último ato
Vem de longe o paradoxo em que me afundo.
Encurralado no círculo vicioso da vida, me desterro
do destino traçado pelo livre-arbítrio.
O espelho partido do tempo decifra a máscara definitiva,
prenhe de insólitos disfarces e provisórias certezas.
Pairando sobre as verdades que umedecem
a sobrevida sobranceira.
Meu breviário de desatinos apascenta o coração.
Madureço lúcido, lúdico,
hóspede do tempo,
passageiro do mundo,
liberto do amor que cresce para dentro.
Que importa se tudo é fugaz ?
Pensamos diferente mas somos os mesmos animais.
Pervagando sufrágios e presságios celestes.
O amanhecer sem futuro perscruta o repentino despertar,
para que o silêncio amoroso acolha
o souvenir das brevidades.
Meu ego em frangalhos encena o último ato nessa terra
que só fez amar-me.
Do bulício do mundo me aparto em paz comigo mesmo.
A solidão, a chuva e os caminhos percorridos ornamentam
meus últimos passos.
Para assim ser esquecido.
Como se não tivesse existido.