segunda-feira, 4 de março de 2019
chora menos, quem pode mais
no fim das contas,
tudo se resume ao dinheiro.
amor, amizades, alegrias,
respeito.
tudo em conta,
tudo precificado.
ter ou não ter, eis a questão.
pouco importa ser boa pessoa,
bem intencionado.
o que manda é o larjan.
sem preconceito.
sem cor, credo,
tanto faz a origem.
tanto faz como foi obtido.
se licitamente ou não.
dinheiro é dinheiro,
não compra tudo,
mas faz uma puta diferença.
o feio fica bonito.
o chato, agradável.
o velho sem dinheiro é apenas
um velho.
Com dinheiro, tem lá seu charme.
Um preto duro é apenas um preto duro,
mas com grana, tudo muda de figura.
portas e pernas se abrem,
tudo tem seu preço.
exceto o que não tem valor.
o que perdeu o valor
nesses tempos mercantilizados :
caráter, dignidade, honestidade.
coisas que não podem ser compradas,
posto que gratuitas, genuínas,
ainda que desvalorizadas.
sim, o dinheiro compra tudo.
corrompe, seduz, transforma as pessoas.
raramente para melhor.
pois nunca é suficiente.
quanto mais se tem, mais se quer.
muito mais do que se possa gastar.
e quanto mais se tem, pior se fica.
avareza, arrogância, prepotência,
são prerrogativas dos ricos.
dos poderosos,
cujo padrão poucos fogem.
assim como a sina do pobre,
afeito à humilhação,
privações de toda espécie,
e a servidão mal-disfarçada.
daí a luta insana pelo vil metal.
o vale-tudo pela subsistência.
pois hoje como sempre,
chora menos quem pode mais.
domingo, 3 de março de 2019
A FÓRMULA
Alegrias e tristezas
são como unha e carne.
Não desgrudam, irmãs siamesas.
Vão e voltam, em metódica simetria,
até que atitudes e o tempo rompam o pacto entrelaçado.
E a lei do retorno prevaleça.
Inútil tentar entender o porquê das coisas,
se nem a própria família em comunhão caminha.
Somatória do que não conseguimos entender,
mistura de genes, partículas, esperma,
o DNA nos define.
Ou não ?
Talvez o acaso, os astros, o meio ambiente, falem mais alto.
Ou um pouco de tudo.
A vida é o que é. Decifrá-la é perda de tempo.
Tudo muda muito rapidamente.
A morte ronda, traiçoeira,
mas quem deve morrer, não morre.
Porquê ?
De quantos perigos se livraram os conquistadores
que moldaram a fase da humanidade ?
O que explica a boa sorte dos facínoras
responsáveis por milhões de mortes,
aparentemente sob a guarda de deuses
sanguinários e vingativos ?
A forja da vida não tem lógica.
Ninguém escolhe seu destino, o destino é que nos escolhe.
Para o bem e para o mal.
Tarefas que somos forçados a executar.
Missões que somos obrigados a cumprir.
Por votos de insana obediência cega.
Quem pode se opor a mão pesada de quem julga e sentencia ?
Na grandeza humana embrutecida e falsificada,
só o conhecimento nos redime.
Entre alegrias e tristezas, nunca nos bastamos.
Incautamente, abdicamos dos bens mais preciosos,
o amor, a vida simples, família, amigos.
Nada aquieta o atormentado espírito.
A mão estendida se recolhe quando mais precisamos.
A compaixão não é mais do que um efêmero lampejo.
Os infortúnios alheios nos comovem, mas não nos
tiram da cômoda letargia.
Somos solidários até certo ponto.
Até o nível de nossa perdulária consciência.
Ser feliz, suprimindo-a, eis a fórmula.
O lema dos sociopatas...
terça-feira, 26 de fevereiro de 2019
O COFRE
De me enganar cansei, os grandes planos abortei
Nada do que planejei se concretizou
Nada do que sempre acreditei restou
Certezas nenhuma, só sei que nada sei.
Do que fiz na vida, pouco ou quase nada ficou
Tudo de bom se perdeu, se dispersou.
Tantas coisas relegadas ao sótão da memória
Invioláveis despojos de uma jornada inglória.
Caixas e mais caixas de guardados
Já sem serventia, testemunhas de tempos idos.
De momentos inesquecíveis, de entes queridos
Que serão para sempre lembrados.
Eis o mote. O norte a ser seguido.
Honrar o nome, o legado da família.
Inspirar-se no passado bem vivido
Não deixar o barco à revelia.
Uma parte de mim ainda sofre,
O calvário talvez nunca tenha fim.
Ainda haverá um tempo para mim ?
De achar a chave do cofre ?
Onde jaz não o que perdi, mas o que achei.
Não o que me fez sofrer, mas o que ganhei.
Não aquilo que quis ser, mas aquilo que sou.
Alguém melhor do que fui, que não desertou.
domingo, 24 de fevereiro de 2019
o túmulo do amor
Grandes questões, dúvidas e mais dúvidas
nos afligem.
