sábado, 17 de agosto de 2024


                          todas as cores da paleta




quando você se permitir

voar acima dos obstáculos

deixar-se guiar pela intenção dos olhos

aceitando a proposta das lágrimas suspensas

sendo o epicentro de si mesmo

abrace a sua verdade triste

faça valer todas as cores da paleta

e veja o sonho tornar-se realidade.






                   podem me chamar de proesia



Cada coisa que transpõe o conhecimento transforma

o entendimento.

Os esgotados caminhos se renovam, quando

a compreensão encontre o seu uso.

A procura de novos amanhãs remonta às origens 

das adegas libertárias.

Contrapondo-se aos dias que se foram, a memória litiga

em causa própria.

A límpida manhã se desforra transpondo os falsos

meridianos.

O medo da claridade mantém-se acordado, ensimesmando

 o confuso aprendizado.

Velhas vontades e amizades gastas impelem as efabulações

sem valor.

O caminho do pai não é o mesmo do filho, por mais

que se diga o contrário.

Quando o dia demora e a noite não chega, não adianta

ter pressa.

O que não se cria, se copia.

Nem prosa, nem poesia : podem me chamar de proesia. 




 





quarta-feira, 14 de agosto de 2024


                               a verdade tem mil caras




De qual verdade estamos falando ?

A minha, a sua, a dos outros ? Meras palavras

permeadas de enigmas.

Verdades, nada mais enganoso.

Na boca do juiz venal.

Na liturgia obscura dos credos assassinos.

Na versão dos farsantes, vigaristas, demagogos.

A verdade de cada um se sobrepõem ao direito, a justiça,

a própria liberdade.

A verdade de mil caras.

A verdade de leis retrógradas.

A verdade de ditadores, déspotas, mentores, gurus

de araque.

A verdade da História, dos mitos, das lendas,

dos livros sagrados.

A verdade do amor.

Tudo é discutível.

Tudo muda conforme as circunstâncias.

Tudo que começa e acaba está em constante

transformação.

Eu não sou o mesmo de ontem.

O meu amor não é o mesmo de ontem.

A morte é a única verdade absoluta.

Até que se prove o contrário.




                                   a arca de Noé



Um iceberg flutua emocionado

no Mar do Norte. 

À procura, quem sabe, de um lugar que não

lhe pertença.

O enigma glacial bafeja novos ares.

Sob o brilho monstruoso das ruas londrinas,

poças d`água sonham com James Bond.

O cenário desfigura-se em rotas antigas.

A cronologia acústica remonta ao chifre dos vikings.

Meteorologistas piram, antevendo o naufrágio do Tâmisa.

Sem palavras, o monolito interrompido descreve o secreto

arco do passado.

Não quero a minha volta o que a realidade não suporta.

O entendimento não alcançado derrete a metonímia

das metáforas.

O degelo iminente requer novas arcas de Noé.

Em que os bichos querem ser humanos.





terça-feira, 13 de agosto de 2024



                             olhares familiares



Não se distraia.

Não se perca.

Neste lugar de uterinas morfologias, 

a linguagem crepuscular 

antecipa a cegueira iluminada de sombras.

O centro oco fecha-se sobre si

como uma doença terminal.

As estações sobrepõem-se como gigantes irresolutos.

Tu te reconhece em mim com virtuosas ignorâncias.

Não nos julguemos, pois.

O sentido do inviolável abastece-se de incoerências.

Olhares familiares às vezes é tudo o que precisamos.

Precisando ou não.




                        horizontes sem horizontes



Lá pelas tantas

vestiremos as roupas siderais ( funérias ?)

para comungar o maior dos enganos.

Não será um adeus, apenas um até breve,

até que os sepulcros marejem carinhosos silêncios.

Todos os passos marcham para horizontes

sem horizontes. Tão próximos

e tão distantes como a falta de amor.

Dia virá em que nada mais importará, além

dos itinerários hipotéticos escondidos nos guarda-roupas,

pendurados nos portais do moderno-ancho-mundo.

De cujas sarjetas imundas postulamos a vida eterna.







domingo, 11 de agosto de 2024




                    sei do amor por ouvir dizer





Sei do amor por ouvir dizer.

Sérias e fundas controvérsias cercam o assunto.

Há quem fale maravilhas e diga que não consegue

viver sem.

Já outros fogem dele como o diabo da cruz.

Donde se conclui que não há como saber

sem experimentar.


Sei de ouvir que o amor é bicho arisco e ardiloso.

Que pode ser doce como fel.

Cego entre luzes e faróis.

Pode ir do tudo ao nada do nada, enquanto sangra

ou joga tênis.

Não obstante degenerar-se com o tempo, 

regozija-se e multiplica-se até a exaustão, 

enquanto adestra os instrumentos de possessão.

Como isso pode ser bom, me diga você, sabichão ?


De minha parte, prefiro pegar gripe, gonorreia, câncer.

Qualquer coisa é melhor que ficar à mercê de algo

que pode te levar

do céu ao inferno, sem nem mais nem por quê.

Amar, está na cara, é para os fortes e destemidos.

Para os carentes, os caretas que ainda acreditam em 

balelas como fidelidade e baboseiras como "juntos até

que a morte nos separe".


Sei do amor por ouvir dizer.

Em vão, tentei não me submeter.

Como se o coração não fosse

mais cego e surdo que uma porta. 

















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