segunda-feira, 31 de agosto de 2020
sábado, 29 de agosto de 2020
pura magia
Do nada, algo totalmente inesperado acontece.
Pura magia. Uma vibração, uma sintonia
como há muito não sentia.
Que achava que nunca mais sentiria.
Em sendo tão raro, único.
Alguém que surge do nada, não apenas linda,
mas calorosa, receptiva.
Os grandes olhos negros irradiando sentimentos, alegria.
O abraço caloroso tocando fundo.
A ponto de bagunçar meu mundo.
Confundir as ideias.
Mas não o coração velho de guerra.
Curado de antigos amores, mas ainda capaz de amar,
não precisou mais que cinco minutos
para se decidir : casa comigo ?
Eu, louco de pedir.
Ela, mais louca ainda de aceitar.
Loucamente felizes, enquanto dura a magia.
Não é assim, a vida ?
(Quando se passa anos sem reconhecimento,
sem ouvir qualquer palavra de aprovação,
um simples elogio que seja.
Quando não se tem mais quem te olhe nos olhos
e diga, poxa, como você é bonito, que belo sorriso você tem,
deveria sorrir mais,
essas coisas gostosas de ouvir,
mesmo não sendo necessariamente verdadeiras.
Alguém que acaricie teu rosto, passe a mão nos cabelos,
e depois encoste a cabeça em teu ombro, e ali fique, até adormecer.
Quando isso que um dia se tinha,
acontece de novo,
inevitável não perguntar se não é um sonho,
ou a vida te pregando mais uma peça,
aquela magia que logo se desfaz.)
quinta-feira, 27 de agosto de 2020
o tamanho da nossa fé
E a nossa fé, como anda ? Há sempre tanta gente falando em Deus, invocando o seu santo nome em vão, que fico me perguntando : até que ponto vai essa fé que tantos alardeiam e dizem possuir ? Não essa fé de araque emanada de certos cultos ditos evangélicos, cevados por dízimos que enriquecem seus gurus espertalhões, mas aquela força interior capaz de mover montanhas, mesmo metaforicamente falando. Capaz de resistir as adversidades e as tentações sem se desviar dos ensinamentos de Cristo. Quantos de nós efetivamente caminhamos dentro dessa linha ?
O problema é que não se trata apenas de crer, de fazer o bem, procurar ser justo, comportar-se de maneira a sustentar a crença de ser um bom cristão, e consequentemente, na força de uma presumível fé. Digo presumível porque a fé tal qual conhecemos hoje em dia, é muito mais da boca para fora do que legítima. E muito menos à toda prova. Basta ver a facilidade com que os mandamentos são transgredidos, e o que é pior, até mesmo por aqueles que se apresentam como porta-vozes do reino celestial. Talvez porque basta se arrepender que Deus perdoa, não é o que ensinam para a gente ? Resta saber até que ponto realmente nos arrependemos dos males que praticamos, das mentiras, traições.
Longe de mim desdenhar das crenças alheias, e muito menos da fé. Ao contrário, sou é muito grato por nunca ter passado por situações extremas, por desgraças e tragédias cujo único amparo e consolo foi exatamente a força interior oriunda de algum tipo de fé. Que é quando, efetivamente, mais clamamos por Deus. Não só para ter forças para seguir em frente, como pela esperança da prometida recompensa de uma nova vida no Paraíso. O que explica que o cristianismo tenha florescido exatamente sob as piores condições, em meio aos horrores perpetrados pelos imperadores romanos após a crucificação de Cristo, com o agravante de terem sido quase todos loucos sanguinários.
Esse aspecto intrigante de se fortalecer justamente nos piores momentos, acabou sendo a grande mola-mestra da vertiginosa expansão do cristianismo, ainda que sob o impiedoso domínio do império romano. Cuja repressão à novidade originou algumas das páginas mais brutais da beligerante história da humanidade. Entre as quais, trechos de uma carta escrita pelo imperador romano, Septímio Severo, que reinou de 192 à 211 DC, a um certo Flávio, e cujo teor dá o que pensar. Não só por referendar a natureza quase sobre-humana da fé dos convertidos à nova religião que viria a se espalhar por todo Velho Continente, como do incômodo parâmetro que representa para os crentes nestes tempos tão promíscuos. Mais especificamente, sobre o tamanho dessa fé que naqueles tempos, impressionava até mesmos os carrascos mais impiedosos. Como atesta a tal carta, que passo a reproduzir, em transcrição livre :
"Uma espécie de gente muito peculiar anda por aí a encontrar-se às ocultas, recusam-se a reverenciar os deuses oficiais, não saúdam os Césares quando passam. Diz-se que adoram uma divindade estranha e praticam ritos curiosos. O imperador Cláudio mandou prender milhares deles para dar de pasto aos leões no Coliseu. Nero foi mais longe, mandou enfiá-los em estacas e cobrir suas vestes de breu e piche, para vê-los desfilar pela cidade como tochas ardentes.
