poema que nem poema é
Há laburnas, colunatas louras,
enxame de mãos africanas,
fardos para carregar,
ataúdes de anões,
turbas romanas.
Vestidos lunares, véus funerários,
deuses provisórios, sílabas inteligíveis.
Há o preto e o escuro, convém não confundir.
O preclaro e o austero. A grade trancada,
fontes de mel.
Há o cavalo com cor de ferrugem.
Pequenas franjas sangrentas.
A ferida e a gangrena. Bocas sedentas.
Metais ardentes.
Mágoas de Deus. Lençóis opressivos.
Enxames de moscas novas.
Pinhas de abetos.
Qualquer coisa para lembrar.
Vestes e afagos.
Há oferta e comprador.
Feldspato e cristais apodrecidos.
Ondas de juníperos.
Calafrios da noite. Rijas almas corrompidas.
Há cordilheiras de granito.
Serpentes prateadas. Relvas crestadas.
Carne tostada sobre pedras.
Bocetas de jovens prostitutas.
Cassetetes e coronhadas.
Há sobreviventes.
Nossas vidas.
E esse poema
que nem poema é.