domingo, 25 de maio de 2025


                      desencanto



Algo de nós ficou

no limbo das lembranças.

O que sou, o que és, dueto de sonhos

e equívocos.

O desencanto recitado em prosa e verso,

entre rajadas frescas de vento.


Você foi a chave da minha ignição.

De tão grande, nosso amor morreu de inanição.

Era feliz e sabia.

Sempre estive consciente de tudo.

Se acabou foi simplesmente porque

o que é bom também enjoa.


Algo de nós conspira contra.

Algo de nós não inspira confiança.

Algo de nós quer o novo

mas não se desprende do velho.


O que sou, o que és, dueto de sonhos

e equívocos.

O desencanto recitado em prosa e verso,

entre rajadas frescas de vento.

Algo de nós retorna a sua forma insurgida e plena,

a fim de restabelecer o equilíbrio do nada.



sábado, 24 de maio de 2025



                  o coração do mundo


Um dia como qualquer outro

nunca é como outro qualquer.

Pode ser de sol ou de chuva.

Pode ser quente ou de brisa.

Pode ser de nada ou de tudo.

Em que as horas podem passar

vagarosamente

ou voando.


Como quando estou com você.

E tudo mais deixa de existir.

Nas horas sequestradas do cotidiano insosso.

Em te busco na demora e na espessura das coisas.



Um dia como qualquer outro

nunca é como outro qualquer

Em dias iluminados de nada.

Ou de tudo.

Na poeira dos ciclos, a espera se gasta por dentro.

O novo e o velho investem contra os alicerces.

Tudo de desgasta ou se esgota.

As coisas se renovam e desbotam.

Ao cabo do azul de aço,

o coração do mundo jaz em pedaços.






 








                    o que importa


Não sou triste nem alegre.

Não sei se me amas ou se finges. 

Não importa.

Não existe nada perene no mundo.

Beleza, saúde, prazeres, tudo se esgota

a medida que a vida desbota.


Bem sei o quão volúvel é o amor.

Não importa.

O importante é sonhar e viver o sonho.

Deixar-se ficar para rir e chorar.

Para ter medo e esperança.

Conhecer a beleza que não se mostra.

Defenestrar o fantasma da solidão.

Experimentar o bálsamo dos dias perfeitos.

Vivenciar o silêncio dos gritos.

O céu de zinco.

A lua desconectada.

A poeira das estrelas.




                            

                    sem urgência e necessidade





É possível que ainda exista amor por aí

É possível que ainda exista compaixão, empatia

Mas, não sei, não. 

Tudo anda tão confuso.

As pessoas se distanciando, se isolando, hábitos 

e comportamentos cada vez mais estranhos.

Preferindo a companhia de cães e gatos ao invés de gente.

Os relacionamentos cada vez mais difíceis.

A vida nua e crua exposta sem pudor nas redes sociais,

no vale-tudo por clicks e curtidas. 

A vulgaridade imperando.

Os vícios, as drogas dominando.

Os mais velhos descrentes e ressabiados. 

Os jovens dispersos e desnorteados. 


É possível que ainda exista amor por aí.

É possível que ainda exista compaixão, empatia.

Em novas versões.

Sem urgência e necessidade.

Como flores crescendo em terreno baldio.













sexta-feira, 23 de maio de 2025


                            a grandeza de existir  





Aos apelos do amor me rendo.

Esquecido das coisas mais secretas, com seus

artifícios de luzes e eclipses.

Somos a solidão da liberdade desperdiçada.

Cada ser engalana a grandeza de existir.


Sob o transitório trâmite de cada momento, 

festejo os encantos que não se quebram.

Ruminando cada rito corrompido.

Me apraz a solitude das paredes.

A convivência é feita de ardis compassivos.

O preço do amor é ignorar o chumbo nos pés.

Para que cada instante seja outro, incorruptível. 


Somos os mesmos que erigimos e destruímos, exilados 

aos próprios olhos. 

Surdos, cegos, mudos para o mundo que rói a vida.

O futuro é o passado engendrado pelo presente

inconcluso.

Em que a beleza desgasta rostos de pedra.



terça-feira, 20 de maio de 2025


             

                sem  meio-termo



Gosto de você assim,

do jeito como gosta de mim.

Mesmo nem sempre nos dando bem.

As brigas e desavenças por motivos banais.

Mas gosto de você mesmo assim.

Talvez por sermos tão desiguais.


Por você me tornei mais paciente.

Por você me tornei menos arrogante.

Porque ter mais estudo não me faz superior.

Diante da tua sabedoria inata, não passo 

de mero aprendiz.


Gosto de você assim.

Do jeito como gosta de mim.

Sem frescura nem fingimento.

Sem filtro nem comedimento.

Com você tudo é intenso.

Nosso amor não tem meio-termo.

Pode ir do céu ao inferno num instante.

Ora doce como mel, 

ora indigesto como sarapatel. 

Ora doce como mel,

ora indigesto como sarapatel.



* letra de música

segunda-feira, 19 de maio de 2025


                         um dia de cada vez





Um dia de cada vez.

É assim que funciona.

Nada se detém. 

Nada se retém.

Palavras inventam o efêmero, o vago, o impreciso.

Por trás das cortinas,

ora o sol brilha,

ora a chuva embaça a vidraça.


O tempo novo traz tudo em dobro.

Coisas novas se misturam às antigas,

com seus apelos e absurdos.


Nada é original.

Nem o trivial.


Os novelos se embaraçam, compondo vícios antigos.

O silêncio que perdura encerra o duro ciclo.

Devassando a vida como flores do lado de fora

da janela.


A mão que afaga alimenta as fábulas.

Por trás do azul, o branco e o preto confabulam.

No ar, o estado de graça ofusca 

o olho do pássaro.

Tão fundo e tão alto que não deixa rastros.

Como a linguagem que engendra cada gesto.




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