segunda-feira, 30 de novembro de 2020
domingo, 29 de novembro de 2020
natural que tenha acabado
Recordarás, ainda, de mim
tal qual me conhecestes ?
Seria eu, então, melhor
naquela época ?
Com o pouco que te oferecia ?
Ora, se mudei para pior, quem sabe
foi porque nossa relação me faz mal.
Assim como, pelo visto, fez à você também.
Mas, não nos culpemos.
Afinal, é o velho roteiro de sempre.
Finda a paixão, arrefecido o amor, que julgávamos
sentir,
acabamos por nos ver
como realmente somos.
Natural que tenha acabado.
O MAIOR PRESENTE
Tudo de bom e de gratificante na vida
passa pela possibilidade de fazer o que se gosta,
o que nos dá prazer.
O que as apreciáveis posses materiais e o dinheiro
nem sempre conseguem.
Como, por exemplo, a sensação de paz, de liberdade.
Não precisar dar (nem pedir) satisfações de seus atos.
Poder falar, pensar, fazer o que lhe der na veneta,
sem receio de contrariar, de ser mal-interpretado.
Tendo apenas
a própria consciência como juiz.
Poder ligar o foda-se,
e ir dormir leve como uma pluma.
Pode haver coisa melhor ?
Coisas simples, aparentemente fáceis de obter,
mas cujos obstáculos se agigantam
na proporção
das responsabilidades e compromissos
que estamos sempre à assumir. Voluntariamente ou não.
Afinal, ninguém vive sozinho.
Há regras, obrigações, imposições
das quais não se consegue fugir nem ignorar.
Que tendem a aumentar a medida que
formamos família, progredimos,
eventualmente galgamos a fama,
o sucesso e o dinheiro jorram.
Cujo preço, no mais das vezes, é o fim do sossego,
da paz,
da liberdade.
Dos pequenos prazeres que são o maior
presente da vida.
de ouro ou de merda
Há sempre muitos caminhos à trilhar.
Múltiplas escolhas.
Muitas maneiras de conseguir as coisas.
E de perdê-las.
Sob o áugure desse estranho mundo,
a um só tempo indulgente e temerário.
De vigílias e sevícias é o nebuloso aprendizado
que se impõe as misérias de cada dia.
Sobre o ontem e as perdidas coisas
esculpimos o amanhã de ouro
ou de merda.
sábado, 28 de novembro de 2020
o espelho partido
Em tempo percebi que há tarefas que
que jamais serão cumpridas.
Que o inútil esforço se desfaz diante do austero
breviário de desilusões.
Que paira como um espelho partido, deformando
o que foi perdido.
Alheio a conversão de todas as coisas.
Nunca se sabe qual o momento da mudança
irreversível.
Constatado que não há mais nada pelo que
valha a pena lutar.
Quando o amor não mais compartilhado se avilta
de tal forma
que nem o perdão se faz mais necessário.
quinta-feira, 26 de novembro de 2020
domingo, 22 de novembro de 2020
a sina dos deserdados
E se eu tivesse nascido aleijado,
deformado, pobre, preto, doente, mentalmente desiquilibrado,
largado, abandonado, sem um lar, sem uma família,
num buraco qualquer, num gueto, indesejado,
mal-amado,
maltratado,
como tantas crianças,
como a maioria das crianças,
que crescem sob as maiores privações,
sem acesso a nada,
estudo, saúde,
discriminados,
marginalizados,
sejamos francos,
quem poderia me julgar ?
Quem poderia me condenar
por não seguir as regras,
aos padrões vigentes,
impostos pela burguesia, pelos poderosos ?
Tive a sorte de ser bem-nascido, nada me faltou,
a vida foi generosa comigo,
o que me obriga a ser minimamente compreensivo
e tolerante
diante da excruciante sina dos deserdados.
Por mais difícil que seja, considerar os atenuantes.
Ninguém é ruim por acaso.
E nem todos são maus por natureza.
ninguém merece
ser feliz
para sempre
A minha melhor lembrança
é daquela tua alegria escandalosa.
Do teu jeito de fazer as coisas darem
certo, mesmo quando não davam.
A minha melhor lembrança é de como
nos bastávamos,
mesmo nem tudo sendo flores.
A minha melhor lembrança...foram tantas
que se tornaram banais.
Daí, talvez, não ter durado.
Ninguém merece ser tão feliz
para sempre.
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
DEUS ME LIVRE DOS AFETOS
Meus afetos me fazem mais mal do que meus desafetos.
É o preço que se paga pelo amor, pelo apego, pelos cuidados,
pelas preocupações.
No mais das vezes não correspondidos,
sequer valorizados.
E o pior é que não se pode fazer nada a respeito.
