quarta-feira, 6 de março de 2024



                           à beira do caos





Persistem em nós sonhos recalcitrantes, 

pêndulos que ultrapassam o tempo de desenganos 

e solidões.

A bem-aventurança da fé espúria nos acompanha,

entre esperanças e abismos veneráveis.

A manopla do tempo verte experiências em meio 

a ondas de ternura e expiação.

À beira do caos, o sol de branca harmonia conjura

os elementos vivos da Criação,

para que o cio das flores e das dores se perpetue além 

da carne miserável.

Há sempre mortos sentados à mesa circular

à dar boas-vindas ao inferno.










                            a cultura do lixo





A nostalgia só acomete os velhos, procede ?

Será porque a vida de antigamente era melhor, mais leve ? 

Ou porque os jovens de hoje professam outros valores ?

O rebaixamento cultural é público e notório, sob 

os auspícios da era digital.

A cultura do lixo e das ilicitudes impera.

A desagregação da família, a degradação dos costumes,

tudo hoje nos remete a quebra dos pactos sociais

e afetivos.

Curtir o momento, a qualquer preço, é a palavra de ordem.

Não esperem que os anjos digam amém.









domingo, 3 de março de 2024



                 à forceps





O que seria de mim se me abandonassem

as secretas janelas sobre os campos.

Guardadas na memória como um deus marítimo,

a seu tempo, a seu destino, umbilicalmente preso ?

Abraços fugitivos afastam ou abençoam ? 

Tudo aqui devora os itinerário dos longos labirintos 

que não entendo.

Recolho-me as solidões de obscuros idiomas.

Na humilde ignorância de quem sabe ter tido mais sorte

do que juízo.

Como hei de crer em dias melhores, se o melhor

ficou para trás ?

O incansável tempo múltiplo multiplica os espinhos

das trepadeiras, 

despedaçando a sabedoria arrancada 

à forceps.





 




                 o anticristo



A maldade sobrepõe-se a maldade.

Atrás do arquetipo ideal.

Signatários do plano geral da extinção.

Putin, Kim Jong Il,  ou algum hacker lunático,

quem terá a primazia ?

A vida investe contra a vida.

Os elementos vitais da criação partem-se à beira

do antiuniverso.

O Deus misericordioso à mercê do anticristo. 








             o soluço da terra



Somos contemporâneos de raças malditas.

De assassinos, saqueadores, de homens que incendeiam 

florestas, poluem rios, mares, 

matam por matar.

Se autoproclamam grandes e admiráveis, quando não passam

de genocidas, estupradores, doentes.

Conspurcam tudo o que os rodeia e o serve.

Lutam por poder, dinheiro, matando, escravizando.

Dementes ameaçam deflagar o Apocalipse com arsenais

de auto-aniquilação, pode haver algo mais insano ?


Observa a tua obra, ó Pai, e ouça o soluço da terra.

O cordeiro redentor - teu filho ! - foi sacrificado em vão.

O sangue derramado na terra prometida não para de jorrar.

O dia do Juízo Final já chegou. 



  


                                   laços que atam e desatam 






Há no coração um compartimento secreto, inviolável.

Em que os achados e perdidos da vida convivem.

Onde há sempre um cão, um gato, algum bicho de estimação 

para lembrar.

Onde há sempre uma canção inesquecível, antigos folguedos, 

férias de verão, um amigo que tocava violão, 

como era mesmo o nome dele ?


Há sempre restos, rostos, desgostos, tristezas e alegrias 

diluídas ao longo do tempo.

Um câncer sorrateiro, o adeus prematuro de entes queridos.

Há sempre segredos, mentiras,

amores passageiros.

Nomes que ficaram marcados.


Há sempre o de sempre.

Uma imensidão de vazios.

Laços que atam e desatam.


Há sempre muito à lembrar.

Há sempre muito à olvidar.

Sorte de quem teve uma vida boa

e viveu para contar.










sábado, 2 de março de 2024




                      roubando a cena





O sol é sempre o mesmo

mas cada manhã é diferente.

Tudo é definitivo

até o próximo instante.

Você olha e de repente

já não é aquilo.

Um palco de circunstâncias rouba a cena,

a cartola, a carteira...



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