metapoema
Meu metapoema é feito de moléculas radioativas.
Sem régua, sem simetrias, dispensa rimas e idiossincrasias.
Perambula por caminhos forjados entre pocilgas
e restos de desencantamento.
Flui deixando rastros compassivos e amorosos, a moendar
gramáticas escalavradas no pilão da solidão.
Meu metapoema é engenho de uma polia só.
Madeira de bater em doido.
De lucidez condensada em canteiros de vento
e instigâncias vãs.
Faz-se entender como pequenas encostas de rochas
escarpadas.
Formulando compêndios sobre o nada.
Engalanado para um mundo de cegos.
Meu metapoema percorre as formas possíveis
à procura do fio da meada existencial.
Debatendo-se como um besouro na noite mal-iluminada.
No desinventar da beleza, buscando
deslindar o incompreensível.
Entredevorando-se no cio da rotina.
Meu metapoema assume todas as formas e nenhuma.
Serenando sonhos invencíveis.
Quebrando lacres de inocência, cingido por quimeras
esfarrapadas e males incuráveis.
Amaldiçoado por palavras que não
atingem seu fim.