Enquanto nossos imperadores experimentavam profundo prazer em torturar e matar homem, mulheres, crianças, aquela gente suportava tudo silenciosamente, sem esboçar qualquer reação, a não ser balbuciar súplicas a um misterioso espírito que paira sobre eles e lhes dá coragem para suportar os piores sofrimentos. De tal maneira que acredita-se que sejam encantados para morrer assim tão bravamente.
E por incrível que pareça, ó Flávio, cada vez mais romanos procuram esses cristãos para livrarem-se dos excessos dos Césares e ingressarem num império maior e mais poderoso que o romano, segundo dizem. Fazem isso enquanto dividem entre si pão e vinho, e cochicham estranhas orações.
Ainda ontem uma nova leva dessa gente foi lançada aos leões. O odor de sangue e das entranhas dilaceradas logo tomou conta da arena que havia sido banhada de perfumes árabes. O espetáculo era repugnante, contudo exercia um efeito mágico sobre os espectadores, muitos deles adentraram a arena para se juntar aos cristãos devorados pelas feras. Que poder, humano ou divino, é capaz de tal coisa, responda-me meu caro Flávio ? Que fenômeno extraordinário é este que faz com que seus seguidores se multipliquem, mesmo com tantos morrendo devorados ou queimados vivos em estacas ?
Quero crer que a reposta a essa pergunta que ecoa através dos séculos, está dentro de cada um de nós. Ao tamanho de nossa fé. Inevitável não se perguntar qual seria a reação dos cristãos de hoje em dia diante da perspectiva de enfrentar as atrocidades tão comuns daqueles tempos. Difícil, né ? Minha única certeza é que nada do que passamos, por pior que seja, se assemelha àquilo e ao mar de dor e sangue em que a humanidade sempre esteve mergulhada.
Se não serve de consolo, que ao menos nos sirva para refletir e não fazermos drama à toa.
quarta-feira, 26 de agosto de 2020
tempo-ladrão
"Em contra-partida, o que tens à oferecer ?",
pergunta o demo,
à imensa fila de solicitantes que, escrúpulos às favas,
solicita seus favores.
Ah, as contra-partidas...
Não bastasse a universal lei do retorno,
ao famigerado toma lá-dá-cá que deturpa as relações humanas,
o ávido tempo-ladrão tudo suprime,
nos embala e torna obsoletos,
até o sono derradeiro.
No turbilhão da vida, o tardio arrependimento
é o acalanto da alma perdida.
terça-feira, 25 de agosto de 2020
buraco sem fundo
A vida é um buraco sem fundo, onde a gente se afunda, a realidade liquefeita faz tudo parecer descartável, os sentimentos desidratados, só o que importa é money, "não preciso de amor, de ninguém para gostar ou que goste de mim, só de dinheiro, com dinheiro eu compro tudo", palavras de quem sabe o que fala, que sofreu, ralou, acreditou e quebrou a cara, e quem não quebra ? Quem não se decepciona, e dá o troco na mesma moeda ? Tateamos sem ver, entre ideias e desejos as almas se perdem, andando por tantas lonjuras, tão perto do sol até as asas derreterem, cegos pela luz desperdiçando as árduas conquistas, o tempo agonizante se esfarela sob estranhos zodíacos, sim, é inegável, o mundo nos tornou egoístas e maus, quem diz não precisar do amor é quem mais precisa, mas, bah, o acaso que rege a existência ignora a nossa dor.
domingo, 23 de agosto de 2020
os brutos também amam
Jurei não mais me importar com nada,
nem com ninguém que não fosse merecedor,
que não valesse a pena.
Mas o que parecia tão fácil, logo percebi
ser impraticável.
Pura e simplesmente porque sou humano.
E quem é humano, se importa.
Com quem se ama, com o próximo.
Cada um a sua maneira.
Sentimentos, eis o que nos distingue,
o que nos diferencia. Para o bem e para o mal.
Pois se importar é uma forma de amar.
E "os brutos também amam", como até
os velhos filmes de cowboys sabiam.
morrer em vida
As coisas quebram,
deterioram,
envelhecem.
A lei da vida é implacável,
irreversível.
Só o que podemos fazer
é retardar.
