domingo, 18 de fevereiro de 2024



                             aprendizado



Não o que está escrito nos livros.

Não o que ensinam na escola.

Não o que mentores de araque proclamam.

Parta do pressuposto de que tudo é falso, enganoso.

Talvez aí aprenda alguma coisa.





 






                os jogos do mundo





Virão os desgostos, os poços sem fundo.

Virão as chagas dos martírios e injustiças.

Virão as mirras das tragédias, o choro dos perdedores.

Virão dias bons e dias ruins.

Que passarão da mesma forma.

A vida renasce a cada manhã caiada de novo.

Respire fundo, não deixe ninguém nem nada te afetar.

O tempo audível te fará justiça.

Talvez os jogos do mundo te confundam

mas continue jogando, nunca deixe de tentar.

A faina das conquistas implica em tropeços, erros,

decepções.

Em suma, tudo serve de aprendizagem.

A virtude é fugaz, porquanto em pacto inconsentido

com  o acaso.

Mas nem por isso se desvie do caminho do bem.

Lembre-se, as pegadas se desmancham, 

mas a caminhada continua.


 





quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024



                    para unir ou separar



 

Minhas tristezas aprendi a varrer para debaixo do tapete.

Me faço de forte quando minha vontade é desertar,

tomar um chá de sumiço. Sigo em frente por instinto. 

Sinto o que sinto porque minto para mim mesmo, 

quando minha vontade é de chorar,

mandar tudo para o raio que o parta.

Mas não sou burro, dou-me por feliz por chegar onde cheguei

com as próprias pernas, sem passar ninguém para trás.

Meu grande pecado foi trair quem mais me amou.

Sigo em frente porque não posso senão seguir em frente.

Ciente de que estou no lucro.

Que já vivi o suficiente.

Que tive e tenho muito mais do que mereço.

Certamente alguém lá em cima gosta de mim.

Alguém que é meu escudo, meu tudo, não há outra

explicação para ter sobrevivido, superado tudo

que superei.

Não me vejo com a idade que tenho, continuo cometendo

os mesmos desatinos, imaturo, inconsequente a ponto

de me apaixonar de novo e querer um novo lar, família,

essas coisas cuja data de validade é mais curta

que supomos.

Mas, ora, a vida é curta, como se diz, e a idade, 

o tempo, são apenas detalhes. Há que aproveitar, 

sem medo de ser feliz, acreditar que a realidade 

pode ser melhor que o sonho.


E verdade seja dita, tu nunca quiseste ser parte 

desse sonho. Te conheci quando ainda estava morno

o cadáver do amor da minha vida,  e me contentava 

com qualquer coisa que me davas,

basicamente sexo remunerado, tardes idílicas

que me levavam a tolerar tuas trapaças.

Mas eis que a vida, para variar, não tardou a dar o troco,

e para teu azar, o feitiço - no caso - virou

contra a feiticeira, e essa barriga que cresce a olhos vistos

te obriga a assumir o que sempre rejeitaste.

Loucura ou não, um vínculo eterno, um filho 

para dar testemunho do que fizemos e fizermos 

de certo e errado.

Um filho para fazer sorrir e chorar.

Para nos unir ou separar.











 







 





 
















quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024



                         roubando a loucura dos loucos





O tumulto das nuvens sobranceia almas triunfantes.

A elegância dos preconceitos emaranha-se 

em labores desafinados. 

A morte branca engendra ignorâncias iluminadas.

Nós somos a esmeralda das águas, a matiz dos colibris 

em chamas.

Ventres estéreis acalantam o mundo com seus

segredos estelares.

Cantarás e eu saberei que as feridas alumiam apoteoses.

Descansarás, pois, humildes e imaginosos

ante a clâmide austera da ciência.

Preceptores malsinados entretecem desditas silentes.

Roubando a loucura dos loucos.

Somos eras proferindo cascatas marulhentas em prol de ovações

proféticas.

Fídias esculpe o belo absoluto que a plebe ignara ignora.

