a fuga da fuga
Sempre há tempo, enquanto há tempo.
De aproveitar cada momento ( como se
não houvesse amanhã ?) há tempo.
Antes que se perca a autonomia, há tempo.
Tempo para vivenciar o ofício e os dotes.
De cantar o prazer das coisas simples.
A luta leal e destemida.
A mágica das semeaduras.
As bençãos que consolam.
As palavras de quase amor.
As singraduras do perdão.
As cores da aurora.
O galo que perdeu a hora.
O castigo que não veio.
Os gestos que redimem.
O ganho inesperado.
O orgulho de quem não se curva à indignidade.
As contradições renovadas, em prol da lucidez.
O enjoo da vida doentia.
A fuga da fuga.
A mocidade morta, porém nunca extinta.
Sempre há tempo para tudo.
Enquanto há tempo.
O último dia ninguém sabe.
O que não se ganha, apropria-se.