segunda-feira, 26 de maio de 2025


                   o rosto                      



Um rosto paira no silêncio da noite.

Flutua sobre o tempo vivo, remanescente do fracasso

de um amor que sequer existiu.

Não do jeito que imaginava.

Não forte e invencível, como acreditava.


Às vezes é o que acontece.

De o amor não ser o que parece.

Pinta e borda no começo

para depois se revelar um autêntico blefe.


Um rosto paira no silêncio da noite.

Quisera poder apagá-lo da memória.

Mas está além da minha vontade.

Reluto em aceitar que não consigo te esquecer.

Que bem ou mal, te conhecer

foi a melhor coisa

que aconteceu na minha vida.







              meu coração me condena

   

Meu coração me condena a ser só.

Por sentir tudo intensamente.

Dou tudo.

Quero tudo.

Simples assim.

Meio termo não me satisfaz.

Não gosto de nada pela metade.

Querer, gostar, amar

tem que ser para valer.

Não um mero jogo de palavras.


Pois cobro, sim, reciprocidade.

Desde as coisas mais simples.

Atenção, respeito, consideração.

Para o quê espero a devida contrapartida.

O que raramente acontece.

Daí os constantes conflitos.

Daí acabar sempre sozinho.


Meu coração me condena a ser só.

Por não me contentar com pouco.

Por esperar dos outros mais do que podem dar.

Por ser pródigo em empatia e ternura.

Por confiar e me arriscar a fazer papel de bobo.

A ser sempre o errado.

Por querer, por amar demais.


  

 

domingo, 25 de maio de 2025


                        

                o roto e o esfarrapado



Algo de nós sempre fica no limbo da memória.

Arrastamos nossas culpas sem assumi-las.

Mas já não há desculpas disponíveis.

As promessas se recolhem, coniventes.

Tudo já foi feito, refeito e descumprido.

O roto e o esfarrapado andam lado a lado.

Só as coisas primitivas permanecem, voltando-se

contra si mesmas.

Algo de nós não inspira confiança.

Algo de nós quer o novo

mas não se desprende do velho.


De ti e de mim, o amor foi-se afastando 

aos poucos.

Em meio a tudo, 

algo de nós se refugia no tempo prescrito 

e decifrado.

Para que todas as coisas lindas

que vivemos

tenham alguma serventia.


 





                      desencanto



Algo de nós ficou

no limbo das lembranças.

O que sou, o que és, dueto de sonhos

e equívocos.

O desencanto recitado em prosa e verso,

entre rajadas frescas de vento.


Você foi a chave da minha ignição.

De tão grande, nosso amor morreu de inanição.

Era feliz e sabia.

Sempre estive consciente de tudo.

Se acabou foi simplesmente porque

o que é bom também enjoa.


Algo de nós conspira contra.

Algo de nós não inspira confiança.

Algo de nós quer o novo

mas não se desprende do velho.


O que sou, o que és, dueto de sonhos

e equívocos.

O desencanto recitado em prosa e verso,

entre rajadas frescas de vento.

Algo de nós retorna a sua forma insurgida e plena,

a fim de restabelecer o equilíbrio do nada.



sábado, 24 de maio de 2025



                  o coração do mundo


Um dia como qualquer outro

nunca é como outro qualquer.

Pode ser de sol ou de chuva.

Pode ser quente ou de brisa.

Pode ser de nada ou de tudo.

Em que as horas podem passar

vagarosamente

ou voando.


Como quando estou com você.

E tudo mais deixa de existir.

Nas horas sequestradas do cotidiano insosso.

Em te busco na demora e na espessura das coisas.



Um dia como qualquer outro

nunca é como outro qualquer

Em dias iluminados de nada.

Ou de tudo.

Na poeira dos ciclos, a espera se gasta por dentro.

O novo e o velho investem contra os alicerces.

Tudo de desgasta ou se esgota.

As coisas se renovam e desbotam.

Ao cabo do azul de aço,

o coração do mundo jaz em pedaços.






 








                    o que importa


Não sou triste nem alegre.

Não sei se me amas ou se finges. 

Não importa.

Não existe nada perene no mundo.

Beleza, saúde, prazeres, tudo se esgota

a medida que a vida desbota.


Bem sei o quão volúvel é o amor.

Não importa.

O importante é sonhar e viver o sonho.

Deixar-se ficar para rir e chorar.

Para ter medo e esperança.

Conhecer a beleza que não se mostra.

Defenestrar o fantasma da solidão.

Experimentar o bálsamo dos dias perfeitos.

Vivenciar o silêncio dos gritos.

O céu de zinco.

A lua desconectada.

A poeira das estrelas.




                            

                    sem urgência e necessidade





É possível que ainda exista amor por aí

É possível que ainda exista compaixão, empatia

Mas, não sei, não. 

Tudo anda tão confuso.

As pessoas se distanciando, se isolando, hábitos 

e comportamentos cada vez mais estranhos.

Preferindo a companhia de cães e gatos ao invés de gente.

Os relacionamentos cada vez mais difíceis.

A vida nua e crua exposta sem pudor nas redes sociais,

no vale-tudo por clicks e curtidas. 

A vulgaridade imperando.

Os vícios, as drogas dominando.

Os mais velhos descrentes e ressabiados. 

Os jovens dispersos e desnorteados. 


É possível que ainda exista amor por aí.

É possível que ainda exista compaixão, empatia.

Em novas versões.

Sem urgência e necessidade.

Como flores crescendo em terreno baldio.













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Duvide da luz do sol Duvide da verdade. De Deus e de todo mundo. E, principalmente, do amor.