Para que a erudição ? Para que o conhecimento ?

Universaliza-se a cultura do lixo para gáudio da humanidade.

LAOS DEO ! promulga a multidão apoplética.

Babel haveria de se rir de nosso destino.

Rastros de antigos acordes acabam em danças feéricas.

Nada se ajusta sem que se macule e se conspurque.

Não tenho nada contra, muito menos a favor.

Humanamente impossível não mentir.

Hoje, amanhã e sempre !

Marchamos certo, por causas tortas.

Trágicas criaturas, para onde vão ?

Votivas sensitivas ampliam os cemitérios.

Meu nome é amor mas pode me chamar de iva,

pássaro, anjo. 

Crucificado já estou.












terça-feira, 13 de fevereiro de 2024



                  a última morada





Lá onde veredas preguiçosas descansam

e rios sem perspectivas desaguam

nuvens dançam

manhãs silenciosas pastam

cismo o sereno silêncio

que desejaria ter 

como última morada.


Lá onde não há roubos, crimes, carnavais

moças de vestidos coloridos passam

crianças jogam bola na praça

e janelas abertas

espiam o tempo que não passa

sonho ter

como última morada.


Lá onde as inquietudes repousam como flores no caixão 

e o que passou já não importa

e o esquecimento suavemente vem

e o pobre amor caminha sobre as águas

quisera ter

como última morada.


Lá onde minha mãe cozinhava, fiava, tecia, 

e minha avó capinava, sem nunca perder a

alegria,

e o meu pai possuía essa grande força que o fez eterno,

e um eco bondoso paira sobre todos aqueles

que habitaram minha gloriosa infância

em lembranças que nunca me abandonaram,

vislumbro o menino que ainda há em mim 

a me levar pela mão

a última morada.









  


 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024



                    inquietudes





As inquietudes gestam desejos e preocupações.

Ou será o contrário ?

Vivo inquieto nem sei bem por que.

Mesmo quando tudo está calmo, invento torturas, 

rasgo a partitura que seresta os dias melodiosos.  

Do nada, o chão queima-me os pés e frita as certezas

emanadas dos antros da mente.

A inquietude circunda os interesses e lutas da vida 

que bufa e se barafusta sob bençãos e tristezas.

A ansiedade sodomiza medos e angústias.

Mas, a despeito de tudo, é sempre uma insuportável paz 

que obsidia a coragem perpétua. 

O sol quebrado oferece sua esperança corajosa.

Aceito de bom grado.



 

domingo, 11 de fevereiro de 2024



                  pequenas grandes coisas





Passará a dor

Passará o amor

Passará a juventude

Passará o tempo do plantio

Passará o tempo da colheita

Passarão os medos

Já não importarão os segredos

Tudo a terra há de comer.


Morremos em pequenos sorvos sem sentir

Passam os anos lhanos 

Assim como os insanos

Perdura, assim, como um livro a ser lido

Um mar a ser navegado

A vida que é ao mesmo tempo

Esperança e tédio

Doença e remédio.


Mas, ai ! Frente ao fluído inimigo

O inútil duelo jamais se resolve

Naquilo que não foi, nem pôde ser

Sofremos por coisas que existem

Sem existir

Luta o corpo contra o tempo

Pelejas que não pode vencer

Angústias na forja das emoções

Ódio, raiva, ressentimentos, coisas

Que envenenam a vida.


Quantos regalos nos são dados

E não damos valor

Todas as regalias e consentimentos

E não damos valor

Incapazes de ver nas coisas mais simples

Todo seu esplendor.

Ah, mas é apenas uma flor...

Uma manhã ensolarada e tranquila...

Um dia sem dor...

Pequenas grandes coisas que passam despercebidas

Desaprendidos de sentir o gosto da fruta

O cheiro da terra molhada de chuva

Das pequenas partilhas que permeiam

Um mundo amoroso e patético

Contra tudo o que maltrata e definha.


Da morte que nem morte é.















  


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