dia, o aconchego de um lar

para apascentar o coração.


Mas o homem-primata não foi feito para viver

em paz e no sossego.

Expulso do Paraíso, perseguido pelos deuses 

desdenhosos do Olimpo,

seu destino inglório é perseverar no erro.

Rodeado de desamparo, transmuta-se

como um camaleão. 

Só não consegue ser feliz.






                   as coisas sem nome





O que aconteceu é tarefa já cumprida.

O presente se revela e se mascara de silêncios homicidas.

Descobre-se o mito que não tarda em desfazer-se.

Alegres e aflitos, matamos a esperança a

fim de engendrar novos inícios.

Crivados de enigmas e artifícios.

O equilíbrio do mundo rejeita a hipótese da inocência

sem culpa.

O indecifrável compreende a eternidade das coisas sem nome.


Quem dera a beatitude da luz que se derrama nos vergéis.

Para tornar menos penosa a manhã que chega prenhe

de imposturas. 

Poder amar a mudez expectante das torturas e feras enjauladas.

Perdoar-se pelo crime de viver.

Para que a vida ainda valha a pena ser vivida.











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