O que vai no íntimo de cada um, ninguém sabe.
Ninguém ao outro verdadeiramente conhece.
Nem mesmo os entes queridos.
Que são os que mais nos decepcionam.
As vezes sem culpa estabelecida.
Nós é que os superestimamos. Nos iludimos.
Eis porque rezo a Deus
para que me livre do jugo dos afetos.
Que dos desafetos me livro eu.
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
doce e singular servidão
Nem todo saber que perscruta o tempo incessante
é capaz de conciliar
as mais preciosas dádivas : amor e liberdade.
Amar é a mais doce e singular servidão,
posto que consentida.
Abre-se mão da liberdade, como no paradoxo do eleata,
em nome da ilusória doação incondicional.
Amor de entrega, que persiste, não obstante feito
de devoção e guerra.
Pois não há um instante em que não possa ir
do Paraíso ao Inferno.
Não há liberdade no amor.
Não há liberalidade no enleio amoroso.
Ninguém conhece o mapa da alma de uma mulher,
como já cantou alguém.
Como tudo na vida, da empolgação à decepção,
é só uma questão de tempo.
Tudo nos remete ao adeus.
O que nos parece divino, dura o tempo
que duram as fugazes magias.
Fazer durar em meio a tantos antagonismos
é como tatear às cegas.
Arriscando-se à tudo.
Sem certeza de nada.
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
expectativas
Não se iluda,
tudo o que é muito desejado,
depois de obtido,
acaba invariavelmente aquém
das expectativas.
Bens materiais nunca suficientes.
O amor que se revela um blefe.
Respeito e reconhecimento que só perduram
enquanto você for de alguma utilidade.
Eis porque da vida nada mais espero
além do que a vida pode dar.
Expectativas, zero.
Fé nas pessoas, zero.
Fé em Deus, bem, aí entra o benefício da dúvida.
Posto que de nada posso reclamar.
Além de ter nascido.
segunda-feira, 16 de novembro de 2020
domingo, 15 de novembro de 2020
Às vezes é preciso a vida te dar uma rasteira,
para você sair da zona de conforto.
Para saber quem é quem.
Pior do que a indecisão é não ter opções.
Sabedoria não é cultura, erudição, estudo.
É a arte de viver. De conviver.
O maior erro que se comete no amor
é achar que o que está bom para um, está para o outro.
O segredo da longevidade está no meio-termo.
As coisas só param de piorar
quando precedidas de uma atitude mental compatível.
Nas separações, a retaliação sempre é o pior caminho.
Principalmente quando envolve filhos.
Que são os que mais perdem.
c´est la vie
Ah, quantas tralhas carregamos ao longo da vida.
Verdadeiras cangalhas que nos tolhem, oprimem, mutilam.
Quase sempre insuficientes, incapazes de atender as severas
expectativas alheias.
Às duras penas,
venho aprendendo a lidar com o jugo dos sentimentos,
das cobranças e responsabilidades.
Sobretudo, aprendendo a ficar quieto no meu canto,
sem esperar nada de ninguém.
Ainda que o distanciamento machuque e magoe.
Não que isso faça diferença.
Ninguém se acha devedor ou em falta com nada.
Ainda que à base de pretextos e justificativas toscas.
Mas as coisas são como são.
Às vezes você não dá nada
e recebe tudo.
Em outras, é o contrário,
e até um pé na bunda acaba recebendo.
Ces´t la vie, como diriam os chineses.
sábado, 14 de novembro de 2020
o mar de Ulisses
Quem me dirá o que é certo ou errado ?
O que devo ou não devo fazer,
argumentos que me justifiquem perante os outros ?
A um só tempo, compreensivo e indulgente.
Sensatamente, em meio à selva de interesses
e mistificações ?
Ora, ao amor defenestrado impõem-se às misérias
de cada dia.
A sabedoria que há na falta de respostas
me redime.
No mar de Ulisses me perdi.
Esse incessante mar que no diário exercício da vida
sabota os esforços, destrói os sonhos,
sulca a areia infinita.
Alheio a nossa vontade.
tempestades
Depois que as tempestades passam,
a vida sempre se refaz.
Às vezes para melhor.
Às vezes precisa alguém te dar a mão,
te levantar do chão,
te chamar à razão.
Sozinho é sempre mais difícil,
deixar-se assim,
derivar a vida.
Esquecer as mágoas vãs.
As expectativas descabidas.
Deixar para trás o que não pode ser mudado.
Laços desfeitos,
tudo que amamos.
Amor que ao deixar de existir,
vê-se sem méritos, atrativos.
Como a flor e o fruto abruptamente
arrancados pela
tempestade.
sexta-feira, 13 de novembro de 2020
a nova realidade
Viver não é mais preciso.