Dilemas existenciais, uma infinidade de perguntas
sem respostas,
a escancarar nossa imensa ignorância.
Sobre tudo.
Mesmo sobre as coisas mais básicas.
A alegria, a felicidade, do que são feitos ?
Estado de espírito, como se diz ?
Efêmeras, longiperto bailam, zombeteiras.
Dispersas em momentos prazerosos.
Lapsos de tempo na crueza da vida.
A paz, a consciência tranquila como pré-requisitos ?
Nem tanto, nem tanto.
Descomplicar quase sempre é suficiente.
Apenas e simplesmente, relaxar.
Amar.
Namorar.
Viajar.
Ler.
Pescar.
Eventualmente pecar...
Há quem diga que o melhor da vida
ou é pecado ou faz mal.
Seja como for,
em tudo ou nada, muito ou pouco,
a escolha é nossa.
Nem por isso fácil,
Atrelada ao pandemônio dos sentimentos .
Incerta, instável, a felicidade vai e volta.
Às vezes vai e não volta.
Planta delicada, há que cuidar, regar,
ainda assim às vezes nem brota.
Morre antes de nascer.
Posto que a alegria está dentro de nós.
Mora no coração.
O endurecido, ressequido coração,
incapaz de perdoar, de se perdoar.
Que quando à alegria e felicidade se fecha,
Num túmulo do amor se transforma.
sábado, 23 de fevereiro de 2019
prisioneiros
Não cantarei hoje as dores passadas.
Arranquei-as da alma pela raiz.
Despojado de expectativas e julgamentos,
é como se eu sempre soubesse
da oclusão das graças alcançadas.
Da renúncia de quando se está descrente de tudo,
emerge a nova realidade.
Imerso no desumano desterro,
para além do amor tangenciado,
no espinho e na penitência reencontrado.
Do princípio de tudo a alma jamais se aparta.
Das origens, da família, barro do qual fomos feitos.
Do tempo que neutro fluiu, a noção de ter tido
emerge a nova realidade.
Imerso no desumano desterro,
para além do amor tangenciado,
no espinho e na penitência reencontrado.
Do princípio de tudo a alma jamais se aparta.
Das origens, da família, barro do qual fomos feitos.
Do tempo que neutro fluiu, a noção de ter tido
uma vida boa.
Quando resumida a ser filho.
Filhos... Anjos roubados do céu, pelos quais,
Quando resumida a ser filho.
Filhos... Anjos roubados do céu, pelos quais,
querendo ou não, seremos sempre responsáveis.
Pecado maior não há que negligenciá-los.
Sempre à purgar a pena de trazê-los ao mundo.
Fadados a seguir o mesmo pecaminoso caminho.
Transmutando-se, investindo contra a sombra,
desaprendido de ser o que era.
Feridos no amor e no labor, um a um os sonhos
Pecado maior não há que negligenciá-los.
Sempre à purgar a pena de trazê-los ao mundo.
Fadados a seguir o mesmo pecaminoso caminho.
Transmutando-se, investindo contra a sombra,
desaprendido de ser o que era.
Feridos no amor e no labor, um a um os sonhos
saem de nós.
Na afeição cega e na desordem dos sentimentos,
Na afeição cega e na desordem dos sentimentos,
de novo prisioneiros.
Sonhar, ai de mim, a restituição do amor perdido
num mundo novo em que a manhã tarda.
A mesa está posta. Os convivas ausentes.
Sonhar, ai de mim, a restituição do amor perdido
num mundo novo em que a manhã tarda.
A mesa está posta. Os convivas ausentes.
Todos se foram.
O filho que não fiz, que rosto teria ?
O filho que não conheço, que rosto tem ?
Ah, quanta culpa à expiar, quanto remorso
O filho que não fiz, que rosto teria ?
O filho que não conheço, que rosto tem ?
Ah, quanta culpa à expiar, quanto remorso
a envenenar a vida.
O dia perdoa, a noite condena.
Fingir que está tudo bem, eis a realidade possível.
Desabando sem gritar, arrastando os despojos
para fora do tempo.
Descobrir-se, enfim, em meio
Fingir que está tudo bem, eis a realidade possível.
Desabando sem gritar, arrastando os despojos
para fora do tempo.
Descobrir-se, enfim, em meio
a vacuidade de tudo.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019
procura-se
procuro alguém que me faça feliz
que me faça sorrir
que goste de sexo
e demore nas preliminares.
procuro alguém que me inspire
que goste da minha companhia
respeite meus gostos
entenda minhas manias.
procuro alguém que seja companheira
se interesse pelo que faço
que me incentive
e seja paciente com meus defeitos.
procuro alguém que me faça bem
que me faça ser melhor
sem forçar a barra
vendo sempre o lado bom das coisas.
procuro alguém que talvez não exista
que talvez só exista na minha cabeça
alguém que me faça feliz
alguém que eu já tive...
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