Sem confundir com protelar.
Porque protelar o que não satisfaz,
perder tempo com o que nos faz infeliz,
é morrer um pouco a cada dia.
Morrer por antecipação, em vida,
ninguém merece.
sexta-feira, 21 de agosto de 2020
nosso lar é o inferno
Mentes empedernidas, mentes obtusas,
mentes malignas.
De que barro é feito essa gente
que tanto mente, finge ser o que não é ?
A minha ideia do mundo há muito
caiu por terra.
Caíram as crenças, as esperanças,
restaram os equívocos.
A desconfiança de tudo e de todos.
Súbito, tudo faz sentido.
Até o que não faz sentido.
Há, simplesmente, que aceitar.
Dispersos, à desídia nos entregamos,
em meio a vaporosa ideia de nós mesmo.
Assim passa a vida, o ouro do sol
exige que sejamos vis.
Tudo vale a pena pelo preço certo.
O que nos pesa, o vento carrega.
Ah, sentir-se nascido para cada momento.
Ter ideias e sentimentos sem os ter.
Mentir para si mesmo sem culpa, porque a culpa nunca
é justa.
Filhos de um mundo enfermo, em que tudo
se quebra e emudece,
nosso lar é o inferno.
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
sabedoria
Sabedoria mesmo é valorizar a vida normal.
Sem glamour e sem dor.
Insossa, banal,
mas antes assim do que mutilada, artificial.
Dinheiro é bom mas não compra tudo.
Fama é bom mas não dura para sempre.
Sabedoria é conseguir conciliar as coisas
sem perder o prumo, sem se degradar.
Fazer da vida normal, o melhor possível.
"Ter sem deixar que o ter te tenha." (MILLÔR FERNANDES)
ferida sem cura
No rebojo de sentimentos que envolvem
uma separação,
tudo vem à tona, de bom e de ruim.
O desgaste é tremendo, em todos os sentidos.
E não é para menos.
A ruptura de nosso bem mais precioso
sempre deixa sequelas irreparáveis.
Ainda quando consensual, marcas sempre ficam.
No mínimo, questionamentos.
O que se fez de errado, o que poderia ter sido feito.
O tardio arrependimento por não ter feito mais.
Não ter valorizado mais, ou não ter desistido antes.
Ah, o custo da separação. O amor vilipendiado, sonhos,
as expectativas fraudadas transmutadas em ressentimento
e ódio.
Sequer um desfecho digno que console o coração,
eis a ferida sem cura da separação.
domingo, 16 de agosto de 2020
agruras
Entre as agruras normais do envelhecimento, nada é mais danoso do que a auto-desvalorização. Não só o sentimento de inutilidade, de insignificância, mas principalmente o de depreciação da vida passada, a propensão a achar que fracassou em tudo. Algo que pesa e transforma a fase terminal da vida num suplício ainda maior do que normalmente é.
Nem me refiro a natural degradação dos laços afetivos, quase sempre inevitável no transcorrer do tempo, o que por si só torna a velhice um inferno para muita gente. Quanto a isso, pouco ou quase nada se pode fazer. A grande e derradeira batalha - na qual por sinal me encontro empenhado -, é exatamente não ser seu maior inimigo. Não deixar que a auto-depreciação, o sentimento de fracasso, piore o que já é ruim demais.
sexta-feira, 14 de agosto de 2020
o pior ainda nem chegou
Por motivos óbvios, nunca se falou e houve tanta preocupação com a morte como atualmente. E não é para menos, com a dita-cuja rondando sorrateiramente por aí, na forma de um vírus que quando encasqueta, não livra a cara de ninguém, velho, novo, pobre, rico, da raça que for, é bem liberal o filho da mãe.
É realmente estranho, inusitado, viver sob o espectro de algo tão abrangente e preocupante, não só por tratar-se de uma experiência totalmente nova, que pegou o mundo desprevenido, como pelo fato de estar longe de ser eliminada, como se vê pela média de mais de mil mortes diárias só aqui no Brasil. O que sugere que a volta à normalidade ainda demore a acontecer, se é que acontecerá, considerando que o perfil da doença ainda não está devidamente mapeado, obrigando a manutenção de medidas preventivas por um tempo indefinido.
Como arcar e lidar com o custo disso tudo é que é o grande dilema. O cenário é dramático, e as consequências econômicas ainda estão porvir, em função da falência de mais de 600 mil empresas e 3 milhões de desempregados, segundo as estimativas mais recentes. Sem falar no já anunciado desarranjo das contas públicas, que levou o governo a cogitar o estouro do teto de gastos, por enquanto abortado, sem o quê não terá como manter o socorro emergencial à população e as empresas em dificuldade.
