quinta-feira, 3 de agosto de 2023




                                 solitude




Nas asas do céu estrelado

Voa um girassol alado

Cuspindo pélagos ensandecidos 

Onde jaz o diverso mundo estiolado.


O caos dança em círculos

Sem remordimentos e utopias

Marcos da terra mastigam 

O silêncio das suaves cosmogonias.


As coisas se cumprem manchando a Criação

Poços de angústias desvendam os himeneus

Das belezas circunscritas e maltratadas

Que violam a precária aliança com Deus.


Minha alma vagueia serena e fria 

Na solitude dos segredos guardados

Viajante tranquila de elegias e cansaços

Em busca da verdadeira sabedoria.





  

quarta-feira, 2 de agosto de 2023



                    antes, durante e depois





Renasço a cada dia.

A vida esvaída de sentido nem por isso

é menos vida.

O pão nosso de cada dia provê a rude paciência.

As manhãs me arrastam como um animal

fiel a seu fado.

Ando entre o que finda a cada passo.

Crises de dicotomia roem o pensamento.

O silêncio do grito ensurdece.

Tão lúcido como se fosse de encontro ao inaudito.

Sem que nada se explique ou desenrosque.


Meu palco se desfaz no limite da ribalta.

A palavra ambígua desacredita o belo e o dramático.

Na absoluta incoerência dos desejos, a posse, o enlevo 

e o cansaço aviltam o amor.

Antes, durante e depois.






 








 

segunda-feira, 31 de julho de 2023



                        diásporas





A esfinge finge labirintos espalhafatosos.

Sofismas subvertem as tramas divergentes.

Meandros ensimesmam o que não nego.

Dizendo o contrário.

Farsas se opõe a memória.

A escória fuzila-se pelas costas.

Os fatos rejeitam provas quando o óbvio 

dispensa álibis.

Conflitos empíricos permeiam enredos oníricos.

O coração funde diásporas que tramam vilipêndios.

Na matéria finita, o desejo de evadir-se espia o caos

dos pactos inconsentidos.

Na ambiguidade, o olho azul quer descobrir-se.

O tempo-coletivo é señor de si mismo.

A alma suja conjura os devolutos lavradios.

Vivi para aprender que o ideal é sempre quimérico.

















 



                os vagares do amor



Ainda não é dia e os pactos se renovam.

Salmodias descobrem-se a luz crua dos deveres.

Farsas nefastas cultuam hábitos que se perpetuam.

A dor que cura ultrapassa o sofrimento.

Entre o novo e o limpo, o sujo asseia-se.

O esforço inútil desperta o que finda.

De tão triste, maldisse o sísifo.

O só pensar sobrecarrega o discernimento.

Velas ao vento, alea jacta est.

Os vagares do amor subvertem os desejos.

Nunca é tarde para o interminável.

O que não se explica, se estrumbica.

A tragédia do sexo é durar pouco.

Feroz e indisciplinado : meu amor 

não se presta a desagravos.






 










 

domingo, 30 de julho de 2023



                          é dando que se recebe




 



Amo a vida, apesar de tudo.

Amo tudo que é mudo, infecundo.

E até o eventualmente imundo.

Amo o obscuro, o que refulge no escuro.

Não necessariamente belo, muito menos puro.

Apenas e tão somente, humano.


Amo o imprevisto, o improvável.

O obsceno, o ordinário.

E acima de tudo, o palpável.

O que pode ser comprado

por um preço razoável.


Amo você, mulher objeto,

sem dono, assumidamente promíscua,

sem margem de erro.

Fiel ao lema

de que é dando que se recebe.





 






 


 



        por um fim plausível



Minha dor surda

paira sobre as coisas imundas.

Afeto e tédio, perfeita mistura reinventada

do meu desconsolo sem dolo.

Amor insaciável verdeja entre abóboras, pepinos.

O que seria da vida sem encher a cara ?

Agreste inocência poreja recatos e delicadezas.

Convenhamos, a magia é amarrada num belo porte.

Mas os feios também amam.

Às vezes, melhor que todo mundo.

Sob galhofas e galhardias.

Amor dispensa isometria.

Isenção não existe.

Nobreza, eventualmente.

Amor de pobre é diferente do de rico.

Questão de simetria.

Fidelidade não se impõe.

Aprendi com meu filho de 15 anos.

Impressionante o que não sei.

Do amor, principalmente.

Ser romântico virou piegas.

Como não gostar de boleros ?

Minha vida estagnou ao pé de transas empíricas.

Confusos enredos oníricos sabotam o coração barroco.

Minha grandeza está de luto, quem mandou ela me sacanear ?

Defuntos habitam meus rios mortos.

Mãos cheias de vazios solapam enluarados pomares.

Segredos não valem nada.

Não há convivência sadia.

Uns sempre querem foder com os outros.

Seremos para sempre felizes, descuidados e frágeis ?

Pecadores e pescadores comprovam o vazio da existência.

Money, é só o que importa, viu, velho ?

Vazio é uma palavra muito forte.

Eu aqui, ela lá, é quando tudo se ajusta.

A recíproca é verdadeira, quando de interesses mútuos.

Quietas varandas bafejam obscuras esperas.

Florações efêmeras despertam revelações cruentas.

Já não espero por nada que não seja plausível.

Um fim que não seja a morte, por exemplo.






































                     a parábola da vida



Oh, despertar para a realidade que finda a cada passo.

Oh, amargo amaranto de uma existência inútil.

Tão importante que se apaga como se não tivesse existido.

Lamento por não ter sido mais do que fui.

Não há um dia que não me questione por que vim.

Alguém se lembrará de mim por algum bem que fiz ?

Fiz mais mal do que bem com quem convivi, eis

o que levo de mim.

O tempo é meu jardim de flores insepultas.

Em que criaturas orvalhadas cantam 

                                               a parábola da vida.







 

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