domingo, 8 de dezembro de 2024



                 as velhas coisas novas


Sob a fuligem das coisas afetuosas,

a desordem sem esperança

despreza os prazos.

Alude ao pensar ambíguo 

o sub-reptício jogo diluído dos genes.

Assim se resolvem os infinitos esquemas

das velhas coisas novas.

Esquecidas e renascidas.

Desvendando injustiças e fomes.

Purgando o sêmen dos equívocos,

enquanto a própria vida deixa-se consumir,

à procura do fim.


 

domingo, 24 de novembro de 2024


                         potestades



Funde-se à vida

esse sofrimento à beira fidedigna da louca razão.

Com aquilo que não pode mudar.

Rebaixe-se, rasgue-se, mas não ignore 

a audaz serventia do fracasso.

O palco está escuro, mas o picadeiro ferve.

Pão e circo se locupletam. 

Mas é on line que as coisas acontecem.

Tatuagens e tetas caídas envergonham o corpo 

de forma diferente.

O mugido das multidões supre os dilemas, para que

o sol patriótico brilhe acima das criptas basálticas.

Ninguém morre na véspera, há que ter esperança.

Tudo é vasto, menos a afeição sem nódoa.

Porcos só amam os chiqueiros.

Os sermões dominicais enchem linguiça, mostre-me

a quem segues e te direi quem és.

Afinal, é preciso ser cego para ser feliz.

Bocas lascivas enxertam potestades de antanho.

A miséria confortável alude a Hosanas empedernidos.

Tempos difíceis parem ruínas vindouras.

Incógnito, atravesso o meu hemisfério condenado

a existir.




Na padaria, 

o pão nosso de cada dia alimenta a freguesia, 

também serve pinga, frango assado aos sábados, 

além de ponto de encontro de desocupados e aposentados, 

que discutem futebol e política, eventualmente 

assuntos mais sérios, o obituário sempre em dia. 

Na padaria, o pão nosso de cada dia 

alimenta a vida vazia.





domingo, 17 de novembro de 2024


                          almas inquietas                           


Almas inquietas não se doam.

Vivem em sobressalto, se esquivando da realidade.

Tornam tudo um drama chinfrim.

Enlouquecem entre caprichos e gozos ingênuos.

Punindo e sendo punidas.

A incapacidade amar é sua cruz.

Almas inquietas descobrem-se solitárias

e mal-amadas.

Tendo como única razão de ser

a natureza corrosiva de seu afeto.







REFLEXÃO DO DIA 


Chega uma hora em que ou você se impõe, 

toma uma atitude,

ou não pode reclamar de ser 

um mero capacho.



sexta-feira, 15 de novembro de 2024


                            dias sem futuro



A maciez das pedras enfraquece

os caminhos.

Forja vítimas, corações partidos.

Sem luto, sem vergonha, a vida não é vida.

São sempre as mesmas histórias

que consolam os aflitos.

O esquecimento liberta os dias sem futuro.

Através de nós outros virão, eis o padrão.

Meus filhos são tão diferentes de mim

que nem parecem meus filhos.

Sorte deles !

Sou minha própria vergonha.

Não pelo que fiz, mas pelo que deixei de fazer.

A maciez das pedras é meu adorável presente.




segunda-feira, 11 de novembro de 2024



                           de mal à pior



Dissoluto, o mundo reinventa o seu inferno

entre pressurosos prenúncios.

As coisas presumidas fogem ao controle.

A conivência é pior que a leniência. 

Vamos aos fatos : tudo vai de mal à pior.

O gato que não regressa

nos preocupa mais

que o derretimento das geleiras.


A vida se revela e se mascara evocando

a paz de seu tormento. 

É sempre do imprevisível que os roteiros

distorcidos emanam.

Entrelaçados mundos recriam o indizível.

O drama da convivência urde o seu repertório

de máscaras para seguir além dos enganos.

O incerto e o novo nos atraem 

para que a vida seja como deveria ser.


Nada se compara a felicidade que se perdeu.

O que (não) existiu é sempre melhor.

Tudo fica aquém das expectativas,

diante dos sonhos de criança.




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