Ou seja, a morte ainda será preocupação diária por muito tempo. Com a diferença de que menos pela Covid diretamente, e mais por suas consequências junto a economia, e das outras enfermidades dela oriunda. Ainda mais se for confirmado que mesmo os curados estão sujeitos a desenvolver doenças em diversos orgãos.
Oremos.
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
VIDA LONGA AOS HIPÓCRITAS
Luta inglória, reverter sentimentos.
Recuperar aquilo que foi perdido.
Restaurar o amor, o respeito.
Como tudo que se quebra,
os sentimentos nunca voltam a ser como eram.
Inútil tentar.
Bobagem insistir.
O máximo que se consegue é um arremedo
tosco e insatisfatório.
Melhor esquecer, se conformar,
partir para outra.
É o certo a fazer.
Como conviver com alguém que te traiu,
que mente, finge ser o que não é ?
A menos que se aceite as regras do jogo.
Que todo mundo mente, finge, trai.
Todos, menos a pujante raça dos hipócritas, é claro.
Felizmente, a grande maioria.
Porque sem eles, a vida em comum seria
impossível.
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
o Deus do desamor
Não sei se a vida é errada ou o errado sou eu, mas estranho que Deus
tenha caprichado tanto no geral e acabasse perdendo à mão no arremate.
Ao criar o Homem, essa aberração que destoa em sua obra-prima.
A menos que tenha sido proposital, por mera diversão, para quebrar a monotonia
que as más línguas dizem imperar no Paraíso.
Não é à toa que o inferno parece bem mais divertido.
Não é à toa que o seu anjo dileto se rebelou, e que o próprio menino Jesus
debandou quando pôde, segundo o relato insuspeito do sublime
"Guardador de Rebanhos", de que Deus está velho, caduco
e pouco se importando conosco, simples mortais.
Ora, de fato, tivesse Ele amor pela humanidade, por que esse sofrimento todo,
essa cruz que carregamos desde o nascer ?
Não faz sentido.
O imperfeito ser humano não se explica, a não ser como um contraponto,
um apêndice, ou o mais provável, um rebanho para ser imolado ou para
louvar-Lhe os feitos.
O que eu sei é que Deus não é bom para quem ama.
Porque nos fez fracos, permissivos, promíscuos, de modo que cedo ou tarde
tudo estragamos.
Estragamos o amor, e ficamos com a dor, doenças, solidão.
Sabe-se lá sob quais critérios, poucos conseguem a graça de uma vida tranquila.
Ou estarei exagerando ?
Que Deus não se envolve, em função do livre-arbítrio ?
Pode ser, mas o diabo se envolve, e como !
Ok, são conjecturas toscas, não sou nenhum guardador de rebanhos
como o grande poeta lusófono, o que penso não importa,
sequer sei onde me encaixo, por que ainda estou vivo,
se em tese já dei o meu melhor, e a essa altura apenas gasto o tempo,
sem qualquer expectativa de dias melhores,
tampouco de amenizar meu fardo, me reabilitar
aos olhos daquela que hoje diz que preferia não ter me conhecido.
Tal o mal que lhe causei.
Eu só sei que Deus não é bom para quem ama.
Mais que no amor, é no desamor que Ele se encontra.
terça-feira, 11 de agosto de 2020
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
um peso, duas medidas
Por motivo algum e motivos vários,
sou a melhor e a pior das criaturas.
A mais digna e a mais vil.
Louvado e execrado.
Anjo e demônio.
O melhor e o pior filho, pai presente e
ao mesmo tempo ausente.
Amante fogoso e relapso.
O outro que existe em mim, afinal,
quem é ?
Sadio e podre,
o certo e o errado, numa só pessoa.
Ou alguém que foi sem nunca ter sido ?
A um só tempo, belo e sujo.
Incrível e sórdido.
Herói e psicopata.
Intenso e promíscuo.
Assim mesmo, aos olhos
de quem mais me conhece.
Há que se dar crédito...
Meu coração generoso e ardiloso,
mártir e algoz de si mesmo,
em paroxismos se diverte e padece.
Despojado de atrativos, às feras lançado,
julgado e condenado
sob um peso e duas medidas.
Eis como tenho sido retratado.
A um tempo triunfante e espicaçado.
Demiurgo de antigas fantasias, amado e
repudiado, fiz de mim um simulacro
do que deveria ter sido.
Dói saber
que quem mais me difama,
consta que um dia me amou.
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
terça-feira, 4 de agosto de 2020
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
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