aprendizado
Não o que está escrito nos livros.
Não o que ensinam na escola.
Não o que mentores de araque proclamam.
Parta do pressuposto de que tudo é falso, enganoso.
Talvez aí aprenda alguma coisa.
os jogos do mundo
Virão os desgostos, os poços sem fundo.
Virão as chagas dos martírios e injustiças.
Virão as mirras das tragédias, o choro dos perdedores.
Virão dias bons e dias ruins.
Que passarão da mesma forma.
A vida renasce a cada manhã caiada de novo.
Respire fundo, não deixe ninguém nem nada te afetar.
O tempo audível te fará justiça.
Talvez os jogos do mundo te confundam
mas continue jogando, nunca deixe de tentar.
A faina das conquistas implica em tropeços, erros,
decepções.
Em suma, tudo serve de aprendizagem.
A virtude é fugaz, porquanto em pacto inconsentido
com o acaso.
Mas nem por isso se desvie do caminho do bem.
Lembre-se, as pegadas se desmancham,
mas a caminhada continua.
para unir ou separar
Minhas tristezas aprendi a varrer para debaixo do tapete.
Me faço de forte quando minha vontade é desertar,
tomar um chá de sumiço. Sigo em frente por instinto.
Sinto o que sinto porque minto para mim mesmo,
quando minha vontade é de chorar,
mandar tudo para o raio que o parta.
Mas não sou burro, dou-me por feliz por chegar onde cheguei
com as próprias pernas, sem passar ninguém para trás.
Meu grande pecado foi trair quem mais me amou.
Sigo em frente porque não posso senão seguir em frente.
Ciente de que estou no lucro.
Que já vivi o suficiente.
Que tive e tenho muito mais do que mereço.
Certamente alguém lá em cima gosta de mim.
Alguém que é meu escudo, meu tudo, não há outra
explicação para ter sobrevivido, superado tudo
que superei.
Não me vejo com a idade que tenho, continuo cometendo
os mesmos desatinos, imaturo, inconsequente a ponto
de me apaixonar de novo e querer um novo lar, família,
essas coisas cuja data de validade é mais curta
que supomos.
Mas, ora, a vida é curta, como se diz, e a idade,
o tempo, são apenas detalhes. Há que aproveitar,
sem medo de ser feliz, acreditar que a realidade
pode ser melhor que o sonho.
E verdade seja dita, tu nunca quiseste ser parte
desse sonho. Te conheci quando ainda estava morno
o cadáver do amor da minha vida, e me contentava
com qualquer coisa que me davas,
basicamente sexo remunerado, tardes idílicas
que me levavam a tolerar tuas trapaças.
Mas eis que a vida, para variar, não tardou a dar o troco,
e para teu azar, o feitiço - no caso - virou
contra a feiticeira, e essa barriga que cresce a olhos vistos
te obriga a assumir o que sempre rejeitaste.
Loucura ou não, um vínculo eterno, um filho
para dar testemunho do que fizemos e fizermos
de certo e errado.
Um filho para fazer sorrir e chorar.
Para nos unir ou separar.
roubando a loucura dos loucos
O tumulto das nuvens sobranceia almas triunfantes.
A elegância dos preconceitos emaranha-se
em labores desafinados.
A morte branca engendra ignorâncias iluminadas.
Nós somos a esmeralda das águas, a matiz dos colibris
em chamas.
Ventres estéreis acalantam o mundo com seus
segredos estelares.
Cantarás e eu saberei que as feridas alumiam apoteoses.
Descansarás, pois, humildes e imaginosos
ante a clâmide austera da ciência.
Preceptores malsinados entretecem desditas silentes.
Roubando a loucura dos loucos.
Somos eras proferindo cascatas marulhentas em prol de ovações
proféticas.
Fídias esculpe o belo absoluto que a plebe ignara ignora.
Para que a erudição ? Para que o conhecimento ?
Universaliza-se a cultura do lixo para gáudio da humanidade.
LAOS DEO ! promulga a multidão apoplética.
Babel haveria de se rir de nosso destino.
Rastros de antigos acordes acabam em danças feéricas.
Nada se ajusta sem que se macule e se conspurque.
Não tenho nada contra, muito menos a favor.
Humanamente impossível não mentir.
Hoje, amanhã e sempre !
Marchamos certo, por causas tortas.
Trágicas criaturas, para onde vão ?
Votivas sensitivas ampliam os cemitérios.
Meu nome é amor mas pode me chamar de iva,
pássaro, anjo.
Crucificado já estou.
a última morada
Lá onde veredas preguiçosas descansam
e rios sem perspectivas desaguam
nuvens dançam
manhãs silenciosas pastam
cismo o sereno silêncio
que desejaria ter
como última morada.
Lá onde não há roubos, crimes, carnavais
moças de vestidos coloridos passam
crianças jogam bola na praça
e janelas abertas
espiam o tempo que não passa
sonho ter
como última morada.
Lá onde as inquietudes repousam como flores no caixão
e o que passou já não importa
e o esquecimento suavemente vem
e o pobre amor caminha sobre as águas
quisera ter
como última morada.
Lá onde minha mãe cozinhava, fiava, tecia,
e minha avó capinava, sem nunca perder a
alegria,
e o meu pai possuía essa grande força que o fez eterno,
e um eco bondoso paira sobre todos aqueles
que habitaram minha gloriosa infância
em lembranças que nunca me abandonaram,
vislumbro o menino que ainda há em mim
a me levar pela mão
a última morada.
inquietudes
As inquietudes gestam desejos e preocupações.
Ou será o contrário ?
Vivo inquieto nem sei bem por que.
Mesmo quando tudo está calmo, invento torturas,
rasgo a partitura que seresta os dias melodiosos.
Do nada, o chão queima-me os pés e frita as certezas
emanadas dos antros da mente.
A inquietude circunda os interesses e lutas da vida
que bufa e se barafusta sob bençãos e tristezas.
A ansiedade sodomiza medos e angústias.
Mas, a despeito de tudo, é sempre uma insuportável paz
que obsidia a coragem perpétua.
O sol quebrado oferece sua esperança corajosa.
Aceito de bom grado.
pequenas grandes coisas
Passará a dor
Passará o amor
Passará a juventude
Passará o tempo do plantio
Passará o tempo da colheita
Passarão os medos
Já não importarão os segredos
Tudo a terra há de comer.
Morremos em pequenos sorvos sem sentir
Passam os anos lhanos
Assim como os insanos
Perdura, assim, como um livro a ser lido
Um mar a ser navegado
A vida que é ao mesmo tempo
Esperança e tédio
Doença e remédio.
Mas, ai ! Frente ao fluído inimigo
O inútil duelo jamais se resolve
Naquilo que não foi, nem pôde ser
Sofremos por coisas que existem
Sem existir
Luta o corpo contra o tempo
Pelejas que não pode vencer
Angústias na forja das emoções
Ódio, raiva, ressentimentos, coisas
Que envenenam a vida.
Quantos regalos nos são dados
E não damos valor
Todas as regalias e consentimentos
E não damos valor
Incapazes de ver nas coisas mais simples
Todo seu esplendor.
Ah, mas é apenas uma flor...
Uma manhã ensolarada e tranquila...
Um dia sem dor...
Pequenas grandes coisas que passam despercebidas
Desaprendidos de sentir o gosto da fruta
O cheiro da terra molhada de chuva
Das pequenas partilhas que permeiam
Um mundo amoroso e patético
Contra tudo o que maltrata e definha.
Da morte que nem morte é.
a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...