tormento sem fim
O tormento nunca acaba.
Em meio
a conflitos e armistícios,
feitos de sacrifícios e preces,
algo sempre acontece.
Os deuses tem seus favoritos.
Uns poucos privilegiados,
em detrimento da grande maioria
que os cínicos chamam de inocentes uteis.
Tudo o que acontece pela primeira vez não retorna.
Vivemos pregustando a morte.
Acaso ou destino, a firme desdita é irrevogável.
Mas é no enfrentamento que a fábula se consuma.
Quando o infortúnio desalenta e abate,
nunca o homem é tão homem.
A vida não é um sonho, mas bem-aventurados
os que lutam por eles.
como as coisas
deveriam ter sido
Os sonhos que sonhei
presidem a vida que não vivi.
Só perduram no tempo
as coisas fora do tempo.
Onde, uma nova consciência, comprar ?
Que me permita suportar
o peso de tantos equívocos ?
Penso nas coisas como deveriam ter sido.
Adão, a tentação resistido.
Caim, a Abel abraçado.
Noé, na arca, o homem não ter levado...
invulnerável
Nada mais pode ferir-me.
Nem o desencanto com os homens,
nem o desamor das mulheres.
Os embustes humanos me fizeram invulnerável.
Já não temo os ardis, tantos foram os logros.
Tudo o que eu vier a passar,
não será mais do que já não tenha passado.
Se persisto é porque o instinto e a coragem
sem entrelaçam no incessante vai e vem da vida.
E ao pensar naquilo que nunca saberei,
dou graças.
Não saber é o que me faz invulnerável.
PARA O QUE DER E VIER
Tenho a maior admiração pelo Fábio Assumpção. Bonitão, um puta ator, uma história de vida de tirar o chapéu. Viveu o apogeu, curtiu tudo de bom que a fama trás, até cair em desgraça, mergulhou no mundo das drogas, ficou exposto a impiedosa execração pública , os vídeos das bebedeiras e vexames bombaram na internet, enfim, chegou ao fundo do poço, de onde poucos saem. Mas para surpresa geral, o cara saiu, se reabilitou, como fez questão de tornar público, muito justo, dar a volta por cima sempre é bacana de ser mostrado.
O detalhe é que a sua reabilitação ficou longe, muito longe, de repercutir, de viralizar como as cenas em que aparecia literalmente na sarjeta, alvo do deboche e da chacota de galera.
O que confirma o que se sabe desde sempre, que o que mais atrai, seduz o maldito ser humano é a desgraça alheia. Ver os outros fodidos, rastejando, sendo humilhados, se humilhando, para assim poder se consolar, mitigar as próprias mazelas. Pude ver isso agora mesmo, nessa insignificante blog, cujo recorde de visualizações se deu ontem, não por descoberta de méritos, qualidades de meus escritos chinfrins, mas em função de uma antiga e mal-resolvida pendenga amorosa ter se transferido para cá, com direito a desabafos e tudo o mais.
Um circo, do qual me envergonho profundamente, cujo teor tomei a liberdade de excluir, e pelo qual peço reiteradas desculpas a outra parte envolvida.
De volta à normalidade, saúdo a meia dúzia de fiéis leitores que
estão comigo para o que der é vier.
fantasmas camaradas
Então o que você escreveu ontem, anteontem, ano passado,
não vale mais ? Só porque a realidade hoje é outra ?
Opa ! Claro que vale. Eu vivi, senti tudo aquilo.
Já pensou se Shakespeare rasgasse os versos em que revela
sua homossexualidade ?
Se o Divino Marques queimasse a mais explícita obra
sobre os mais baixos instintos humanos ?
Se Joyce tivesse jogado no lixo o seu portentoso Ulisses,
só porque é inacessível, chato, ilegível ?
Ora, tudo são momentos, ontem é ontem, hoje é hoje.
Ontem eu tinha a mulher dos meus sonhos,
hoje tenho que me contentar com migalhas.
Ontem eu corria 15 quilômetros com um pé nas costas,
hoje caminho alguns quarteirões e já fico
caindo pelas tabelas.
Ontem eu podia tudo
hoje eu dou graças a Deus quando levanto sem dor.
Ontem eu tinha uma família que eu adorava,
hoje tenho que me resignar em conviver
com meus fantasmas.
Que felizmente, são camaradas.
Deve-se perdoar quem nunca pediu perdão ? Deve-se desculpar quem nunca se desculpa ? Deve-se amar quem não sabe retribuir ? Deve-se ser bom ...