sábado, 6 de abril de 2024



                 amor em tempos modernos





Os tempos modernos rompem barreiras,

desmontam antigas fachadas.

Exalam esplendor e vulgaridade, 

enquanto se diluem na brevidade.


Mulheres de bundas perfeitas atiçam 

a imaginação.

É tempo de dar folga ao coração.

Conter os sentimentos. 

Não vá ser burro de se apaixonar.

Acostume-se ao descartável.

Deixe de confissões patéticas, ninguém liga 

para seu chororô amoroso. 

Ignore certas coisas. Chifre está na moda.


Em tempos profanos, a consciência proíbe e liberta.

Imaginação a serviço da fantasia.

Possuindo e despossuindo, o atavismo monacal e sublime,

modernamente, tudo corrompe.


Percorro meu prosaico itinerário

escrevendo poesias de amor 

num mundo pervertido.


  















                   identidade





Pouco importa a miséria, as guerras, 

as desavenças cotidianas.

Tudo é como sempre foi.

Nada faz diferença ante os elementos invioláveis

da Criação profanada.

Não perca tempo tentando entender.

O mundo não tem sentido, não é para ser entendido.

Na letargia de cada dia, juízos deturpados 

confundem o aprendizado.

Parta do princípio de que tudo se encere 

na realidade de cada um.

No sono rancoroso do tempo, uma dor sem nome

perfura o puro, o heroico, o bem intencionado.

No entanto, sempre é possível moldar 

o curso das coisas, contrapondo-se ao inesperado,

construindo reflexões maduras.

Deixando tudo para trás, se necessário.

Família, amigos, afetos, tudo o que tolhe e oprime.

A busca da própria identidade começa pelo fim.





 







  






                     a nova velha vida





Novos dias virão.

Novos e velhos enigmas.

Conhecerás pessoas, beijarás outras bocas.

Oportunidades surgirão.

Novos e velhos equívocos.

Amarás quem não deve.

Esperarás pelo que não vêm.

Alegrias e tristezas coexistindo.

Alimentarás sonhos e desejos.

A realidade sempre deixando a desejar.

A nova velha vida prima por ser repetitiva.


  




  

quinta-feira, 4 de abril de 2024


                                    campo minado



O despertar para a existência é como pisar 

em campo minado.

Inquietos, túrbidos, inconfessos desejos rompem as algemas, 

degradando-se.

O ocaso do amor estéril arrebata os últimos

vestígios de dignidade.

Os instintos mais primitivos impelem a alma faminta.

O próprio amor desconhece a trama, quando se vê 

desmascarado.

Os valores se despedaçam na inconsciente índole amorosa.

O amor infectado desanda em lares abandonados.

No mar dos sentimentos, a simplicidade das dúvidas

desfaz-se em desamor.

Manhãs de futuro corrosivo fecundam ventres imundos,

em que as mesquinharias cotidianas fomentam o 

mundo transgênico.

Para que a vida de antes, como um fósforo queimado, 

renove-se no fungível acervo do amor.








                                     pecados veniais





A vida progride.

Meu tempo regride. 

Opostos que se fundem em gozos hipotéticos.

O lento e doloroso caleidoscópio perdura 

nas fantasias de longos caules.

Lembranças machucadas de coisas esquecidas

turvam a beleza sem paciência.

O desterro do mundo é o cálice que transborda

pecados veniais.

Enquanto as verdades provisórias costuram

alegrias hipotéticas.

Refugio-me nas palavras impregnadas de sofrimento

orgulhoso.

A espera de uma felicidade ainda desconhecida.








segunda-feira, 1 de abril de 2024



                  tudo o que temos de mais caro





Não aconselho ninguém a voltar onde foi feliz um dia.

Nem onde nem com quem. 

Porque nunca é a mesma coisa.

Tudo o que encontrará são ruínas, despojos, fragmentos

do que foi um dia, e não há nada que se possa fazer

a respeito.

Tudo passa, tudo acaba, tudo se esvai na mixórdia

da aventura terrestre. 

Mesmo as lembranças com o tempo traem a memória, 

em sensações longínquas e piedosas,

desvirtuando o próprio lembrar e esquecer.

O halo das fantasias mascara todas as coisas finitas,

glorificando ecos e miragens em detrimento do natural

desencanto com os seres e as coisas.

Daí o quase pesar de rever ou retornar às origens.

Por isso não faço gosto de passar por antigas moradas,

nem sinto vontade de reencontrar antigas namoradas,

e até reluto em rever velhos amigos.

Não por esquecimento ou falta de apreço, longe disso.

Prefiro, simplesmente, ficar com a imagem de como tudo era.

Antes que o tempo nos roubasse tudo o que temos

de mais caro.





 









 





domingo, 31 de março de 2024



                      juvenilidades anacrônicas





Minha grande luta é ter consciência de mim mesmo.

Para não esquecer a amplidão que se retrai. 

A vida de blefes e mentiras.

A consciência range e come as próprias entranhas.

É quase impossível ter os pés no chão, enquanto 

a impulsividade sabota a razão.

Vertigens do passado revolvem a solidão premeditada.

Digo adeus mas logo mudo de ideia.

Sou o que sou.

A longa vida de obscuridade obsidia lacunas despreocupados.

É tarde para fugir de mim mesmo.

Fui covarde, mas tive sorte.

Sai ileso do sofrimento que desencaminha e arruína.

Mais padeço de juvenilidades anacrônicas 

do que de consciência pesada.







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