terça-feira, 20 de maio de 2025


             

                sem  meio-termo



Gosto de você assim,

do jeito como gosta de mim.

Mesmo nem sempre nos dando bem.

As brigas e desavenças por motivos banais.

Mas gosto de você mesmo assim.

Talvez por sermos tão desiguais.


Por você me tornei mais paciente.

Por você me tornei menos arrogante.

Porque ter mais estudo não me faz superior.

Diante da tua sabedoria inata, não passo 

de mero aprendiz.


Gosto de você assim.

Do jeito como gosta de mim.

Sem frescura nem fingimento.

Sem filtro nem comedimento.

Com você tudo é intenso.

Nosso amor não tem meio-termo.

Pode ir do céu ao inferno num instante.

Ora doce como mel, 

ora indigesto como sarapatel. 

Ora doce como mel,

ora indigesto como sarapatel.



* letra de música

segunda-feira, 19 de maio de 2025


                         um dia de cada vez





Um dia de cada vez.

É assim que funciona.

Nada se detém. 

Nada se retém.

Palavras inventam o efêmero, o vago, o impreciso.

Por trás das cortinas,

ora o sol brilha,

ora a chuva embaça a vidraça.


O tempo novo traz tudo em dobro.

Coisas novas se misturam às antigas,

com seus apelos e absurdos.


Nada é original.

Nem o trivial.


Os novelos se embaraçam, compondo vícios antigos.

O silêncio que perdura encerra o duro ciclo.

Devassando a vida como flores do lado de fora

da janela.


A mão que afaga alimenta as fábulas.

Por trás do azul, o branco e o preto confabulam.

No ar, o estado de graça ofusca 

o olho do pássaro.

Tão fundo e tão alto que não deixa rastros.

Como a linguagem que engendra cada gesto.




                   mulher objeto


Amo a vida, apesar de tudo

Amo tudo que é mudo, infecundo,

e até o eventualmente imundo.


Amo o obscuro, o que refulge no escuro.

Não necessariamente belo, muito menos puro.

Apenas e tão somente, humano.


Amo o imprevisto, o improvável.

O obsceno, o ordinário.

E acima de tudo, o palpável.

O que pode ser comprado

por um preço razoável.


Amo você, mulher objeto.

Sem dono, sem disfarces.

Sem margem de erro.

Fiel ao lema

que é dando que se recebe.






domingo, 18 de maio de 2025



                               inventário



Há coisas que nunca se esquece, 

nunca passam.

Coisas boas e ruins.

Somos o que somos em função delas.

Dos guardados. 

Do que passamos, do que fizemos

o quê disso resultou.

A soma de tudo, mais do que passado,

sempre presente, como um inventário onipresente

e onisciente, velando os dias, de haustos e claustros. 

Esperando que os restos de desesperança rompam

o zelo dos pactos.

Para sobreviver as coisas boas e ruins

que nos cegam.








segunda-feira, 12 de maio de 2025



Deve-se perdoar quem nunca pediu perdão ?

Deve-se desculpar quem nunca se desculpa ?

Deve-se amar quem não sabe retribuir ?

Deve-se ser bom com quem não merece ?

Que apreço merece o ingrato, o egoísta, o narcisista,

o sociopata ?





                remoendo silêncios



Tudo se cumpre ao sabor dos acasos e descuidos.

Tudo o que tenho, o que faço ou fiz,

vive se equilibrando

remoendo silêncios

colhendo rosas de fogo

compondo cenas de amor que pedem bis.


Busca-me um instante de calma

em meio as escaramuças e paroxismos de praxe.

Na vida sem justiça, sem amor,

sonha-me o refúgio dos pássaros, 

a paz dos muros de cercas eletrificadas.

Busca-me o que restou de mim

entre canteiros de aprazíveis oferendas.

Regozija-me o vago transitar das coisas fungíveis.









                    o canto do cisne




Perdi o amor verdadeiro algumas vezes.

Hoje me contento com qualquer quebra-galho.

Nunca estive pronto para amar.

Sempre pus tudo a perder.

Todo amor que dei

me fez mais mal do que bem.


Agora não me arrisco mais.

A menos que encontre alguém que sofra

por mim.

Meu coração cansou de sofrência.

Depus as armas da beleza.

Foi-se o tempo de escrever poesia, das bebedeiras,

dos rompantes.

Hoje quero paz e calmaria.

Amargo meu calvário amoroso 

como um santo devasso. 

Enquanto ensaio meu canto do cisne.



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