tremenda chinfra
As luzes do entendimento são refratárias.
Cabeças demais, lucidez de menos.
Tempos bizarros em que tudo se sabe, e nada se sabe.
Sob os auspícios do Grande Irmão digital.
A humanidade reverencia o todo-poderoso-deus-máquina.
Tremenda chinfra, não empresto meus demônios à ninguém.
Websatã saqueia o mundo, aceita um de justis belli causis na veia ?
O futuro saberá o que fazer. Ou não. Pausa para "leros, leros e
boleros."
Os corredores se multiplicam, labirintos são águas passadas
sem Borges a guiar-nos.
No que me diz respeito, vivo de álibis.
Minhas parcas virtudes dei-às à guiza de ludibrir
a memória.
Sendo o que fui até não poder mais.
Um Fenix rendido em clitóris, garras afiadas,
ninhos de marimbondos.
Penso no bicho que sou e me vejo com penas, escamas,
chifres. Verme.
Carunchando a madeira
Comendo carne podre.
Parasitando as entranhas da vida.
Meu pacto com o mundo é feito de hipóteses,
truques e máscaras.
A justa razão sempre se desintegra.
O vício de sobreviver tramitando na Navalha de Occan.
Nada substitui o ceticismo.
Um cara ou coroa, talvez.
Acostumemo-nos com adredes e Mitrídates.
Entre quadrúpedes e salafrários, cumpra-se o propósito.
O lobo pastoreia as ovelhas, e tudo bem.
Os antigos diriam, o labor de pensar onera e não compensa.
Sejamos tangidos, pois !
Mimeses, arquétipos, protótipos.
Todos os danos do saber humano mendigando bom senso,
comendo pelas beiradas.
Cagando apoteoses, panaceias, incunábulos,
enquanto as bibliotecas queimam,
e os livros servem de banquete as traças.
Lanterna à mão, a luz do entendimento bruxuleia
entre o egoísmo e a apatia.
Transige entre o messianismo e o pelangianismo.
A plateia ignora as evidências, mentes fechadas feito ostras.
Só os sábios sabem calar dizendo tudo.
Mas os velhos mestres envelheceram.
Mudaram as coisas, depravaram as palavras.
A nova realeza é o visgo, o vício, a latrina da humanidade.
Meninas prenhes de nibelungos que buscam o apostolado infame.
Pensando bem, tudo não é muito.
Pode até ser pouco.
Quando se vive só para constar.
O cômputo das ruínas é o catarro das heresias expectantes.
Emboscadas ? Ninguém mais me engana.
Saber não basta, é preciso desfazer, corromper
a ordem reinante.
Não é preciso perder os dedos para manter os anéis.
Não no Brasil.
Risus teneatis, certo Horácio ?
Eleger um notório rufião para voltar ao Poder,
qual o problema ?
O que vale é tudo que se possa desdizer.
Apedrejar e fugir.
O jeito é descabelar o palhaço.
Enxotar a xota.
Bem-aventurado é o silêncio quando falta assunto.
A gangrena estanca a hemorragia, mas mutila.
O entendimento esbarra no quiprocó.
Consensus omnium aqui cheira a embuste - toda unanimidade
é burra, como se sabe.
Dialética, sim !
Abaixo a retórica, o álibi ubíquo, a farsa
que transforma a culpa em curare.
O conluio em lautas pilantragens e quejandos.
Senão, vejamos : como é possível que isso
esteja acontecendo ?
E a pensar que poderia ter sido tudo diferente,
se os holandeses não tivessem sido expulsos.
Foi quando a cobra comeu o próprio rabo.