segunda-feira, 12 de maio de 2025



Deve-se perdoar quem nunca pediu perdão ?

Deve-se desculpar quem nunca se desculpa ?

Deve-se amar quem não sabe retribuir ?

Deve-se ser bom com quem não merece ?

Que apreço merece o ingrato, o egoísta, o narcisista,

o sociopata ?





                remoendo silêncios



Tudo se cumpre ao sabor dos acasos e descuidos.

Tudo o que tenho, o que faço ou fiz,

vive se equilibrando

remoendo silêncios

colhendo rosas de fogo

compondo cenas de amor que pedem bis.


Busca-me um instante de calma

em meio as escaramuças e paroxismos de praxe.

Na vida sem justiça, sem amor,

sonha-me o refúgio dos pássaros, 

a paz dos muros de cercas eletrificadas.

Busca-me o que restou de mim

entre canteiros de aprazíveis oferendas.

Regozija-me o vago transitar das coisas fungíveis.









                    o canto do cisne




Perdi o amor verdadeiro algumas vezes.

Hoje me contento com qualquer quebra-galho.

Nunca estive pronto para amar.

Sempre pus tudo a perder.

Todo amor que dei

me fez mais mal do que bem.


Agora não me arrisco mais.

A menos que encontre alguém que sofra

por mim.

Meu coração cansou de sofrência.

Depus as armas da beleza.

Foi-se o tempo de escrever poesia, das bebedeiras,

dos rompantes.

Hoje quero paz e calmaria.

Amargo meu calvário amoroso 

como um santo devasso. 

Enquanto ensaio meu canto do cisne.



sábado, 10 de maio de 2025




janela para o nada







Às vezes me pego

pensando nela.

Sem querer, querendo.

Porque as lembranças de um 

grande amor

com o tempo superam a raiva.

A longo prazo tudo arrefece.

Amor e ódio.

Ódio e amor.

Forças antagônicas que se misturam,

acabam se neutralizando.

E o que sobra é um misto de mágoa

e melancolia que

não consta no dicionário.


Desde que te perdi, minha vida é uma janela 

para o nada.

De onde me refaço contemplando

o inexistente.

Meus dias, feras enjauladas, tateiam a superfície

dos sonhos desfeitos.

A nova realidade  se redescobre pouco a pouco,

entre iluminuras e novos afetos.

Precisei desaprender tudo o que sei

de mim, para refazer meu caminho.

O mesmo caminho, porém com um novo jeito

de andar.

Mais precavido e perto dos meus longes.



quinta-feira, 8 de maio de 2025



                       fogo amigo 



Dor que não dói

Fogo que não queima

Querer que não satisfaz

Fome que não sacia

Vontade que não passa

Sempre querendo mais e mais.


Cansaço que não cansa

Doçura que não enjoa

Paz que não acalma

Saber que não basta

Apego que não esmorece

Sempre querendo mais e mais.


Desejo que não evola

Gostar que não se controla

Sonho que canta em voz alta

De tudo é capaz

Deslumbrado e corrosivo

Desconhece limites

Cuida, maltrata,

faz e desfaz

Sempre querendo mais e mais.


Remédio sem bula

Ultrapassa a beleza

Trapaceia com a sorte

Costuma ser lindo enquanto dura

Mas também um inferno quando acaba.

Amar é para os fortes.



domingo, 4 de maio de 2025


                  amor sem disfarce





A gente já devia saber,

mas estamos sempre pagando para ver. 

A busca pela felicidade é infinita e sem esperança.


Ah, quantas vezes os desejos

que a alma precisa e a vida nega,

passam como o voo de um pássaro.

Ligeiro, incerto, abscôndito.

Te amar me alegra e me entristece.

Por não ter nada além de tão pouco.

Desolado por nunca ter tido um amor

sem disfarce.


Gosto do teu jeito arrevesado.

Do teu ar melancólico e reticente.

Que me faz querer protegê-la,

abraçar como se abraça uma criança.

Gosto do teu jeito de falar, de andar, de sorrir.

Gosto de te ver quanto te vestes,

e mais ainda quando te despes.

Que é quando te tenho

como se fosse só minha.


 


sexta-feira, 2 de maio de 2025


                     o esplendor dos dias felizes





A imaginação nos engana, nos trai.

Mas o que seria da vida 

se não pudéssemos imaginar, sonhar ?

Olhar para dentro de si 

e ver outro mundo, além da realidade.

Feito de devaneios e encantamentos, à beira da loucura.

Orbitando entre a graça e a beleza, 

cortejando o certo e o incerto.

Que se arrisca num embate com a razão.

Para que o que habita o coração,

não se perca em vão.


Ah, a imaginação e seus insondáveis arbítrios.

A cada fase da vida reverbera.

Arde em desejos proibidos.

Submerge e ressurge entre ir ou ficar.

Entre amar e desamar.

No núcleo do ser, entre a euforia e a fadiga,

mistura-se ao mundo numa entrega de sonhos.

Regendo incontáveis sinfonias.

O esplendor dos dias felizes.




quinta-feira, 1 de maio de 2025


                         os sinais advertem



A hora da verdade sempre chega.

Os sinais advertem. 

O amor engana.

Com o tempo, ou vira amizade,

e tudo sobrepuja,

ou vira a coisa mais suja.


Risonho, amargo, triste, 

refaz a trajetória

no vai e vem dos semblantes.

Usurpando o germe da beleza. 

Com o rabo entre as pernas.


Sinais de cansaço com o tempo

afloram aqui e ali.

Ninguém está livre nem imune.

Quando se faz concessões demais,

achando que vão reconhecer,

fique certo, 

nenhuma boa ação

fica impune.





                             metamorfoses





Nada mais difícil do que ver o mundo

pelos olhos dos outros. 

Medir, sentir, sopesar sob o mesmo prisma.

Arguir silêncios e astúcias.

Absorver toda forma de vida como se fosse única,

una, unívoca. 

Entender as razões alheias, por mais absurdas 

e estapafúrdias.

A fim de elaborar um entendimento exato e seco.


Ver o mundo pelos olhos dos outros.

Para entender seus motivos.

Para ser múltiplo e indivisível.  

Abrangente no presente inconcluso.

Complacente no passado impreciso.

Sobranceiro como um corpo de baile.


De dentro, por dentro, as palavras sem ventre

inventam o lusco-fusco da noite,

as bordas dos penhascos,

os cascos surdos

de todas as coisas que habitam a véspera.

Que doce alento o inexistente abriga ?


A transparência dos dias segrega os recessos da vida.

Inoculada de secretas possessões.

O aparato sem sofisticação de acontecimentos inadiáveis

engendra a gênese das palavras.

Tudo se perde e se desfaz na roda-viva da convivência.

Metamorfoses são sempre bem-vindas.

Para que possamos ver o mundo pelos olhos dos outros.



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