Séculos de História reduzido à fábulas.
Basta simular, projetar, fantasiar sob estímulos alheios.
Amamos, copulamos, matamos e morremos
sem sair de casa,
no âmbito de uma telinha mágica.
O próximo passo - a inteligência artificial -
recriará o Genesis.
O homem como deveria ter sido.
Sem a tutela de Deus.
Cuja invenção nunca deu certo.
Nem do homem, nem de Deus.
quinta-feira, 12 de novembro de 2020
polifonia
Tanta exuberância, tanta abundância, tanta
diversidade,
e o planeta não existiria sem o labor
anônimo da minúscula abelha.
Tanta prosápia, tanta bazófia, tanta jactância,
e o homem não é capaz de conviver
em paz e harmonia.
Tanto querer, tanto empenho, tanta devoção,
e nem assim o amor
resiste as armadilhas do tempo.
terça-feira, 10 de novembro de 2020
vida bizarra
Sou apenas um homem só
"que sonha que alguém o sonha".
Sei que para ti sou apenas um eco,
alguém que deixou de ter qualquer mérito ou
atenuante.
No entanto, folgo em constatar,
nem todos pensam assim.
Ah, vida bizarra, em que são os estranhos
que te dão mais valor.
Se essa é a lei da vida, não sei.
Só sei que aos olhos de quem mais amei,
um inimigo me tornei.
segunda-feira, 9 de novembro de 2020
domingo, 8 de novembro de 2020
outros olhos
O que vês em mim, que tanto te espanta ?
O que vês agora, que já não vias antes ?
Talvez com outros olhos.
Não, não fui eu que mudei.
Sou o mesmo que conhecestes, de longa data.
Fraco, falho, promíscuo ( como dizes ).
Tu que mudaste.
Tu que abriste os olhos
para o que antes não vias.
Para aquilo que o amor escamoteava,
não te deixava ver.
sábado, 7 de novembro de 2020
houve um tempo
Houve um tempo maravilhoso na minha vida,
em que eu tinha tudo, era feliz
mas não dava valor.
Por falta de sabedoria.
Envelheci.
Perdi quase tudo que tinha.
Mas não vou cometer o mesmo erro.
Descobri muitas coisas.
Redescobri outras tantas.
E sobretudo, saber valoriza-las.
Mesmo as mais simples.
Como uma boa noite de sono.
Acordar sem dor.
Reparar na paisagem, nos detalhes,
nos pequenos prazeres.
Como um prato de feijão bem temperado.
O valor de um abraço.
Deixar a emoção fluir, sem vergonha de demonstrar,
assumir as culpas,
não querer ser a palmatória do mundo.
Encarar as privações e provações
não como castigo,
mas como degraus a mais
para o crescimento espiritual.
Perdoar-se,
para poder perdoar.
Porque o perdão faz mais bem
para quem perdoa
do que para quem é perdoado.
quinta-feira, 5 de novembro de 2020
quarta-feira, 4 de novembro de 2020
terça-feira, 3 de novembro de 2020
segunda-feira, 2 de novembro de 2020
rompantes
Há defeitos que anulam qualquer
qualidade.
Irascibilidade e impulsividade, por exemplo.
Não adianta ser bom, honesto, bacana,
responsável,
se for pavio curto,
não ter autocontrole.
Falo de cátedra, perdi a conta de quantas
vezes me prejudiquei, pus tudo a perder,
em função de rompantes, explosões impensadas.
Ainda hoje, minha grande luta continua
sendo contra mim mesmo.
Não sei se há esperança para mim.
o horror tem a idade do mundo
O horror das guerras
O horror dos massacres indiscriminados
O horror dos campos de concentração
O horror da miséria, da fome
O horror das doenças
O horror das prisões
O horror dos hospícios
O horror dos hospitais
O horror dos asilos
O horror das torturas
O horror das drogas, dos vícios.
O horror das perdas estúpidas,
dos atentados, da violência gratuita,
O horror do abandono, da solidão...
Ninguém está imune aos horrores
da vida.
São recorrentes, inevitáveis.
Um dia, sempre batem à nossa porta.
Do nada.
Ou de tudo.
O horror tem a idade do mundo.
domingo, 1 de novembro de 2020
o rei está morto
Trocando em miúdos,
ninguém joga fora
uma vida relativamente satisfatória,
relativamente confortável,
a troco de nada.
Sem motivos fortes.
Normalmente, gostar de outra pessoa
ou pura e simplesmente,
deixar de gostar.
Em qualquer um dos casos,
não há nada à fazer.
O rei está nu.
O rei está morto.
Viva o rei !
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